12 de set. de 2014

A Campeã

Esta história começa como todas as outras – aquelas que não começaram. Estas são as palavras que descrevem, de maneira debochada, a campeã.

Tudo começou com uma adolescência que veio, e as escolhas de uma mãe, e as malas pesadas, e os passos que trilham o caminho. Vem-se dias, vão-se anos, fica-se a menina – torna-se a campeã.

Era assim a campeã. Dessas que, acredita-se, é habitada por potencial. Dessas que vislumbram a lua e projeta-a em desenho para dar de presente e, assim, torna o passageiro algo eterno. Dessas que sacodem o cabelo sem notar as pequenas coisas irrelevantes que fazem-se pedras no caminho.

Então era assim a campeã. Tão precoce e porem tão forte, Já perdera a inocência porque experimentara o mundo e seu gosto mais amargo – aquele que fica no fundo do copo. Já enxergara as pessoas, já colhera as flores que murcharam, já diferenciava a subida da descida, já cantava antes do soar dos sinos. Era assim a campeã, como galo de igreja em montanha deserta, sabe como? Não, ninguém sabe.

Foi-se assim uma campeã. Assim tão jovial por dentro e tão responsável por fora. Sempre cheia de espelhos. Sempre atenta mas sem olhar. O peso das nuvens era a medida da vida, e um sopro calado era um soco no estômago.
A campeã perdeu muitas lutas. A campeã já nem sabe mais lutar. A campeã tem as mãos leves agora pesadas. A campeã descuida dos detalhes como cor de esmalte. A campeã notava as coisas que não eram escritas de forma bela e aquilo a machucava tanto.

Era uma vez uma campeã. Dessa que ganha luta enquanto perde-se um pouco da vida. Esta, que um dia esperou secar a água que irriga os olhos. Ah, como desejara ser forte, fria e malvada. Ah, como era difícil ser quem não era.

E viva a ironia. E o cansaço do mundo sobre os ombros, pois vive-se em exaustão - ou seria êxtase?


Devia-se ser a campeã, ainda que ela perdesse, ainda que ela ganhasse, ainda que ela não lutasse, conquanto que ela vivesse.

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