31 de dez. de 2012

Nos trilhos de trem

Pensei em escrever. Nao sabia se eu escrevia. Comecei mais um dia como sendo eu. Vi fotografias. Notei o sorriso das pessoas. Lembrei que a vida passa. Respeitei minhas manias pois elas fazem que sou eu. Andei por trilhos imaginarios, lembrando o trem que eu peguei. Parei na esquina da rua, como paro nas esquinas da vida, para comprar sorvete. Este eh e sera sempre o meu ato mais carinhoso para comigo mesma. Enquanto isso, fui prestando atencao na arquitetura que compunha as ruas desertas e quase tive um momento de extase. Sonhei acordada. Gritei o seu nome. Lembrei das nossas memorias e as contornei com caneta colorida, mais uma vez. Depois sentei em um banco da praca, notando as pessoas sem olhar, e fui distraida pelo grito das criancas. Nao sei bem qual o meu sentimento para com criancas. Mas voltei ao pensamento e encarei o livro. O livro era um muito especial, que a minha irma havia me emprestado com toda dedicacao. Li paginas mas, principalmente, tomei notas. No caminho que tomei para voltar nao sei pra onde, vi pais brincando com seus filhos e uma casinha solitaria de cachorro. Pensei ate em roubar o cachorro para mim, mas eu nao teria onde colocar. Os brinquedos espalhados pelo caminho. As folhas caidas nas ruas. As portas fechadas que faziam das casas contos de fada. Os modelos de portas e janelas que nao me agradavam. As historias que aqueles edifcios contariam... onde eu fui parar?

30 de dez. de 2012

Que ar doce

Que cheiro doce tem o ar as vezes. Enfim percebi minha mania de cocar a perna direita. Ha quanto tempo nao durmo do lado "contrario" da cama - desde que eu era pequena! As pessoas vao e vem. Assim sera comigo tambem, que serei apenas mais uma. Enquanto isso, presto atencao em tudo o que esta pintado de azul, por algum momento. Pegar onibus a vida inteira as vezes foge do meu pensamento. Estou sentindo muito ultimamente. Dividindo as sensacoes com o ar - nao falei que ele anda doce? Me pergunto para onde ele esta soprando - espero que para o Norte, espero que para voce. A vida eh feita de tantas coisas que, vez ou sempre, a gente se perde nela.

27 de dez. de 2012

Pensando bem

Seria uma borboleta. Para a mãe dela, pelo carinho. Para os outros, por causa da asa. Para o pai, por ser ela mesma. Para as irmãs, como inspiração. Para si, para voar.

Seria colorida. Cada cor, cada dia. Cada cor, cada humor. Cada cor, cada tom.

Estivera cansada das coisas que se repetiam. Quisera ter controle sobre o tempo, principalmente no que diz respeito ao período de chuvas. Quisera manter segredo só para fazer surpresas. Quisera ir e deixar. Quisera rir. Quisera gargalhar e não ligar para mais nada que não valia a pena.

Mas o telefone não parava de tocar. Embora nenhuma daquelas ligações fossem para ela. Fizera planos, então, como em um filme de ação, onde o complô era não atendê-lo. Desligá-lo daquela tomada escondida na parede que todos notavam. Assim teria-se uma solução. Parecia tão fácil.

E se tudo fosse tão fácil, tudo teria solução. Neste momento pensava que não teria graça, assim dessa forma. Mas então lembrara-se que na próxima vida-não-se-sabe-onde, ela teria controle sobre o tempo. E, assim, poderia escolher entre saber ou não, entre prever ou deixar acontecer. Bastava querer.

E se a vida fosse assim tão escancarada, pensara ela, como seria chata. Mas seria, pelo menos seria - será?

23 de dez. de 2012

Pensamentos em palavras

Pensara em comer até estourar. E sabia que depois morreria de arrependimento. O filme que assistira a fizera feliz, pois ensinara história, risadas, ironia e vigança. Não pensava em se vingar, pensava apenas no dia em que a justiça seria feita. Gostaria que tudo estivesse certo, mesmo sabendo que há muita coisa errada da qual nada pode mudar. Desistira de algumas coisas, pessoas e pensamentos. Às vezes, tinha preguiça de caminhar. Seu amor por fotos ainda continuaria e a impressão que tinha era de que todas elas haviam sido arquivadas em algum lugar do seu coração. Existia ainda o amor pela cidade. E isso te trazia o desejo de pinturas, de quadros a enfeitar a sala, estudar arquitetura, usar a irmã para desenhar idéias e caminhar no meio-fio de um passeio coberto de neve em direção ao bairro favorito. Enquanto isso, prestava atenção nas casas pelo caminho. De repente, desejou tanto ter uma parede vermelha. Mas deixou para depois. Ficava sempre a adiar as coisas, como clandestina que era ela. Pensava em ir embora. Mas pensava mais em quando isso aconteceria. Poderia ser agora. Já sentia saudade da irmã. Enquanto isso, planejava consigo mesma como faria para administrar a falta que ela iria fazer. Se eu pelo menos fugisse, pensava ela. E um dia como o outro acabava mais uma vez...

17 de dez. de 2012

Report

Em um dia qualquer, vou para a cama sem saber o que me espera no dia seguinte. O que me espera é sempre esperado ou é surpresa.

Uma manhã na cama, ao lado da minha pilha de livros. Sempre os olho nos olhos e me vejo perdida - qual escolher para ler? Pego aquele que me diz logo o que preciso ouvir - o diário da minha escritora favorita. Depois de 5 minutos, tudo parece fazer sentido e o mundo é redondo de novo.

Uma tarde de domingo segue com documentário sobre um assunto desses que eu gosto e anotações. Por falar nisso, preciso passá-las a limpo. Lembro do meu quarto em uma cidade oriental. E das janelas e das cortinas. Ao mesmo tempo que sinto saudade, sinto um aperto no peito. Sinto que aqui estou protegida. E que fui salva por dois amigos muito gentis.

Segue-se com o passar do tempo e aquela amiga que veio de longe e continua a morar longe, embora esteja sempre perto, aqui dentro do meu coração. Conversa vai e vem. Drama. A bolsa que ela comprou. O vestido caro que comprei. Meu arrependimento em gastar tanto dinheiro. A alegria dela com o bom negócio. Frases de efeito que devo anotar para rir agora, depois e sempre. Ela sempre me faz rir. Sempre assim tão inocente.

Mais a noite experimento a doçura. Ela vem por meio da voz de uma amiga que também mora longe. Dividimos experiências e quase entro em seu quarto, que vejo por meio da tela do computador. Sempre bate a saudade. Acho que vou viver de saudades - será sempre assim. Um pouco eu.

A verdade é que eu nem queria dizer muito. Queria mesmo é tirar de dentro de mim e pôr aqui. Pronto. Assim começo, vazia para mais uma semana, onde guardarei tudo dentro de mim até transformar em escrita.

Enquanto isso, vive-se a vida.

7 de dez. de 2012

Perigo em palavras

Meu coração trapaceou, pegou carona na esquina, colocou máscara de Carnaval e saiu na rua a sambar. Disse que voltaria logo, que todos os dias são datas comemorativas e que eu deveria parar de ser essa menina séria. Pacotinho de pipoca na mão, cheiro de amendoim no ar e ânsia de vômito - claro, esse seria o resultado.

De todos os dias que passaram, ficará aquele ao qual não dei muito importância. Este, será agora lembrado para, mais tarde, ser esquecido. Esse, que nenhuma diferença jamais fez. Veja como as coisas são, na verdade, percepções. E como tudo não passa de vontades. Veja como vemos as coisas, como as deturpamos, como acreditamos sem crer.

Tudo isso falo agora com o estômago embrulhado em palavras embrulhadas, pois não soube abri-las. Queria ter controle sobre elas quando, na verdade, elas me controlam totalmente. Odeio palavras. Odeio porque amo-as. Palavras são sentimentos que deixam de ser abstratos. Palavras são acasos que tornam-se fatos. Palavras são estimativas que tornam-se certezas. Palavras são sopros ao vento. Palavras são armadilhas, amigas, companheiras e, sobretudo, controladoras. Palavras são o que sentimos no momento.

Eu poderia transformar em palavras quase tudo o que vivi na vida. Algumas vezes, no entanto, não quero ou não consigo. Outras vezes, me recuso. Guardo tudo como sentimento, vivendo aqui dentro do peito, mantendo a característica "intocável" da coisa. E isso quer dizer que ela jamais será mudada.

Sim, palavras mudam. Palavras dão toque duro aos sentimentos. Palavras expõem o que há dentro da gente. Palavras não nos deixam esconder aquilo que não queremos mostrar. Palavras são dignas da verdade e é assim: toda vez que se fala, ainda que seja uma mentira, a verdade estará correndo grande risco de ser exposta.

Por isso, guarde-se. Por isso, preserve as palavras. Por isso, faça uso das palavras belas mas, principalmente, das sinceras. Porque tudo, no fim, torna-se verdade. Porque no fim das contas e no fim do mundo tudo cairá por terra, aquele mural de escola de criança será rasgado em pedacinhos e as cortinas de todos os teatros de todos os lugares serão abertas. E a cortina do espetáculo da vida, essa jamais irá se fechar.

Tudo é um mistério mas nada passa de um at a glance.

4 de dez. de 2012

e

Quero assistir filmes ate cansar e ate passar muito tempo e ate ter assistido todos e ate entender tudo de cinema e ate me lembrar de tudo o que um dia aprendi e ate saber as falas dos personagens e ate meu travesseiro ficar marcado com meu corpo e ate eu aumentar o volume e ate eu voltar aquela cena em que nao entendi nada e ate eu deixar que passe despercebido e ate minha avo me mandar mais travesseiros e ate o tempo passar e ate os dias nascerem de novo e ate a noite escurecer e ate que eu enjoe de pipoca e ate que eu guarde tudo o que assisti aqui dentro de mim e ate que os atores se tornem gente de verdade e ate que os minutos facam diferenca e ate que os diretores falem ao publico e ate que os filmes acontecam na vida real.

3 de dez. de 2012

A vida é patética

E a vida é assim, como desses fatos que despistamos mas não podemos negar:

patética como um molho de salada; patética como um dia chuvoso em parque; patética como comida que engorda; patética como pinturas descoradas pelo sol - esse chato!; patética como pirulitos; patética como fotos que não saem boas; patética como chegar no restaurante e encontrá-lo fechado; patética como uma latinha de refrigerante; patética como ficar resfriada no feriado; patética como aquele monte de folhas que a gente junta para, no fim, só ter trabalho.

A vida é patética como os tons de cinza, como passeio sujo de terra, como uma lata de sardinha. A vida é patética como um jornal dos classificados de domingo, como um passeio limpo após a chuva, como um motorista com freio. A vida é patética como quando o céu fica claro em tom azul anil; patética como pão de queijo de padaria; patética como consultórios médicos - todos tão iguais!

A vida é patética como risada de criança, que sempre acontece sem hora ou lugar; patética como a opinião alheia; patética como cheiro de alho e ainda mais patética do que canos de água a enfeitar banheiros.

A vida é patética mas mesmo assim vale a pena.


2 de dez. de 2012

Voce estava la

Entao cheguei em casa a noite e eu, num momento so meu, olhei no espelho, vi a menina que fui, a menina que sou e, quem sabe, a que serei. E vi voce. Voce estava em um lugarzinho la, seja no passado,  no presente ou no futuro, estava la. Resolvi te guardar, como quem guarda joias em uma caixinha. Eu, para falar a verdade, nunca gostei de joias e sempre pensei que, assim, o lugar delas entao seria mesmo em uma caixinha. Por isso, mudei os planos e o guardei dentro do bolso. Dentro dos bolsos de todos os vestidos que usei e ainda tenho e terei. Porque adoro vestidos e adoro bolso. E amo vestido com bolsos.

Pensamentos que vem e que vao

Estaria ela deixando de se abracar para ser abracada? Vivendo o percurso da montanha russa como se estivesse, de fato, naquele carrinho? Mudando o cabelo so para experimentar? Estaria ela dando adeus a si mesma?

Quem sabe o nome disso era reinventar. Ja que somos resultado do meio em que crescemos. Quisera eu nascer de novo quando essa vida acabasse, num mundo novo, como no livro. Admiravel mundo novo, aqui vou eu.

Lembrara dos bichos da montanha, do museu ao pe da estrada, do frio que fazia, da distancia que percorria. Guardara as lembrancas de um passeio pelos alpes, de um lago que todo inverno congelava, das rodovias em curvas daquele seu estado americano do oeste.

Pensava ela que o mundo era redondo e por isso girava apenas uma so vez. Algumas coisas voltavam, eh verdade, mas isso chamava-se acidente de percurso. Entao pensara que acidentes podem nao ser ruins. Veio agora uma imagem de algodao doce - logo nela, que o achara tao chato!

No parques de diversao que estivera na vida, la resolvera ficar. Viveria para sempre como em um, toda vez que quisesse, como que a escapar. Enquanto isso, as noites eram todas azuis, o homem perguntava se sua cor favorita era preto e ela respondia que nao, que era azul, pensando que todo mundo ja deveria saber a essa altura. E, ao aproveitar o percurso, dirigia em um carro que nao era seu, embora pudesse tomar o controle nao so do carro, mas da situacao.

Sozinha na rua, voltava para si, observava janelas com jardineiras e se perguntava qual era o significado daquilo. Enquanto andava, tomava notas e se deixava experimentar de novas situacoes que ficariam escritas em seu caderno. Com dedicacao, tomava cuidado para nao perder suas canetas, que eram muitas. Escrevia em tudo quanto eh lugar, desejando ser um dia membro de uma gangue de pixadores. Assim, pensara ela, nao so esse dia mas toda a minha vida ficariam escritos para sempre.

30 de nov. de 2012

Te dedico

Te dedico. Te dedico o lapis que contorno meus olhos pequenos, meu sorvete de sobremesa, as tardes vazias de domingo, o cheiro de gasolina que tanto gosto, a surpresa que alegra a alma, a perca da nocao de tempo, a viagem para uma cidade no oeste, a marcha do carro que me da a sensacao de controle ao dirigir.

Te dedico o inverno branco e gelado, te dedico seus bracos abertos a esperar por mim. Te dedico o seu calor que vira me aquecer, te dedico ja sabendo que ele eh meu. Te dedico a cereja do bolo que eu nunca como mas continuo achando especial. Te dedico minha colecao de mapas. Te dedico todos, todos, todos os passos que eu dei.

Te dedico as bugingangas pequenas e baratas que compro, pois sei a importancia que elas tem. Te dedico almoco em cantina da faculdade. Te dedico minhas revistas com reportagens historicas. Te dedico todos os barquinhos de papeis que custei aprender a fazer. Te dedico minha escrita, minha letra, minha leitura e minha memoria. Te dedico minha cor favorita, sabendo que ela se parece muito mais com o seus olhos do que com os meus - vai ver eh por isso.

Te dedico jornais de banca que serao descartados, te dedico as fotos que eu bati e que foram todas para voce. Todas.

Te dedico museu, te dedico ponte, te dedico cheiro de chuva. Te dedico arvores, porque as adoro. Te dedico tambem portas e janelas, e o meu desejo secreto e contido de ser uma arquiteta. Te dedico o meu olhar. Te dedico o brilho labial caro e vermelho que eu comprei na epoca de Natal sem voce por perto. Te dedico tambem meus labios. Te dedico minhas maos, minhas unhas que recebem elogios e ate a minha cor do esmalte. Te dedico e por isso pinto-me para voce. Tomara que perceba.

Te dedico a noite fria, o predio da faculdade, as artes, as noites em que se vive como adolescente e, principalmente, as noites em que vivemos como nos dois.

Te dedico dias de chuva - os meus favoritos! Te dedico casas historicas e abandonadas. Te dedico passeios de bicicleta e meu livro de poemas que guardo para que as poesias nunca sejam todas lidas. Te dedico lojas baratas, pizzarias e bares. Te dedico a travessia de uma ponte e o vento que bate e bagunca meus cabelos. Te dedico entao meus cabelos, jamais bonitos como os seus. Te dedico meu idioma, meu sotaque e minha mania em esquecer as palavras - te dedico, principalmente, essa minha mania de esquecer palavras: devo-a a voce. Te dedico o que nao se esquece porque marcado esta. Te dedico aquele monumento de esquina. Te dedico e contigo divido, sem ciumes, minha escritora preferida.

Te dedico minhas aulas, porque as amo. Te dedico materias da faculdade. Te dedico aquela aula que visitei. Te dedico maos dadas e banheiros pixados. Te dedico chicletes de menta e cartazes no caminho. Te dedico bebidas alcoolicas e detalhes de uma calcada. Te dedico folhas brancas e as folhas que te escrevi. Te dedico todos os cartoes que te escrevi porque a ti foram dedicados. Te dedico minha falta de paciencia e meu mau humor zangado quando estou com fome. Te dedico meu sono, te dedico dormir com voce.

Te dedico visitas a farmacia por falta do que fazer, compras em supermercado porque isso eh dividir, duvidas existenciais e meu discurso contra o governo. Te dedico minha indignacao com a posicao politica que determinado pais tomou no cenario internacional e dedico, assim e a voce, tudo o que eh internacional.

Te dedico meus pes inquietos, meus dedos procurando os teus. Te dedico banheiras e duxa fria no final. Te dedico aventuras, segredos, brigas e pazes. Te dedico um espelho de banheiro. Te dedico uma pia cheia de vasilhas porque sei que voce vai lavar. Te dedico uma mesa de canto, um abajur velho e uma pilha de coisas sem valor que significam afeto. Te dedico tambem as cortinas.

Te dedico minha cama. Minha coberta no tempo frio e no tempo quente. Te dedico minha temperatura e meu temperamento. Te dedico cozinhar, quando nem sei. Te dedico telefonemas. Te dedico o sol, esse so para voce. Te dedico a lua, que me lembra voce. Te dedico meus sapatos, pois nao me apego a eles. Te dedico meu suco preferido que no seu pais nunca ira existir - so no sabor que ficou. Te dedico caminhadas. Te dedico onibus. Te dedico estrelas em um ceu escuro, distante e profundo. Te dedico um ponto de interrogacao e um coracao em desenho. Te dedico um biscoito de padaria com escritos romanticos. Te dedico o quanto que eu aprendi!

A voce, eu me dedico.

Maritima

Que estamos todos no mesmo barco. Que, embora em compartimentos diferentes, iremos todos para o mesmo local - nem que seja apenas no fim. Que de um lado o mar eh mais azul do que o outro. E que assim vamos, juntos, ainda que separados. E separados, ainda que juntos. Como num navio, pois este eh o barco chamado vida, cada hospede recebe o que lhe vem.

Assim vamos. Vamos todos. A viagem, o percurso, eh o grande diferencial porque o destino ... o destino, meu caro, custa pouco. Acontece num piscar de olhos.

Enquanto isso as ruas sao compridas, o tempo eh longo, a caminhada eh longa, os dias sao todos azuis com tons de cinza vez ou outra e a viagem segue seu rumo.

25 de nov. de 2012

Sou assim

Coloco o computador em cima do pe, vez ou outra. Como muito, de uma vez. Sempre sinto falta de sorvete. Mexo no meu cabelo, mas so do lado esquerdo. Meus pes sao inquietos. Minhas maos, vez ou outra, ganham vida propria. Adoro sentir frio mas so tomo banho quente. Sempre vou preferir lavar vasilhas a qualquer outra atividade, embora as vezes tenha preguica. Paro e penso, penso e paro. Alguma comidas, que nao combinam com ketchup segunda a sociedade, so me servem se combinadas com ketchup. Picole sempre sera um desperdicio ao meu ver. Apenas dormirei coberta, enquanto eu puder dormir. Minha cor favorita nunca muda, me foi dada quando nasci e combina muito comigo. Dirigir correndo tambem eh jeito, acho que adquiri do meu pai. Nunca me cansarei de estudar Historia porque esta sempre se repete e nunca sai igual. Flores me parecem algo tao chato.

24 de nov. de 2012

Just so you know...

"You make me puke, if you want to know" (Sylvia Plath my diva).

23 de nov. de 2012

Num dia de hoje

Num dia de hoje, recebe muitas informações para conter dentro de sua cabeça. Em algum lugar sente que deverá colocar para fora, por aí pelo mundo. Quem fala é a alma, o coração. Mas não acreditava em coisas de sexto sentido ultimamente, então nem se levava em conta.

O ônibus que pego sempre serviu mais como veículo de comunicação do que veículo em si. É que dentro do ônibus tomo tempo para comunicar comigo mesma. Olho pela janelas e acabo olhando para dentro de mim. Não estava acostumada a escrever em primeira pessoa, pensava eu, e agora fazia esse exercício.

Num dia de hoje absorvera lições. Sim, eu as guardo todas dentro de mim, embora muitas vezes esqueça. Mas sinto que em algum lugar estão, só resta descobrir. Enquanto isso, penso nas casas históricas das ruas dos bairros. Penso que tudo poderia ser assim. Penso demais, sinto demais, vivo de menos?

De qualquer forma, queria falar num dia de hoje. É que o dia de hoje serviu para eu ser mais eu. Vi um cartão postal de Detroit durante a tarde, o que acabou intitulando minha sexta feira como "nostalgia de tempos antigos". Isso me trouxe pensamentos que transformei nas palavras "desenho", "década de 60 e 70", "prédios antigos cheios de história" e "minha história". Essa última era riquíssima, embora não fosse sequer capa de revista.

Andei sentindo borboletas voando dentro do meu estômago. Gosto de como elas mandam em mim. De como se mexem sem se preocupar e não me dão a mínima. Gosto, especialmente, de como elas deixam minhas pernas mais fracas - logo eu, que sempre fui tão forte.

Pensando em um restaurante de faculdade, lembro de você e dele. Já não vou dizer que não deveria estar pensando nisso, uma vez que perdi o controle sobre isso há tempos. Me invade e eu nem sei por que. Me invade e eu nem sei dizer por que. Me invade e me lembra que eu sou eu e que você faz parte de mim.

Ontem andei na rua onde aprendi uma lição. Uma lição muito bonita, porque era triste. Já pensou em como as coisas tristes são bonitas e as coisas bonitas são tristes? Já pensou em como o mundo é tão grande que dá vontade de chorar? Isso me lembra o sonho que vivi na noite passada, juntamente com as experiências que adquiri. Estava em terras distantes quando na verdade estava só num sonho que não saíra mais do que a distância da cama, onde eu dormia.

Isso tudo, para falar que, num dia de hoje, cheguei em casa e fui me encontrar. Sentei no chão do meu quarto, em um cantinho apertadinho, do jeito que eu gosto, e deixei meus olhos falarem. Falam com voz cor transparente, embora eu as visualize e desenhe azuis. Pensei em mim, em você e no outro. Pensei no que a gente era e foi. Senti saudade de mim, sabendo que eu ficara lá trás e agora o tempo era outro. Não poderia mais resgatar aquilo, embora minha mãe sempre fale que sou sempre filhinha. Vai ver, no mundo inteiro, só para as mães o tempo não passa.

Tenho brincado com o meu coração. Não tenho permitido que ele brinque comigo - por isso estou brincando. Tenho deixado ir, tenho não pensado nas consequências e tenho vivido o hoje e o amanhã. O amanhã ainda não chegou mas, nos planos que faço, ele está sempre aqui dentro. Os beijos que tenho guardado entendem que o ar oferece caminhos e por isso querem ir. Deixarei, quero muito. Desejo. Essa palavra, desejo, é uma das palavras mais bonitas, sujas e limpas da vida. Desejo - que coisa mais linda!

A vida é um desejo.

21 de nov. de 2012

Visita a medica

Minha visita a medica comeca com a menina encolhida no banco de espera enquanto espera ser chamada. Depois essa menina se transforma em mim e vai pedir silencio aos tagarelas de plantao. Volto, abro meu livro, confiro minha bolsa com palavras em um idioma que nao sei ler e aguardo.

Minha visita ao medico comeca com a porta que abre devagar, meus passinhos lentos e o sorriso timido que dou para a minha medica e ela retribui de volta. A primeira coisa a se falar, como eu esperava, era o meu novo cabelo. Depois escutei um "parece europeu" e fiquei super a fim - super a fim - super a fim de mim! - conhece?

Ja sentadas, falo da minha mania em esquecer tudo, quando repudio profundamente essa mania. Tiro um papel do bolso, como a comprovar o que eu havia dito: anotadas estao todas as minhas observacoes. Observo sempre o seu relogio - como isso a deixa jovem. Escuto historias da filha e do marido frances. Pergunto a minha mente, em silencio, o que ela esta a fazer aqui.

Vamos entao para a Nova Zelandia, o novo lugar de discussao. Me conta segredos magicos dessa terra habitada por povos que nunca vi. Nao me interessei porque nao me impressiona. Voltamos para ca, Brasil, e por fim ouco dela que "pior do que o Brasil, so a Etiopia", ao que eu emendo "India".

A consulta medica terminou quando dividi o medo de que meu karma para a proxima vida seja nascer na India. Ela deu gargalhadas, nao sabendo como essa possibilidade, na verdade, me aflige.

Por fim, ela me falou da amiga estrangeira que se parece com todo mundo legal e, para nao esquecer, consultei de verdade e falamos de remedio.

Eu gosto dessa medica minha. Medico e' alguem com quem devemos nos identificar, pois ele cuida, nada mais nada menos, do que de nos mesmos...

20 de nov. de 2012

Hormonio da felicidade

As vezes acho que perdi a inspiracao, que ela me deixou, me abandonou e foi morar em lugar que nunca existiu: olho pela janela e vejo a vista; o gato passando e' so um gato; observo uma flor e concluo que trata-se de uma flor.

Vira e mexe ela volta, a vida se renova, os ventos do norte batem e os do sul trazem cheiro de cor anil. E ai me pego toda alegre de novo, como a crianca que acabou de aprender. Brinco, sorrio, percebo mas nem vejo passar. Dialogo, converso, discuto, falo e ainda por cima escuto.

Comeco a contar pessoas. Elas vao entrando. Vem para acrescentar. Reparo ate na grama com seus tons de verde. Lembro que um dia gostei de verde claro mas que isso foi fase e ja passou. Nao passa nunca e' o meu amor por azul. E nisso posso pensar em flores, em duplos sentidos, em metaforas e, mais uma vez, em vida. Na tal da inspiracao.

Eh que as vezes, no meio do dia, eu fico inspirada, guardo ar dentro dos pulmoes e tento conservar a arte. Torco para o fim de tarde chegar e ficar, pois precisa durar um pouquinho mais para se aproveitar. Vejo a aurora boreal que nunca existiu e navego de baloes quando isso sequer aconteceu no mundo das ideias. Por falar nisso, preciso me aprofundar mais no tal mundo das ideais do qual falava Platao: e' nele que eu quero morar. E' ele que quer morar em mim. E, ele, eu deixo.

Eh que hoje eu fiquei um pouco inspirada. Chamo isso de hormonio da felicidade.

18 de nov. de 2012

Como diriam os sonhos

E se o tempo acabar e se o mundo acabar e se tudo acabar, acaba tudo menos o pensamento em voce.

Quando se esta inconsciente, ainda assim esta la. Quando se esta ocupada, ainda assim e' chacoalhada pela sua presenca que nunca se vai. Quando caminha de volta para casa, quando olha os sapatos, quando conta os passos que da.

Quisera ela tocar. Quisera ela despertar em sonho e em sonho ficar. E em sonho viver. De novo. E de novo. E de novo porque, assim, tudo se faz novo.

Na noite passada, visitara sua mae em sonho. Ainda que nao falassem a mesma lingua, ainda que so se conhecessem por voce - implorara a ela um pedido so seu. Pensara que mae toca o coracao, pensara que mae conhece filho melhor do que Deus. Pensara tudo isso e muito mais que agora sua mente nao tomara conhecimento. Mas sabia que todas essas coisas existiam em seu coracao. E, quando dormia, as deixava escapar, pois era quando ela perdia o controle sobre si mesma.

So nao escapara voce. Mesmo que ela o quisesse. Mesmo que mesmo. Mesmo. Mesmo apesar de todos os mesmos.

Mesmo. Mesmo assim.

A estrada de uma noite

Quem sabe se dera conta. Quem sabe percebera que nem tudo faz sentido e nao e' para se entender. Quem sabe o jeito mesmo e' indo para, no fim, nao chegar em lugar nenhum - visto que todos morrem no final.

Tudo comecou com a noite em que saira com o convite dele. Fora buscada em casa, teve a porta aberta, assistiram filme, teve seu coracao tocado pela Historia, quis entender as pessoas, pensou em ser diplomata, quis chegar mais perto e no fim nao pagou o estacionamento, como queria, para ser gentil.

No percurso de volta, que era curto, torceu para as ruas de repente se alargarem, para aquele transito da semana estar ali, o sinal fechar e nunca mais se abrir ate que se tenha terminado a conversa.

Pensara em quantas conversas foram cortadas por falta de tempo. Desejou que dessa vez pudesse falar e escutar mais, dividir questoes, buscar respostas que nao existem. Mas o sinal abriu.

E, com o sinal, sentira que estava indo cada vez mais longe, ou se distanciando cada vez mais - depende de como quisessem abordar os acontecimentos dos ultimos tempos que aconteciam dia apos dia. Se perguntava se nao estava chegando a hora de dizer adeus, querendo estar preparada. Nisso, pensara em todos os livros que ainda nao lera no criado ao lado da cama. Contabilizou 36. E lembrou-se que ainda havia aqueles que ela ainda nao sabia que existiam. E pensou em como eram muitos, e pensou em estrada, e e pensou em infinito - e lembrou que um dia tudo acaba. Ate o dia.

E que dia apos dia virava "vida".

E entao voltou-se para si mesma, para o caminho que trilhava - do qual as vezes queria escapar - e em como nao sabia para onde estava indo, ainda que pudesse estar indo embora.

13 de nov. de 2012

E quem seria ela

Estava  a correr em campos de trigo ou a caminhar por entre ruelas da cidade de cimento?

Ela, que sempre adiava a vida; ela, que num momento de inspiracao tremia; ela, que percebia sem olhar - estava ela fazendo a coisa certa?

E, enquanto escrevia isso, perguntava-se o que era certo, sabendo que so ela mesma poderia responder a si.

E todos  os dias chegavam assim: com aquele portao em cor desbotada que ela notava e perguntava-se por que, com as musicas que ficou de escutar, com os numeros que prometeu lembrar, com os inumeros papeis que colecionou e nunca deu a devida atencao, com bugingangas que se amontoavam em bolsas, com seu amor por chuveiros, por girassois que nunca viu nem ligou, por roupas que ela sabia que iria arrepender-se em comprar mas mesmo assim o fazia, com o pensamento no qual pensaria depois, com o anel no dedo que ela usava mais como fuga para distracao, com sua colecao de relogios de horas paradas, com seus suspiros soltos e guardados, com sua memoria fazendo-se valer, com a imagem que carimba o coracao, com o cheiro de comida barata, com passos rapidos e leves, com guarda-chuvas que nunca quis usar.

Essa era ela, ainda que nao se conhecesse. E por ai vagava, fosse campo ou rua em meio ao cimento - sendo cimento essa mesma.

11 de nov. de 2012

Porque estava distraida

Porque estava distraida, flores nasceram, janelas ficaram com marcas da chuva, cimento rachou. E, enquanto isso, degraus ela subiu, ventos viu passar, cheiros vieram com ela esbarrar, livros segurou na mao firme mas suave. Usou as pernas para caminhar. Foi aonde nao havia pensado existir. Chegou ate la. Por la morou, e ficou, e nao se foi. Reparou nas persianas, aprendeu a mexer na maquina, reclamou da poeira das escadas e se perguntou para que existiam basculantes.

Porque estava distraida, nem viu carro passar. Andou pelo passeio cheio de neve, se equilibrando porque gostava de aventura. Na esquina havia um posto, nas ruas haviam casas abandonadas que poderiam ser chamadas, todas elas, de "dela". A distracao invadiu a loja de conveniencias, a fez questionar-se porque so vendiam bobagens, pulou a maquina de cafe porque pensou que era chato. Cafe so tomava para acordar e estudar. E nunca mais.

Distraida, deixou-o entrar. Distraida, deixou-se entrar. Distraida, sentou de costas mas permitiu, sem nem perceber, sua voz entrar nos seus ouvidos e ficar ali. Distraida. Ela sempre estava distraida, embora sempre prestasse atencao em voce, em nos dois.

Porque a distracao fazia parte do seu dia, e seus dias faziam sua vida, comeu hamburguer e batata frita e desligou-se da sua saude. Queria mais eh viver. As vezes corria, desejando ficar perdida. As vezes cansava e preferia ficar em casa tomando cappuccino, olhando da janela e, no meio daquela neve toda tao branca, ve-lo chegar - radiante, tao branco, como a luz do dia na noite, como a sua luz, como estrela guia, como cometa. Ela gostava de cometa. E o chamava, assim, de seu.

Porque estava distraida fez amigos que amou, guardou-os nas caixinhas decoradas que ficam em seu coracao, cuidou para nao empoeirar, encheu de beijos e pensamentos bons. Porque distraida sempre era, tentou ficar atenta, tentou gravar poema, tentou ate mesmo estudar. E viu que o que mais vale a pena, na vida, na vida inteirinha, eh a vida que ela leva. Vai ver por isso quis te levar nela.

Quando estava distraida, e porque sempre estivera, sempre esta. Estara. Quem sabe a sua espera, como naquela vez no supermercado. Quem sabe so porque valia um sorvete. Quem sabe so porque deixou-se amar. Quem sabe ... so porque estava distraida.

30 de out. de 2012

Hoje eu so quero

Eu estou cercada de gente idiota. Eu so quero um livro, um cafe com ingredientes que aumentem o colesterol, meu marcador de texto de cor fashion, meu rabo de cavalo alto, meu chinelo sem marca, meus quilos perdidos, minha inocencia de crianca, meu pensamento no sorvete que se aproxima, uma escada para a saida de emergencia, um chao coberto por carpete que me leva ao lugar em que estudo, e meu pensamento em voce.

E pode vir muito mais - do que eu quero.

27 de out. de 2012

O dia de Hoje

O dia de hoje eu dedico aqueles que sao. Simplesmente sao. Como no quote, como na escrita, como no livro de cabeceira, como na faculdade, como no primeiro beijo, como no date apos a aula, como nas maos dadas que a gente dava.

De algum modo o dia de hoje ja existia antes de nascer. De algum modo o dia de hoje sempre sera. Como as suas pessoas o sao.

Ao todo sao tres, contando eu. Mas, como o numero dois sou eu, vou contar ela e ele, e guarda-los no coracao.

Vida, obrigada pelo dia de hoje e pelas pessoas que fizerem-o ser o que eh.

15 de set. de 2012

Abracos de rapunzel

Esta semana voce veio ao meu encontro. Foi com um ar doce de menina agradecida que olhei para o ceu pela janela aberta que um dia enfeitou os corredores por onde cortamos caminhos para nos encontrar.

A primeira, a segunda, a terceira vez - sendo que esta ultima, para mim, e' a que mais importa. Porque foi o que ficou. O que ficou de mais suave, com mais melodia, com o mais longo toque. O do seu abraco, envolto aos seus cabelos.

Como quem diz adeus, eu cheguei ate voce. Cortei matas, florestas, rios e praias do Rio de Janeiro, onde os surfistas passam e eu nao ligo a minima. Meus olhos estao voltados para dentro de mim, que e' onde mora voce. Que e' onde eu te decidi guardar. E, ao chegar, pulei em uma piscina e, por mais que tentassem me impedir de tocar na aura azul que envolve o ser humano, e quem sabe mais do que humano, que voce e', eu consegui. Voce veio ate mim e me deu o seu abraco. E eu me envolvi nele. E me entranhei em seus cabelos.

E entao me perdi, porque foi la que um dia eu me encontrei.

10 de ago. de 2012

Pensamentos de uma semana


Finalmente chegou a semana que se parece com um dia. E ela já passou. Um dia na vida. Um dia na minha vida. Um dia na vida de quem sou. Sou eu agora.

Nas horas que formaram os dias que se tornaram essa semana que mais pareceu um dia na vida da gente, peguei muito ônibus e realmente olhei da janela. Olhei para notar. Ao passar por aqueles prédios feios do centro, pensei no que poderia haver ali dentro. Viajei sem sair do lugar, enquanto o ônibus andava. “Eu sempre gostei de andar de ônibus”, repetia eu mesma para mim enquanto as ruas chegavam.

Nesse dia, que na verdade foi uma semana, nunca visitei tanto médico.  E até por um momento pensei que em uma vida eu até seria médica só para não ser tudo o que eles são. Mas eu não estava ali para dar lição, só mesmo para ignorar revistas em consultórios, reparar em como conversa a secretária, duvidar do gosto da decoração e ler meu livro que eu enfiei na bolsa e não tirei mais.

Sim, minha semana foi marcada por médicos, o que me fez sentir-se cuidada. Isso é um engano bom, um engano consolador. E eu meio que me acreditei.

Essa semana li muitas páginas que escreverão futuro. Esqueci, ou não lembrei, do que sempre invade a minha mente porque nunca deixou de habitar meu coração. Senti saudade do amigo, com o coração apertado. Mas depois passou, sem nunca sair daqui de dentro de mim. Falei com ele por vídeo, o que me fez reparar em como ele se parece com o Jim Morrison. Até na cor dos cabelos grandes e barba, castanhos de um jeito que eu sempre achei sem graça – agora, nem tanto.

Essa semana andei reparando tanto. Mas sem alma de artista. Assim, só por olhar. Não me preocupei com a cor descascando, com o azulejo quebrado que nunca combinou, com a pilastra que não deveria estar ali, e nem notei na arquitetura. Eu fui mais foi só olhando...

Essa semana deixei tudo que há em mim sair só para ver o que eu sou mesmo. Mas os livros, esses eu nunca os deixei. Ainda que os colocassem na estante, ou ao lado de minha cama, só para eu saber que estão ali. Às vezes, tudo o que a gente precisa é saber e mais nada. E mais nada porque qualquer outra coisa seria supérfluo.

Essa semana, que foi composta por médicos, foi tão sem graça que ficou leve. Vai ver eu me perdi, saí de mim mesma para ser outra. Médicos são números, são fatos e nunca reticências. Por isso o porquê dessa semana, desse texto sem poesia, tão obvio, simplista e sem graça. Todo nu.

4 de ago. de 2012

Em jogo de defesa e acusação


Me peguei te defendendo: defendendo os seus olhos, seu nariz e quase cheguei à sua boca. Te defendi em um dia de hoje, quando minha irmã falava que o outro, que também é esse, era mais bonito. E como poderia, logo eu, tomar partido? Não seria mais político – quem sabe ético – me manter neutra, guardar palavras e quem sabe concordar que sim? Concordar que dois? E que um mais um são dois e que assim são você e ele?

Você e ele.

Hoje me peguei te defendendo. Tive que viajar sobre cada detalhe do seu corpo, para me lembrar que existe você. Lembrar que existe o que já está aqui, pois eu nunca me esqueci. E fui lembrando com sorrisos – não só a cor dos olhos mas também o tom. E fui me apegando aos detalhes. E fui colocando carinho. E me peguei – sim, e me peguei. E então encontrei-me me policiando. E no fim concordei com minha irmã, que acha o outro mais bonito – o outro, que também e esse, pois escreveu palavras de amor no meu caderno chamado Vida – e concordei comigo também, que acho você. Tá bom? Sim, você já sabia? Já sabia, se não esqueceu...

E no fim me alertei, cruzei as pernas, disse a ela, à minha irmã, que não falasse de você e que não me obrigasse a te defender. E virei para frente, pois estava meio de lado.

12 de jul. de 2012

Delicadeza

Delicadeza. Talvez essa seja a palavra chave. Delicadeza pressupõe que eu vou ler tudo o que eu quiser ler pelo simples fato de que eu quero ler. Delicadeza pressupõe notar as cores dos azulejos da cozinha. Olhar para você enquanto você nem percebe. Delicadeza para se escrever em quadro negro. Delicadeza ao separar as coisas que não quero mais e guardar as que eu quero, pelo simples fato de existir amor em mim pelas minhas coisas. Delicadeza para escutar música, porque isso sim exige delicadeza. Delicadeza para ouvir e fingir que ouviu, deixando passar. Isso chama-se delicadeza consigo. Delicadeza em tons de verde. Delicadeza até quando o tom de azul prevalecer sobre todos os outros. Delicadeza para dirigir - essa estou empregando há algum tempo e ainda tenho dificuldade. Gosto mais é correndo. Delicadeza na hora de comprar vasilhas para a cozinha, por exemplo. Quem diria? Delicadeza para saber quando é hora de deixar para trás, ainda que traga consigo. Delicadeza na hora de tomar decisões e principalmente quando não se está tomando nenhuma. Delicadeza com as arquiteturas feias que tomam todo lugar de um país como esse. Delicadeza para com as janelas, pois elas são a alma da casa. Delicadeza com o mato, onde se nasce flores. Delicadeza como uma tabuada de matemática, pois exige-se prática. Delicadeza com você, quando te olho de um visor de computador do outro lado da tela que eu chamaria de outro lado do mundo. Delicadeza enquanto você nem sabe. Delicadeza ao se escrever mas, principalmente, ao se pensar, já que pensamentos viram escrita. Delicadeza para reconhecer as qualidades dos outros e para esquecer os defeitos. Delicadeza para lembrar de dia importante, que aconteceu em algum lugar da Europa Oriental dessa vez. Dessa vez. Delicadeza para não esquecer das outras vezes e ainda lembrar. Delicadeza enquanto se passa em ponte, ao imaginar quem é que fez aquilo. Delicadeza ao cair da noite, que já prevém o futuro climax: a madrugada é a hora mais delicada do mundo. Delicadeza para entender mas, principalmente, para não entender. Porque às vezes é preciso não entender e isso se torna o mais importante. Delicadeza para ser possível se lembrar do quarto de brincar da infância. Delicadeza ao se pensar em lugares abandonados porque eles são de uma delicadeza só! Delicadeza para identificar aquilo que sempre soube mas que de repente esqueceu. Delicadeza como quando se limpa aquários. Delicadeza que você faz nascer em mim sem saber que sequer isso existisse... Delicadeza me faz lembrar você.

9 de jul. de 2012

Minha ira com o governo

A minha ira com o governo começa todos os dias, ao dia começar. E começa de um jeito tão rude, cru e aí pra gente ver que eu nem posso fazer poesia. A minha ira com o governo me tira. Me tira a sensibilidade, a esperança, a fé e até a força. Porque a minha ira com o governo é a coisa mais forte que eu tenho dentro de mim nesse momento. Hoje acordei com a minha ira com o governo. Ela tomou forma concreta ao ler um email que uma amiga me mandou. Os dados, que ignoramos no vai e vem do dia-a-dia. Essa nossa mania de esquecer. E de nunca lembrar. Reconheci que somos ricos, quando eu sempre mais do que já sabia. Somos o povo que mais trabalha para pagar impostos, depois dos suecos. E que vida de sueco a gente tem? Hein? Essa vida daqui está mais para ser comparada com a de outro lugar do mundo, que hoje comentei com minha irmã mas não irei comentar aqui. Chega de criar alvoroços para coisas que não merecem ser notadas. Sabe o que mais me irrita? As pessoas que eles chamam de "brasileiros". Eu, sabe, chamo-os por outro nome. Mas vou pular isso porque isso é assunto meu. É que você que está lendo isso aqui, tenho certeza, não leu o jornal de hoje, não leu o jornal de ontem, não parou para ler a capa da revista exposta na banca e pagou por um imposto que nem sabia que fora criado. E isso tudo - e o pior disso tudo - é que você não participou de nada e, assim, nada teve a declarar. Vamos todos pagar caro, os impostos mais caros do mundo, para nada. Para sermos chamados de pobres, porque sim, somos um bando deles. Para nada, para mandarmos dinheiro para os países europeus que estão em crise, para os países africanos que chamamos inconscientemente de colônias, para bolsos privados e bolsas de marca. Vamos todos. Porque quem não participa, ajuda a pagar também. Eu, que não escolhi esse governo brasileiro ridículo que esta aí (apenas mais um em quinhentos anos, eu quase diria), pago também. E o mais caro é o pato. Hoje, mais um dia, eu estou com raiva do governo. Ele mingua minha poesia de maneira brutal, fria, nua, crua e vazia. Governo não é poesia. É um adeus, Brasil.

8 de jul. de 2012

Enfim chegou o dia

Estava ali na minha frente. Na minha frente. Isso poderia ser real, até pensei. E era. Tinha a oportunidade de tocar. De tocar com mais força até machucar, se quisesse. Enfim, chegou. Andei quilômetros. Peguei um ônibus no qual abri todas as janelas. Desci no ponto certo só por calcular. Não gosto de nada planejado, anotado em papel, explicado - embora o faça. Gosto é de confiar na minha intuição. E ir. Ir assim. Ir sem saber. E no fim ver que acertou. Que acertou-se ... qualquer que seja essa força - vai ver o nome dela é "força que existe dentro da gente". Mas enfim estava ali. Ela com seu cabelo curto, alisado e cor descorada. Eu com os meus longos, embarassados porque gosto assim, jogando-o de lado, escondendo-o quando ela olhava para ele - é que há muito tempo venho ouvindo histórias de como cabelos dispertam inveja entre as mulheres. Pois assim, preferi esconder o meu. Reparei no blush. Sim, lá estava ela, bem em frente a mim. E lá estava eu, sentada em um banco impaciente. Toda vez que ela passava por mim, eu fazia questão de não ver. Jogava minha bolsa sobre minhas pernas, como quem não liga para nada, enquanto ela andava com aquele seu sapatinho boneca sem graça como os de todo mundo. Ia e vinha, e eu ali sentada. Acho que eu percorria mais lugares que ela, na verdade. Observei as pessoas que entravam e saíam, isso tudo sem muito se integrar. É que eu tenho medo de me envolver, ficar com dó de criança chorando ou brigar com a mãe que vestiu a filha com blusa verde e saia cor de rosa, por exemplo. Fiquei esperando me chamar quando ela não chamava. Quando finalmente me chamou, não escutei. É que essas coisas são assim. Está vendo? Não te disse? Quando menos se espera, mais acontece. Bom é ter surpresa, bom é não ouvir quando escuta-se chamar. Finalmente entrei, quando ela falou o que havia feito, quando sei que não aconteceu. Por isso, então, resolvi falar de volta. É automatico. É que nasci assim. Sob esse signo. Sob um céu que esqueci de reparar naquela noite. Mas foi anotado em algum lugar, não se preocupe. Sentei, finalmente, em um outro lugar. Frente a frente. Frente a ela. Olhei sem querer olhar. Não gosto de olhar nos olhos, mas na boca. Mas às vezes eu olho nos olhos, bem fundo, sem nem piscar. E aí você vai ver. Falei, falava. Respirava. Às vezes repirava fundo. Pausava. Pensava. Falava mais. Me perdia. Relembrava, contava. Sem dar muitos detalhes, isto é. Teve uma hora que meus olhos castanhos se permitiram ser fracos, desses que nem os de cor verde, e chorar. Mas eu chamo é de lacrimejar. Mas ela logo levantou-se e buscou dois papéis. Prestei atenção no número: dois. Esse número é meu, todo meu e só meu. Se quiser saber de mim, olhe para o número dois: sou eu. E ela, ali na minha frente, deve ter experimentado sensações mágicas pelas quais eu a deixei passar. Sim, elas estão todas dentro de mim. E às vezes deixo as pessoas experimentarem. Poucos tiveram a sorte - você foi um deles. Sim, você. Você! Mas eu não sei até onde ela se levou e deixou-se experimentar. E nem quero saber. Eu não me interesso muito por muitas pessoas. Por poucas, aos poucos e poucas vezes. É que raro é mais especial. Mas estavamos ali, frente a frente. Espera-se que quando estão frente a frente as pessoas saibam tudo umas das outras? Não, diria que mais "lado a lado". Ou quando uma está à frente e a outra lá atrás. É porque ficou lá atrás, num caminho perdido que um dia tomou lugar. Falei da minha raiva com raiva. Raiva é uma coisa que demonstro. Tenho até que me policiar. E não vá falar grosseiro com o cachorro, que eu vou ver, que eu vou ficar com raiva e, brava, vou lá brigar. Isso, por exemplo, é um episódio que estou antecipando. Ele na verdade aconteceu depois dessa história aqui, quando eu já estava na esquina. Mas eu sentada ali, me permitindo, abrindo o meu coração que saía pela boca, e me perguntando: será que ela vai saber? Será que irá me experimentar? Estou me doando. Aproveite! Poucos sabem assim de mim. Falei. E no fim anotou números que não combinam e seu nome, que eu já sabia. Em um papel reciclado de uma cor meio marrom que acho tão feio. Eu até jogaria esse papel fora se não fosse pelas informações que ele guardava. E aí me pergunto para que reclicar papéis se vão torná-los feios e eu vou jogá-los fora, no fim das contas. Mas isso eu pergunto só para mim mesma, porque nao há solução e quando é assim eu só questiono. E no fim do dia, que durou um manhã em poucos minutos, nos encaramos, logo eu que olho sem ser notada e não me deixo revelar. Era so uma médica. Médica da alma. Dessas que meu pai fala que não existem. Obs.: desculpai-me escrever em símbolos.

6 de jul. de 2012

"Tristeza não tem fim"

Carrego todas as minhas tristezas comigo. Tristezas não vão embora; tristezas adormecem. Vira e mexe voltam por aí, nesse lugar dentro da gente, e nos acordam e recordam com um soco no estômago - por que é que tristeza é assim? Às vezes se vão, sim é verdade e me esqueci. Mas é só para dar lugar para outras tristezas...

5 de jul. de 2012

Palavras que viram combinações bonitas

Tenho amores por nomes, mas sao os nomes que me amam primeiro. E pelo meu nome chamam. Sou obrigada a olhar. E ler. Os nomes. Sim, de vez em quando leio uns nomes tao bonitos que ate repito para mim mesma toda hora porque entra-se em uma especie de transe. Nem sei porque, eh so mesmo o nome. Quem sera que escolheu, eu me pergunto. De uma coisa eu sei: quem os criou, ou escreveu, bem que sabia. Sim, ele sabia da magia que havia por tras e de como nos seduziria ate conquistar. Nao gosto muito de revelar os nomes, mas vou dividir aqui tres que venho repetindo ultimamente: "nós que aqui estamos por vós esperamos", "histórias que só existem quando lembradas", e "eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios". Sim, sao todos nomes de filmes que eu nao vou assitir nunca-jamais, mas sao mais do que isso. Sao a metamorfose do mundo, a palavra dita ao pe do ouvido que voce nao ouviu, a fumaca que se deixou passar, o suspiro engolido e a duvida que acorda mas nao mata. Voce nao entendeu nada, nao eh? Eu sou assim meio estranha mesmo. Mas repito as palavras, e depois as escrevo para deixar para sempre.

4 de jul. de 2012

Uma frase solta ao vento

É que hoje enquanto lia um livro, esperando em um consultório médico, me peguei entretida. Distraída. Entretida de novo. É que há pouco chegara uma moça, que eu deveria até chamar de senhora, mas me recuso devido à falação que chegou causando. É que essa moça, no caso senhora, falava do esmalte, do estacionamento e da loja de shampoos - e nada disso me interessa. Assim, minha mente se voltou em rebeldia, pois recusei a me distrair. Voltei ao livro, que levantava contra a janela ao fundo, iluminada pelo sol. Meus óculos finos me passavam a impressão de uma moça mansa que eu não sou. Enquanto isso, grifava em tom violeta as frases que me ajudavam a entender a vida. É que estou no mundo a entender - essa é a minha função disfarçada e, por isso, eu nem deveria estar contando. Mas isso tudo que vos digo é só para enrolar. Para causar distração, função maior por meio do qual começou esse post, eu diria até. E agora, nesse instante em que você menos esperava, que coincidiu com o mesmo instante lá no consultório, pois aconteceu, me esbarrei com ela. A frase veio esbarrando de volta em mim, como quem passa querendo chamar a atenção. Só faltou gritar meu nome, dizer o seu com suavidade, delicadeza e um sotaque de país estrangeiro e aí aconteceu: "Mas ele foi mais forte do que ela. Nem uma só vez olhou para trás" (CL).

3 de jul. de 2012

Ritual de passagem

Que era um dia daqueles. E um ritual de passagem, dos muitos pelos quais elas ja passou. Foi se transformando, ate passar de sim e sair como um sopro. Quanta tensao, para no fim ficar curada. Quanto tempo duraria? Ela nao saberia dizer, ja adivinhando. Ela prefere anotar, mas gosta de esquecer. Para ter de novo uma segunda vez, que na verdade seria a milesima. Ou a infinita. Preferia nao contar. E que ritual de passagem, so mais um dos varios que ela ja passou. E quando as estatisticas (vamos chamar assim?) desciam, pois o ponto culminante - que na literatura ela chamaria de "climax" - estava se desfazendo, tudo pareceu subir novamente. O telefone tocou, seu coracao acelerou: era seu pai. Pergunta-se se ela esta boa, querendo, pedindo, torcendo ... que sim. Para o bem do outro, e nao do dela. Isso eh chamado brutalidade, mas ela prefere chamar de "bruteza". Sim, foi uma palavra que ela inventou, que eh muito dela, esse negocio de nomear coisas ao seu modo. Passou. Voltou. Respirou fundo. Rezou. Continuou. Deu um sopro e soprou. Depois, como recompensa de infancia, como a menina que era quando preservava a inocencia, sentou na cama, em frente a tela, antes de escrever isso, leu duas paginas de Lispector, a quem chama carinhosamente de Clarice, comeu duas balas e se foi.

2 de jul. de 2012

Do meu amor por azul

Tudo azul. Azul piscina. Azul marinho. Azul de to nem ai. Azul bebe. Azul do ceu. Azul anil. Azul azulejo - tudo mentira. Eu gosto eh de azul mesmo. Um dia desses que passa na vida da gente me peguei me encantando. Estava atras de um azul, pois o azul estava atras de mim. Estava e sempre esteve. Esse eh o meu "fate" e por isso sempre estara. Comecou com um par de sapatos iguais em 3 cores - a terceira eu queria comprar so porque era azul. So porque era amor. So porque era emocao, extase e encantamento. So porque era uma homenagem a mim mesma. Me peguei assim: obcecada por azul. Tudo meu eh azul, azul sou eu. Mudam os tons, fica-se a cor. Prevalece-se o tom mais escuro. Uns falam marinho, outros falam cor de ceu a noite, outros falam cor de mar remoto - e eu prefiro chamar de minha personalidade. Meu eu. Mas entao. Acho que atingi o auge na semana passada, quando fui invadida por um azul aqui dentro de mim. Engracado eh que fala-se que azul eh cor triste, que "se esta azul" quando se esta triste ... Mas para mim azul eh muito mais. Eh a cor e a coisa mais linda ai que existe. E entao eu so queria falar mesmo que dias atras me peguei me pegando te admirando e me apaixonando por voce de novo, Azul. Um simples azul. Se voce entendesse, isto eh.

27 de jun. de 2012

Uma parte do quebra cabeca da vida que vim te montar

" Ela o deixou entrar, quando a porta nem estava aberta, quando ela olhava pela janela. Distraida. Mas nao de se deixar levar. Apenas de permitir que sua mente se retire. Visite paraiso, pouse e se deixe ficar. Ela lhe causou um monte de espantos porque era diferente, porque falava outra lingua, porque piscava com canto de olho, porque era ela. Ela ensinou quando achou que so aprendeu. Bastava ele aprender a licao que ela veio trazer com tanto carinho. Ela era passaro. Passaro usado por esses seres ai, maiores de grandes, que moram em outra dimensao e controlam tudo aqui como fazem com fantoches. Ela prefere chamar de Deus. Ele nao chama e quando lembra, da outro nome. No fim eles concordam. E saem de maos dadas para depois brigar. E fazer as pazes. Pular canteiros, mas pisar nas folhas secas. Ainda que elas as ache lindas e queira levar para casa para guardar em livro. Ela fala que pode ser marcador de livro, ou eh so pela beleza mesmo. Eles estudam no mesmo predio, eles estudam a mesma coisa, ela ja passou dessa fase. Ela vai e volta, ele ainda caminha... Ela acha lindo esse negocio de chuva, ele a leva para, de fato, se molhar. Ele tem olhos claros mas ela nao ve sua alma; queria mesmo era ver com os olhos deles porque assim os teria e se sentiria mais bonita. Ela tem olhos escuros, que permitem que sua alma e pensamentos sejam vistos. Algumas outras caracteristicas fisicas eles tambem possuem em comum, e o mesmo ela possui com outro. Mas, mais uma vez, diferencia-se as cores. Ele nem notaria porque isso eh coisa sensivel e de mulher; ela diria que sao as diferencas. A vida - ahhh, a vida! - diria que sao complementares (fica a licao. Basta escutar). E todo o resto, e todo o resto, que um dia se formou um todo, o todo, o todo deles. Ele diria que eh bobagem, ela diria que eh coisa do coracao. Ele tem sentido diferente, ela tem sexto. Ele nao diz, ela muda de assunto. Ele estende a mao, ela corre e logo da um abraco. Tem seus predios preferidos, programas preferidos e ainda dividem alguns gostos pela comida. Ele tem paciencia, ela tem chatura. Ele ri para ela, ela fica emburrada de frente para o espelho. Gostam de banho, ainda que em temperaturas diferentes. E temperatura eh uma coisa que preocupa muito a ela. Ela eh quente; ele eh frio. Um dia desses ela entrou na vida dele, e ele entrou na vida dela - depende de como voce olhar (voce tambem pode olhar para um mesmo angulo, para um ponto em comum, e la vera os dois, diria a vida). Ela chegou, segurou a mao e deixou-se levar, enquanto o levou. Com ela. Ele ficou. Ela entrou, ficou, e se foi... "

20 de jun. de 2012

Simples assim

Descobri-me olhando para as pessoas. Descobri que, sim, gosto dos dias frios e chuvosos, sorvete, escrever, decoracao, comer, jogar conversa fora com quem se ganha algo, caminhar por ai, fotografar, viajar, ler, artes, filmes e azul. Simples. Eh simples me fazer feliz. Dificil eh ser esse alguem.

15 de jun. de 2012

Palavras sao fatos

Hoje estou pensando nas palavras. Nos cadernos. Nos escritos. Folhas soltas, borracha nova e outra velha, canetas para dar e vender. E uma lapiseira. Porque lapiseira merece atencao especial, para nao haver ciume, para nao ser traida e nao te trair na escrita. Hoje estive pensando em como tudo o que eh bonito e importante deve ser escrito porque, antes de mais nada, ja estava escrito. Eh que o mundo se formou assim: primeiro nas palavras. Sim, as coisas estavam primeiramente todas escritas quando Deus resolveu criar. E descobri que eu e muitos veem (eu tenho muita dificuldade de escrever esse verbo e eu decidi que nao quero nunca aprender) como ele. Com essa mania esquisita, vai ver ate util, de escrever primeiro e entao criar. E foi assim e vai assim: escreve bobagem, escreve no papel. Escreve sentimentos, escreve pensamentos, le piada e pensa "que desperdicio". Escreve resumo, escreve para aprender, escreve para gravar e nao esquecer, escreve tese, escreve bilhete, cartas e cartoes. Escreve endereco. Escreve nome, porque nome eh uma coisa que eu sempre esqueco e nunca lembro. Escreve ideias. Escreve planos. Escreve imagens que os olhos veem (sim? Nao sei escrever esse verbo!) e as palavras decifram. E eh isso o que eu mais gosto: contrariar as ideias formadas e espalhadas pelo mundo inteiro de que o que os olhos veem (ui) nao podem ser descritos. Podem sim. Vai ver, por fala nao podem mesmo, porque fala eh uma coisa tao chata, que cansa, tao desnecessaria... confesso que muitas vezes nao gosto de ouvir, quero so ficar no meu silencio pertubador de tao cheio de vozes. Mas, como mencionei antes, a voz nao descreve mas as palavras.... Ah, as palavras!!!

13 de jun. de 2012

Que bom!

Que bom saber que a gente tem gente por ai. E que essa gente vem com algo, com aquilo que vai preencher nosso coracao. Seja um olhar, uma piscadela, sorriso bonito, cabelo que eu nem posso falar como porque senao vai parecer muita coincidencia, e um coracao tao bonito, mas tao bonito que me lembra cheiro de infancia. Vai ver um dia desses passei muitos dias contigo, e muitas horas, e muitos minutos e muitos gestos e tudo isso formou lugar especial em meu coracao. Alias, nunca liguei muito para coracao. Por isso vou dizer que te guardarei na alma. Porque a alma a gente constroi a cada dia, e eh no meio do caminho dessa construcao que as pessoas, que constroem, entram. E as especiais ficam. Muita gente entrou para construir mas, infelizmente, deixou. Nao que eu queria, mas os dias quiseram assim. Thank goodness ha voce assim para mim. Para vir para casa, apos encontrar com os amigos, so para encontrar comigo. Isso eh o que eu chamaria de amigo e amigo eh muito mais que qualquer coisa. E que bom eh acabar meu dia ao seu lado, assistindo voce dormir por uma tela idiota que tenta nos separar, e me deparar comigo sorrido, so de olhar para voce. Que alegria eh te ver alegre. Que sensivel eh saber que voce esta ali. Que boa essa vida da gente quando as pessoas certas, as pessoas das quais precisamos, entram na nossa vida, e se mostram e nao se escondem, e se dispoem, e sempre estao ali. E estendem um braco e mandam beijos, e piscam pra ti - so pra ti - no meio de uma rua movimentada onde nada mais importa ou faz sentido, que te escutam e escutam e escutam. E te deixam dividir. Dividir a si mesma. Como eh bom poder encontrar essas pessoas que deixam a gente ser a gente mesmo e, melhor, nos ajudam a nos construir... Que carinho por voce!!!

12 de jun. de 2012

Como livros

Vai ver cada homem, ser humano ou menino que passa na vida da gente esta escrito em livro. Nao so escrito estava, como escrito aconteceu. Como escrito se deu. Como escrito ficou. Vai ver passa, vai ver passou, vai ver vai passar. Nada disso importa quando o mais importante eh ficar. Ficar escrito em paginas da vida, essa vida da gente que cada um constroi de um jeito, quando o que vale mesmo eh construir. Vai ver passa. Como pagina passa - mas o que estou escrevendo, devo confessar, nao faz muito sentido. Eh que sou assim. Eh que vejo as coisas assim - ou, as coisas que vejo, assim sao. Porque as coisas que fazem sentido... bem, para essas eu fecho os olhos - e agora acabo de ver um gol da Russia que me deixa um pouco triste, quando no fundo so nao gosto muito. E cito o jogo porque a Russia fica proximo de um local que me lembra alguem, e com alegria, apesar do jogo. E quando volto para esse local, encontro ele. Ele, de quem estou falando. E quando olho rapidamente para a televisao, novamente, me encontro com voce. O jogo. Eh contra nos dois, sendo que o pais rival representa o que de nos existiu, se foi e ficou. Eu so queria ter dito que livros, citacoes e paginas sao como meninos.

8 de mai. de 2012

Coisa do dia de hoje

Entao eis que chega a hora onde tudo se torna branco, de um jeito muito claro pra gente ver. E tudo quanto eh cor sai de cena, as folhas caem e os carros vao embora. Mas as pessoas ficam, as que moram no coracao. Mas eh que de um jeito voce se sente sozinha, e sabe que isso vem de dentro. E nao importa se voce esta rodeada de pessoas, ou sentada em uma praca publica, ou recebe ligacoes e troca mensagens - chega a hora em que voce se sente sozinha e se da conta de que esta sozinha. Porque a vida da gente eh assim mesmo. Ha aqueles que nao estao e nao estarao sozinhos, e isso eh so um acordo com um acaso. Mas ha tambem aqueles que se dao conta de que, no fim, se vive e se morre como se nasce: sozinho. Espera-se que, como a vida fica clara e sem graca como uma cor clara, nesse tom branco em que se pintou, as coisas tambem fiquem simples e diretas, ainda que dificeis. E que todas as situacoes da vida se deem em bases de decisoes, nessa coisa de apertar botao e seguir sem erro. Eu queria que a vida fosse simples assim. Nao todos os dias, mas so nas dificuldades. Eu tambem queria mais, muito mais. Eu queria ter voce aqui, e voce e voce e voce. Todos voces juntos, que um dia juntaram e fizeram meu todo. Eh que sinto falta, para nao ter que explicar o que eh a saudade. As vezes ate doi, essa tal dor no peito. E quem eh durona nao luta contra, porque os sentimentos sobem de um jeito que transbordam nos olhos. Eu queria ter voce aqui. Eu nem deveria estar falando isso, porque eu nao deveria. Mas eu queria. E entao ja nao sei mais o que seguir. Dizem que o coracao, mas o meu esta machucado. Entao dizem a razao, mas a minha enlouqueceu. No fim volto para o fim das contas, onde tudo comecou mas nao terminou, onde a razao esbarra com sentimento, passa por cima e segue a trilha. A gente? A gente segue o que a gente quiser. Mas eu nao vou segui mais nada, eu vou eh deixar que a vida me leve e entao ser seguida. E se voce quiser. Apenas. No fim, a gente morre sozinho. Quem sabe estou morrendo aos poucos.

7 de mai. de 2012

So mais uma pequena grande coisa

E eu so queria dizer mais uma coisa, que eh continuacao do outro post mas nao tem nada a ver, pois foi inspirada por um outro post que nem cheguei a ler. Eh que devo deixar claro, principalmente para mim, que nao me dou com tecnologia, numeros e portas sem muita decoracao e, embora isso tenha sido um problema, acabo de descobrir que me dou com muitas outras coisas - essas, de muita importancia. Veja bem as palavras. Olhe bem para essa aqui que eu nao vou dizer o nome e por isso nao vou escrever. Eh que ja esta escrita. Sim, escrevi um outro dia, referente ao dia em que aconteceu e agora, quando puxo a perna da letra, onde bem nem comeco a ler, ja me sou tomada por lembrancas e cheiros, e ate musica e som. E sou levada para um lugar do passado que esta bem presente. E o resto da frase, e o resto de todas as outras frases que formam o texto, eu adivinhei. Eh simples assim. Eu nao sei muita coisa, outras muitas nao fazem sentido (como essa que escrevo) mas ha aquela parte de mim que se libertou e pulou para dentro de um ciclo de vida. Essa parte me mantem viva, atenta e desperta. Essa parte me faz parte de um todo e, ao mesmo tempo, me diferencia. Essa parte eh quem sou.

Decidi nao escrever

E de repente - finalmente - me encontro com preguica das pessoas, do oceano e de pensar. Ja nao quero mais pensar. E isso implicaria nao existir. Quero que as pessoas pensem por mim e, como isso nao eh possivel (veja bem, estamos falando de pessoas), quero que vejam por mim, mas so aquilo que quero ver. E para isso teriam que entrar por um canudinho naquele lugar do meu coracao que nao sei bem onde, um lugar que um dia te abrigou. E ja ia escrever mais coisas mas prefiro nao escrever mais. Porque sempre volto para o mesmo lugar e quem sabe para o mesmo colo, em que ja nao estou mais fisicamente - mas sempre em pensamento.

6 de mai. de 2012

A vida eh isso ai na nossa frente que a gente ve

E por fim descobri que todas as coisas que chateiam a gente sao muitas, e vem juntas. E por fim descobri que as coisas que nao chateiam, ainda que percam em numero, ganham em peso. E isso deixa a gente, la do outro lado da mente da gente, um pouco aliviada, mas nao resoluciona tudo porque tudo, no fim das contas, eh passar por tudo mesmo, por isso ai e por aquilo ali que logo vem. E no fim descobre-se que a vida eh um ciclo, que a vida eh uma mandala que a gente pintou com tons diferentes da cor que se escolheu em um dia do passado, que a vida eh uma redoma de vidro, que a vida eh isso ai. Sim, a vida eh isso ai. A vida eh isso ai que a gente ve.

4 de mai. de 2012

Seria um carro

Eh que estive lembrando do episodio em que um carro passa. E minha irma menciona que eh um carro chique. E meu pai "reply" (como eh mesmo a palavra no meu lindo idioma?) que aquilo nao eh um carro chique, porque nao eh sequer um carro, porque eh frances. E sei que isso tudo vem livre de preconceitos e carregado de graca. Dias assim guardam lembrancas doces e leves, mas fortes o suficiente para estarem sempre presente.

16 de abr. de 2012

Escolhido

E de repente pensei comigo. E nesse pensar me vieram muitas coisas, as quais eu nao penso - eu sinto. E na minha frente passaram dias - os dias - , apartamento, um dia em que escondi de preguica, sorrindo meio assim, malas, dinheiro na conta, mudanca de datas, passagem de aviao e ... ah, as coincidencias!

Coincidencias assim ditas so agora. Porque nao hora eu nem vejo, nem noto. Na hora eu nao percebo. Eu so vou reparar eh depois, dentro de 3 horas. E mais depois, quando se passaram alguns dias e o segredo-surpresa veio ficar guardado dentro de uma caixinha no meu bolso - lugar especial.

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... Eh que hoje eu vejo com os olhos claros, embora os meus sejam escuros. Eh que hoje, ao passar pelos meus olhos, noto. Eh que hoje paro e me dou conta de que foi tudo, na verdade, planejado. Planejado pela Mao la de cima, que se esconde por tras das nuvens que eh pra ver se a gente lembra.

Ah, eu lembro. Hoje eu vejo, sei, me recordo e lembro. E lembrarei, que eh para eu nunca esquecer.

Mas as vezes eu gosto de esquecer, so para lembrar de novo.

7 de abr. de 2012

Vivendo de coincidencias

Sera que vivo de coincidencias, sera que coincidencias me fazem viver...

Sei la e digo que nao sei, porque o que eu quero mesmo eh sentir... Eh experimentar. Eh presenciar. Eh reviver tudo outra vez. Eh olhar para tras e ver que aconteceu.

Hoje a noite eu voltei no tempo, como quem escorrega de um arco-iris. Revivi memorias, li as coisas mais bonitas que alguem ja me escreveu. E so quando acabei, com sorriso no rosto, foi que reparei na data, na hora, no dia, nos numeros. No fim, acho que sou da escrita mas gosto dos numeros.

Tanto que gostaria de tudo outra vez.

Ah, as coincidencias! Ah, as coincidencias!

Que surpresa mais querida eu tive hoje a noite.

4 de abr. de 2012

O muito que eh nada

Fui aonde nao deveria ir, ainda que nao tenha saido do lugar. Gastei pensamentos que me custam energia. Planejei o que nao poderia acontecer. Escrevi o que jamais sera descrito.

Tudo isso eu fiz e digo, isso foi tudo porque foi muito. Foi muito. Foi muito...

Muito.

So quero que se lembre que um dia foi. E que foi muito.

E que foi muito!

...

3 de abr. de 2012

Sera preciso inventar quem sou

To precisando voltar. To precisando voltar que eh para eu poder ir. Estou precisando ir, que eh para poder voltar. Voltar a ser quem sou.

Um dia desses uma caixinha se quebrou...

E eh preciso fazer de novo, eh preciso nunca mais fazer, eh preciso me refazer. E ve-se agora que a vida eh assim mesmo, que a vida eh assim fantastica se voce nao descobre o seu significado, que a vida pode ser sem graca as vezes. Ve-se que coisas repetem, como as estacoes mudam... porque no fim mudam para nada, pois sempre voltam para o mesmo lugar...

Estou precisando me redescobrir e, para isso, descobrir quem sou. Vai ver eu preciso eh me achar mesmo, numa rua dessas com muitas lojas, onde nao se percebe. E la, na esquina dos brechos sem precos, onde tudo custa nada, la eu estou.

Mas sera preciso suar vermelho, sera preciso ter toque azul, sera preciso achar perfume novo, porque de todos os cheiros eu ja enjoei. E nem posso usar muito, porque se nao me canso (senao ou se nao? Nao sei.).

E vou precisar achar musica, uma so para mim. Sera trilha sonora da minha vida, mas nao pode tocar muito, porque se nao (olha ai de novo) eu me toco...

... e me mando.

8 de mar. de 2012

Sei la

E hoje estou aqui falando, mas me controlando para falar pouco do que esta cheio o coracao.

- [essa parte, por exemplo, eu cortei] - Pouco importa eu, pouco importa voce - e no fim, eu so disse o mesmo, se as pessoas conseguissem entender o sentido.

- [tambem cortei essa. Falei demais] -

Bom, a verdade eh que estou decepcionada com pessoas, mais especificamente com uma, e quem sabe eu nem queria estar.

Acho que os dias, meses, anos ou whatever fazem com que [nao sei escrever esse verbo!] vejamos (?) as pessoas como elas sao.

E eu, que fico triste assim com voce, no fim quem sabe deveria ficar feliz, pois pelo menos conheco quem voce realmente eh.

Quem voce realmente eh?

...

22 de fev. de 2012

A voz do silencio

E entao-talvez estou finalmente aprendendo que quanto mais se tem para falar, mais se cala. As vezes funciona, as vezes nao. Depende do genio da pessoa e o meu, como de praxe, tem vida propria.

E hoje me calei mil vezes para nao mandar tomar no cu e no fim, quando decidi nem me calar mais mas ir me obedecendo com essa minha mania de ser sincera, voltei atras.

E assim ficou.

13 de fev. de 2012

Ouvi dizer

E lembrar-se que so eh verdade aquilo que se sente e, o que se sente, eh sempre verdade.

Mas nao esquecer que a verdade da gente nao eh a verdade dos outros. Porque essa, a tal da verdade, cada um tem a sua.