26 de set. de 2014

Dias

E isto é apenas um dia comum. Com as cores gélidas de um centro da cidade em um dia insuportavelmente quente, e a correria das pessoas que quebram a lei.

Nunca se sabe qual scarf escolher, mas sempre se sente quando a escolha certa foi feita. O caminho é tão íngreme para se subir a pé - por que não uma carona? 

Os olhos de gato staring at you. Para sempre perdida entre dois idiomas, flutuando entre ter ganho conhecimento mas ter perdido um pouco de si. Penso que as flores são tão bonitas de se olhar, mas é tão chato ganhá-las de presente. 

Mais um dia.

Estão a milhas de distância a mão que eu mais gostei de apertar. O que me envolve mais ternamente. O azul que vejo longe da janela. As manias a serem superadas e os defeitos a serem corrigidos. 

Tudo parece tão longe e distante que nem se consegue alcançar com um grito. Assim nascem as fraquezas e, quem sabe, aptidões. Basta escolher, como se dar passos fosse algo simples. Há de haver disposição para as coisas belas e sujas, e o caderninho com pedaços de carinho anotados nunca sai de vista. 

Era uma vez uma multidão, um local inóspito, a mania de você, a certeza de ser quem se é, o coração apertadinho e o intuito de sobreviver em mais um quarto.

Afinal, trata-se apenas de uma dia comum.

23 de set. de 2014

Uma noite sobre a Terra

Uma noite sobre a Terra aconteceu em um dia qualquer. Mas o dia qualquer ganhou importância e veio habitar o meu coração.

Uma noite sobre a Terra volta-se a viver quando se deita a cabeça no travesseiro e fecha-se os olhos. Quando se perde em meio a tantas preposições ridículas do Português. Quando o espaço é um curto período de tempo. Quando a luz se apaga e nasce o dia.  

Em uma noite sobre a Terra, todos os acontecimentos de horas são revividos em segundos intensos – quem sabe minutos. E a menina, a protagonista da história mas não de sua própria vida, esta a contar os passos que da ao viver novamente um sonho.  

Soa assim tão estranho como as coisas imaginadas são tão fortes e presentes a ponto de fazerem-se sentir. Soa como o vento, que não se vê mas sabe-se que existe. Passa rápido e levemente, mas deixa marcas. E ninguém pode negar sua presença, ainda que nunca seja visto.


Aconteceu ontem na noite. Voltou acontecer e fui transportada para o local onde mais vivi e onde um pedaço de mim pra sempre irá viver, ainda que eu morra. Porque o que foi vivido com afeto dura-se uma vida inteira, e uma vida inteira acontece e, se tem sorte, é revivida em uma noite sobre a Terra.

22 de set. de 2014

Sublime


 Começarei pelo sorriso, que é o início e o fim e o meio. O caminho inteiro. O meu percurso mais doce nesta vida.  

O toque das mãos, o coração às vezes frio e o corpo tão quente. E a sensação que desperta em mim. O que chama a minha atenção e ganha importância para ser escrito. O que escrevo e transformo em para sempre, pois fica registrado no papel.

Tão sublime aquela camisa preta, e como realça a brancura de sua aura. A sua aura, que só eu vejo.

Tão sublime o olhar, por onde atravesso até chegar a seus mais obscuros pensamentos. Era uma vez um local na Terra, cenário para tudo sublime que um dia poderia acontecer em um período de tempo, não tão longo, mas tão intenso!

Sublime são as palavras, mas, mais ainda, o jeito de falar. O jeito de não falar. O barulho da risada. As manias. O modo como eu digo ainda algumas coisas como você. Aprendi contigo. Sublime é escutar a sua voz que me causa arrepios, que soa tão doce ao meu ouvido, que desperta as lembranças que fazem metade de eu ser quem eu sou. Tão sublime.

Sublime importância. Pois cuidarei com um zelo de mãe que tem um tesouro. Sublime, e tão leve, que deixa pesados meus braços e pernas, pois perco a forca. Isso tudo é desejo.

Sublime melodia, assovios que ecoam. Passeios de trem, a mão que me guia, os passos com os pés abertos – anda como o pai? Diz-se que sim, e eu lembrei

Sublime colo quentinho, onde me refugio e escondo-me de quem sou. Encaro-o nos olhos e recito os poemas e acordos internacionais e as ultimas noticias da política – tudo tem tão pouca importância. E, você, você me é tão sublime!

15 de set. de 2014

A falta que me faz

A falta que me faz habita dentro de mim. Lembra a si mesma todos os dias. Parece um corte no dedo, de onde sai sangue azul. Parece chuva de prata em um mundo tão longe.

A falta que me faz deixou presente uma neblina cinza. Parece que vai chover, mas a sensação é ao contrario. Como é suave e intensa a falta que a presença dela me faz.

Todos os dias, iguais, não mais são diferentes, porque a lembrança de ela não estar aqui soa sempre tão viva. Recordo-me de cada pedacinho de dia passado junto e, como uma dor dilacerante no peito, espero a hora passar. 

O sino da meia noite toca sozinho e eu não escuto mais as muitas línguas que ela fala. Eu também não entrego a ela todas as minhas duvidas, e todos os meus desentendimentos com a tecnologia, e tudo o que eu não sei na vida! - tudo por causa da falta que ela me faz.

Quando eu nasci, vim sozinha. Mas eu depois ganhei um presente que habitou comigo a mesma calçada 20 e tantos anos ... Ah, como é dolorido um pedacinho da gente sair de perto do que é nosso, de quem somos. 

Ando azul porque sou assim mesmo, desta cor tão bonita, até quando estou triste. Mas dentro de mim há o som de chuva que quer passar. Grito calado o nome dela pelo caminho - o nome dela é precioso como o vidro: chamo-a de irmã.

Irmã-irmãzinha, que falta você me faz. Desde que você saiu de perto dos meus braços, perdi metade de mim. E olha que eu já havia-me perdido toda anteriormente, mas ninguém na vida é mais amorosa e amada do que você!

Como eu queria ser menos egoísta, ficar feliz por você estar feliz, mesmo ai neste caminho do norte tão longe de mim. Mas acabo contorcendo-me toda, pois perdi a doçura da sua companhia. Tudo lembra você. Você esta aqui o tempo todo: nos lugares em que vou, nos locais em que fomos, nas coisas que deixou para trás, no meu pensamento, em minha casa, em meu coração. Você divide espaço dentro de mim com tão poucas pessoas, porque tão poucas pessoas me são tão preciosas como você!

A falta que me faz nasce com o amanhecer. Perdura ao longo do dia pelas tardes compridas e monótonas, e acentua-se ao cair da noite. A falta que me faz não falta, porque esta sempre aqui, gritando alto. A falta que me faz sera sempre sua, pois apenas você ocupa um lugar tão especial em meu coração. 

12 de set. de 2014

A Campeã

Esta história começa como todas as outras – aquelas que não começaram. Estas são as palavras que descrevem, de maneira debochada, a campeã.

Tudo começou com uma adolescência que veio, e as escolhas de uma mãe, e as malas pesadas, e os passos que trilham o caminho. Vem-se dias, vão-se anos, fica-se a menina – torna-se a campeã.

Era assim a campeã. Dessas que, acredita-se, é habitada por potencial. Dessas que vislumbram a lua e projeta-a em desenho para dar de presente e, assim, torna o passageiro algo eterno. Dessas que sacodem o cabelo sem notar as pequenas coisas irrelevantes que fazem-se pedras no caminho.

Então era assim a campeã. Tão precoce e porem tão forte, Já perdera a inocência porque experimentara o mundo e seu gosto mais amargo – aquele que fica no fundo do copo. Já enxergara as pessoas, já colhera as flores que murcharam, já diferenciava a subida da descida, já cantava antes do soar dos sinos. Era assim a campeã, como galo de igreja em montanha deserta, sabe como? Não, ninguém sabe.

Foi-se assim uma campeã. Assim tão jovial por dentro e tão responsável por fora. Sempre cheia de espelhos. Sempre atenta mas sem olhar. O peso das nuvens era a medida da vida, e um sopro calado era um soco no estômago.
A campeã perdeu muitas lutas. A campeã já nem sabe mais lutar. A campeã tem as mãos leves agora pesadas. A campeã descuida dos detalhes como cor de esmalte. A campeã notava as coisas que não eram escritas de forma bela e aquilo a machucava tanto.

Era uma vez uma campeã. Dessa que ganha luta enquanto perde-se um pouco da vida. Esta, que um dia esperou secar a água que irriga os olhos. Ah, como desejara ser forte, fria e malvada. Ah, como era difícil ser quem não era.

E viva a ironia. E o cansaço do mundo sobre os ombros, pois vive-se em exaustão - ou seria êxtase?


Devia-se ser a campeã, ainda que ela perdesse, ainda que ela ganhasse, ainda que ela não lutasse, conquanto que ela vivesse.