15 de fev. de 2013

Uma vida à nossa maneira

Agora, por exemplo, neste momento de agora que daqui há pouco será passado, estou me perguntando o que é que vale a pena. Estou sentada em uma sala, cercada por pessoas e minha mente teima em escapar. Vagueia pelos apartamentos, faz visita à piscina, chega até você. E de repente, volto. Enquanto isso, me pergunto o que estaria eu fazendo em um dia como esse que fosse, verdadeiramente, meu. Quando é que a gente vai poder viver a vida do jeito da gente? Quando é que a gente vai poder fazer tudo o que a gente quiser? Quando é que tudo isso será possível? Seria?

A vida é curta e passa rápido. A vida é preciosa e alguns a ganham de presente. No entanto, nem todos vivem. Estaria você vivendo? Estaria eu sobrevivendo? E ele, a desperdiçar a vida? Oh, vida!

Pois então. Eu só queria dizer, porque quero mesmo dizer, que a vida da gente deveria ser do jeito da gente. E deveria haver ferramentas disponíveis todos os dias e todas as horas para que pudéssemos construir a vida da maneira que a gente quisesse.

A vida é só uma. A vida acontece só uma vez.

Perto do Coração Selvagem

Perto do coração selvagem encontra-se eu, encontra-se você.

Para sempre perto do coração selvagem eu estarei.

Talvez esse seja o destino de todas as coisas que se resume ao meu: selvagem coração.

Porque gosto da sensação que me traz; porque gosto da lembrança de um faroeste americano onde morei; porque gosto do cheiro da terra dos índios; porque gosto das montanhas que contornam o vale; porque era longe de onde eu nasci; porque, no inverno, fazia muitos graus abaixo de zero e eu sentia frio; porque dá uma sensação de vazio um local como aquele; porque são terrenos longos, formados por ranchos e fazendas e isso faz parte da minha história; porque era noite.

Perto do coração selvagem estaria ela?

Vai ver destino é assim.

14 de fev. de 2013

Era uma vez este dia


Era uma vez uma menina que existiu um dia. E também um dia, que existiu – um dia como esse. Essa menina estava a se arrumar no espelho. Tudo era favorável: o banheiro, por exemplo, era daqueles bem bonitinhos, como ela gosta. Lembrava de como era a moldura do espelho, da banheira que ficava logo atrás e que não era usada, da janela comprida que lhe permitia ver lá fora, o chuveiro que lhe dava tanto trabalho e a bagunça dos outros. Havia ainda o corredor que levava aos quartos, todo em tapete vermelho, e as portas em madeira antiga e escura. Estivera em um palácio?, pensava ela! E havia o príncipe na sala. O príncipe realmente tinha cara de príncipe e, naquele época, comportava-se como tal. Perguntava-se sempre, como a indagar à vida, o que fizera para merecer tudo aquilo. Enquanto isso, ajeitava o cabelo no espelho, com o celular do lado. Parou para escrever uma mensagem, que mandara com tanto carinho e o coração a pulsar forte e acelerado. O reply veio logo e ela, é claro, derreteu-se. Como pudera ter um coração assim tão mole, constantemente a derreter, com tanta neve lá fora? Assim era ela, assim era você. Em um dia como esse.

À noite faria programa a dois. E era mesmo dois: eram dois mas eram um só; era desses programas românticos que, de tão lindo, valeria por dois; e dois, como sempre, era o seu número favorito. Ao sair lá fora sentia o calor do verão que não existia a aquecer seu corpo. Observava as colagens no mural. Tivera tanta vontade de escrever aquilo e se declarar a ele. E, enquanto isso, servia de inspiração. Caminhavam pelo corredor, andavam de mãos dadas, iam em frente, chegavam local favorito dos dois – ou ao menos dela, pensava ela.

Haveria ainda um café da manhã bem pobre mas também tão rico, pois era de grande valor. Uma cama que era não sei de quem, na qual dormiam e faziam gemidos à meia noite de um dia que acabava. E tudo isso com a lua lá fora.

"It all started with the moon, inaccessible poem that it was" (Patti Smith)

A vida pra mim


A vida pra mim é um céu nublado prevendo chuva; são os filmes na estante e eu espalhada no sofá; são meus livros grifados; são os milhares de cadernos espalhados pelos cantos; são as janelas e portas nas quais presto tanta atenção; são os passeios de carro; são as paisagens que me marcam; é a arquitetura que gravo na mente e passo para o papel em forma de desenho; é a comida que faz mal ao meu colesterol mas é minha melhor amiga; são os prédios abandonados e vazios por dentro mas cheios de história; os eventos dos quais não quero participar; meu amor por lavanderias; as memórias que fiz e agora cultivo com capricho; as árvores que enfeitam o caminho; minha coleção de mapas; os planos para o além; meus questionamentos e dúvidas infinitas; as cores de esmalte que meus olhos vêem; a conversa da qual escolho não participar porque não me identifico e por isso não faço parte; as aulas de literatura que fizeram meus dias da faculdade; meus ídolos drogados do rock; os documentários que me moldam; minha mochila cheia de aventuras; minha ânsia por azul; as artes que crio nas horas inapropriadas; o escape do dia-a-dia; aquele cachorro abandonado; os carros antigos; os pôsteres que enfeitam minhas paredes; minha cama que é só minha; fotografias que criei na mente antes de concretizar; a amizade lá de longe; os edifícios religiosos; a repulsa pela minha letra; leite todo dia; essa minha indecisão; as coisas que deixei para trás; bancas fofas de jornal; minha mania por coisas estranhas; meu interesse por você; meu desinteresse também; um balanço na árvore da casa de beira de estrada no interior americano que só eu percebi; o frio e a neve; as folhas de outono; os cheiros que gosto e as lembranças que eles me trazem; a sensação que algumas comidas me trazem; meu desejo de ser um peixinho na infância e minha obsessão por canoas; sentar e não fazer nada; mordidas; meus banhos; o que eu penso sobre você; pedaços de papel e minhas anotações; o leste sombrio europeu e o efeito que tem sobre mim; histórias de viagens que coleciono; meu desprezo por flores; a importância das avós; passeios de ônibus; os mínimos detalhes; como eu enjôo dos perfumes; brincar porque sempre serei uma criança; minha repulsa pelo governo e pelas cores amarelo, laranja e cinza; o tédio que me mata; a hiperatividade que me cansa; a importância dos copos e xícaras bonitos; os brechós da cidade; a lanchonete de hambúrguer; meu pedido de Natal que nunca aconteceu; as lembranças da infância que fizeram que sou eu; aquela noite de nós dois e a parada para comprar donuts e sorvete. E muito mais. E muito, muito mais.

6 de fev. de 2013

Como eu me sinto

E então você se dá conta de que as pessoas são responsáveis pelo que você sente por elas. E que jamais haverá, em lugar nenhum do mundo, relação que se baseie no amor de mãe e filho a não ser que seja de mãe e filho.

No mundo das pessoas grandes, as lembranças que não completam o caminho do passado para o presente, lá ficam. No máximo, consegue uma caixinha com carinho para guardar.

Um dia uma mosca pousou em minha janela. Achei aquilo de tamanha brutalidade que resolvi não fechar a cortina. Fui lá conversar com ela, sabendo que ela jamais responderia. Ao observá-la, recebi todas as minhas respostas.

O mundo é redondo e gira mas o percurso não volta. O hoje já é amanhã e o passado ficou.

Na verdade, eu só queria escrever sobre o modo como as pessoas me fazem sentir por elas. Queria escrever essa coisa tão difícil de entender aqui dentro de mim sobre você, em especial. Creio que meus pensamento são confusos demais porque não são como os de um gênio da matemática, mas misturados com sentimentos e cores. Lamento, mas nasci assim. Não foi mamãe nem papai que fizeram; foi eu mesma, eu nasci assim.

E então, volto a dizer como a repetir: o modo como você se sente em relação às pessoas é de responsabilidade delas.

3 de fev. de 2013

Eu e você

Em uma luz calada, caída e calma: da-se a noite.

Em uma noite como essa, em uma noite como foi aquela, diria que era só nossa.

E a noite deu-se assim: entre sussurros, olhares, conversas, risadas, vídeos, Jim Morrison, fofocas, lembranças, calor, suspiros, fotos que me neguei a tirar, abraços, cócegas, eu e você.

As noites de sábado são como devem ser: dignas do meu dia favorito. E eu e você.