30 de set. de 2013

Vou indo pelo caminho

No meio do caminho, tenho que parar para pegar as folhas que caem no chão, com carinho. Tenho que lembrar de estar atenta ao atravessar a rua. Tenho que parar para observar o tráfego de carros la de cima da ponte onde estou.

Ao longo do caminho, tenho que gravar mentalmente todas as casas que me encantam para desenhar depois, em um futuro não muito distante de um passado renegado de arquiteta que morou dentro de mim. Prometo que vou me lembrar de almoçar, mas sinto muito que a comida seja sorvete. Não sei mudar. Só sei seguir os meus instintos que me danificam a saúde mas me fazem tao feliz.

Enquanto isso, uma visita ao supermercado na lembrança. As coisas que jamais comprei porque não precisava. Nunca precisei de nada! As coisas que comprei e guardei. E toda essa coisa boba que e comprar e pagar. Viva a triste sociedade consumista.

A noite e feita de recortes. Recortes de todas as cores e estampas marcantes. Guardo-os todos em um mural, nos livros que estou lendo, nos cadernos que coleciono e no chão da sala, espalhados. Arrumo o cabelo com carinho, perguntando-me quando e que ele estará novamente tão longo, me ajudando a ser quem sou.

Enquanto isso, os passos que dou são agora mais calmos, certos, reprimidos. Não saio correndo, embora esteja sempre apressada. Vez ou outra, pulo poças de água deixadas pela chuva quando, antes, teimava em me molhar. Respiro o cheiro da chuva que formam meus dias e minhas melhores lembranças. Vou guardando pedrinhas com fomas diferentes que encontro pela rua. Não sei onde começa ou termina a estação do trem, apenas vejo os trilhos pelo caminho. Também não sei chegar na cidade de um país distante que me levariam ate você. Fazer o quê? Posso apenas aproveitar a viagem e observar as propagandas nas ruas, os muros altos e as luzes da cidade. Prometo que comprarei um cartão postal para lembrar esta lembrança.

E assim vou.

16 de set. de 2013

Juventude transviada

Encontrei fotos perdidas por ai e me perdi em mim. Mentira - reparei mesmo foi nos seus pés. Em como tem mania de andar de um certo jeito. Em como justifica tudo isso ao culpar alguém. Coisa da genética, vai saber.

Vi então um olhar perdido, ate mesmo inocente. Liguei as datas aos dias e me dei conta que se passara pouco tempo, embora seu rosto pareça o de uma criança. Ah, a inocência! A inocência que se apoderou do seu rosto tomou conta de mim.

Reparei no que vestia, sem ligar muito. Reparei em quem segurava no ombro direito. Reparei na pulseira e, mais uma vez, nos pés - descalços. Outras coisas continuava as mesmas, mas não vou citar estas características que não e' para entregar o tesouro.

Assim sendo, lembrarei deste teu olhar. Com cara de noviço que ainda não chegou na puberdade e por isso ainda não experimentou andar de trem pela vida. Fez poucas paradas e todas muito rápidas. Manteve a inocência mas destruiu meu coração.

Seria então uma juventude transviada?

15 de set. de 2013

Livro de história

Livros são feitos para inspirar. Livros jamais deveriam ser feitos para fazer chorar.

Era uma vez um livro em minha mão. Muitas vezes fechei a página e li a minha própria história escrita ali. Parei por alguns minutos e me deixei levar. Me deixei levar e por isso fui a todos os lugares que eu havia ido e que um dia, quem sabe, irei. Visitei todos os lugares que um dia tive vontade de ir mas o destino - o nome é esse? - não me permitiu ainda ir.

Fechei as páginas, fechei os olhos. E as lágrimas que guardava dentro de mim saíram enquanto imaginei Você.

Alguns livros são assim: cada folha que passa, soa como facada. Corta, dói, mas ensina. O nome disso é cura, porque a gente aprende. Mas eu sempre me esqueço de lembrar.

Era uma vez uma história contada por algumas folhas que, antes de serem escritas, foram vividas. Agora quem as vive sou eu, embora já as tenha vivido a minha maneira em uma outra história formada por Eu.

Impressiona-me como as histórias dos outros se parecem com a nossa e combinam entre si para formarem o grande quebra cabeça da vida. Muda-se o lugar e as horas, fica-se a lição.

Era uma vez uma história. E um livro e eu.

1 de set. de 2013

Está tudo perdoado

As vezes acordo como gente.

Dou-me conta da preciosidade dos segundos. Lembro-me de que é porque eles são mínimos, pequenos, minúsculos.

As vezes acordo com vontade de correr. Sair correndo por aí. Percorrer todos os caminhos que me deixaram lembranças boas e saudades doídas. E, num impulso maior, sobrevoar as instâncias do além, marcadas por barreiras que o homem criou, deu nomes e leis. 

Preencho minhas noites com beijos, as noites preenchem-me com beijos. Sussurros ao pé do ouvido. Holding hands. Como gosto disso. Fazem quem sou. Nutrem a alma, dão vontade de amanhã. 

E então eu acordo com vontade de viver. Ser tudo o que sou. Somos até mesmo aquilo que não estamos sendo neste momento. Simplesmente somos - nós, que somos de verdade. 

E então fico me vendo caminhar por um gramado verde. Gramados verdes são tao insignificantes, embora estejam em todos os filmes. Deve ser porque faz sentido. 

Dou-me a chance de viver, eu, que quero apenas ser. Permito-me encostar nos meus cadernos encantados, preciosos, guardados. Ouso escrever. Desenhar. E isto tudo é viver. Pinto as unhas, logo eu que acho isso tão fútil. Mas é que faco pelas cores. Pela minha mood. Pelo ritual. Pelo resultado. Jogo jogos de palavras - jogo sem fim! Em uma competição comigo mesma. 

Em uma noite dessas, a gente acorda no outro dia aprendendo a gostar de quem gosta da gente. Querendo esquecer tudo quanto é passado que passou. Numa noite revendo A Lista de Schindler com a irmã do meio, sente-se aquele sentimento mais profundo do mundo que não da para escrever em palavras - apenas sente-se - embora as palavras sejam tão necessárias!

E tudo, cada cantinho do mundo, cada sopro no coração, cada olhar trocado um dia, cada palavra não dita - tudo some como num piscar de olhos, um apagão, um adeus.