30 de mai. de 2016

Se acaso você chegasse

Se acaso você chegasse, seria como se fosse o cair do dia para o começo de uma vida. Quando nos aventurávamos.

Seria a hora de parar o mundo e de experimentar tudo em sua pureza: penso que deva ser como uma ingestão de heroína.

E sempre seria sexta de tarde, ou domingo de manhã, ou sábado o dia inteiro. É também como a véspera do dia pelo qual tanto esperamos.

Se acaso você chegasse, eu me revelaria. Você veria meus olhos e a descoberta do mundo. Leria os meus cadernos e entenderia o significado das poesias.

Se acaso você chegasse, todo o céu do mundo inteiro ficaria azul celeste. De longe, numa nuvem qualquer, sairia um raio único de sol, da cor do seu cabelo. E eu me atentaria para o desenho das suas mãos, porque elas me são tão queridas e seguram a cor do mundo.

O abraço apertado e longo, e também da cor azul, seria sempre o mesmo, se acaso você chegasse. Meus pés são como se estivessem em meias, meu carro como recém-lavado e sempre com cheiro de automóvel novo, uma ponte sempre como a mais alta porque sobre ela caminha a humanidade, os ponteiros do relógio como insignificantes e todo o mistério
da gramática como algo que me seria revelado - ah, se ao menos você chegasse!

E eu diria "oi" para todo mundo sem ressalvas - até para quem eu não conheço - e atravessaria o viaduto com um sorriso no rosto. Teria paixão por câimbras, cozinharia com ainda mais amor, observaria a porta que se abre e como ela move, e o fim do dia teria cheiro daquilo que a gente mais gosta.

Neste instante, sinto-me toda e abraço o meu corpo, porque isso é como se acaso você chegasse...

14 de mai. de 2016

A river runs through it

It's me, in the corner, and a river runs through me.

You wouldn't say it - you wouldn't notice it. Neither remember it. But there it is. It's so small sometimes I forget it.

Small doesn't mean unimportant.

It doesn't matter if it's morning, afternoon, evening or late at night. It can be any time, like a glimse to remind myself: a river runs through my heart. And it has got a name. I call it once in a while. It lives within the best part of me. Can you hear me? I'm saying your name.

And as I wake up to a new day, life takes its course - and a river - oh, river, I love the green shades of your water - runs through it. In every detail I am reminded of its power, yet it's so soft. Look at my tender heart and you'll see it.

So you, river, have taken your course, and I've taken mine, because not choosing is also a choice, and thus the seconds of the hours are counted. Once I counted to ten, and I can tell you: I've lost time.

Eventually, all things merge into one, and a River runs through me. 

13 de mai. de 2016

Hello, I must be going

Hello, I must be going, porque está tudo perdoado. Tudo perdoado novamente.

Era uma vez um homem grande, que era também um grande homem, mas não era nada. Aliás, era nada e era tudo, e era o mundo. Então, ele chegou com o caderno da vida e me mostrou as anotações.

Olhei e vi.

Depois que li, ele falou e disse assim: está tudo perdoado. E eu, com um sorriso no rosto e a expressão de gratidão no canto dos olhos, respondi que "hello, I must be going, então".

E assim fui.

Fui para onde há árvores verde escuro, onde meu cabelo está solto na brisa do ar e batem nas minhas costas, onde ando pelo caminho da vida, onde meus ombros estai leves. De vez em quando, eu nem mais sinto vontade de escrever, porque é assim quanto está tudo perdoado. A gente perdoa até a gente.

E, indo, I must be going. Posso respirar tranquila. Olhar e ver o que a gente vê. Sentir-me como sou mesma, e dar toda permissão.

Hello, I must be going, porque sempre fazemos o melhor que podemos. E, claro, com esta menina aqui que sou eu não seria diferente, pois sempre estou fazendo alguma coisa até quando não estou fazendo nada, e sempre tenho que fazer o melhor que consigo fazer. E sei fazer tão bem! E, então, fiz! E o que fazemos está feito, basta aceitar ou não. Ouvir o som do coração. Dizer que sim ou virar as costas e seguir os passos. E está tudo perdoado - eu perdoo a mim e a você.

Hello, I must be going - mas, lembre-se: eu fiz o melhor que pude, e, o que eu faço, faço tão bem!

2 de mai. de 2016

Sem o medo há o mundo

Sem o medo há o mundo e tudo o que a gente quer ser.

Dá até pra saber quando não se sabe nada.

O medo que habita em nós devora a alma e faz tudo parecer de outra cor, e não da cor do que é mesmo. Parece frio no verão, assim do nada, quando estávamos desprevenidos. Uma pressão que nasce de dentro pra fora e irradia como raios de sol amarelo. Lembre-se que o verão seca tudo.

É como atravessar uma rua com o carro já em cima, cair quando criança e machucar o joelho. É aquela comida que desceu engasgada e virou azia. É um lote abandonado que ocupa um grande espaço de uma rua florida.

Sem o medo há o mundo e o que somos mesmo. Parece até poesia.

O frio na espinha, os olhos encharcados mas tão secos, olhar da janela por uma fresta, acordar de manhã  e nunca ser sábado, não terminar os livros, andar segurando os braços, escrever sem saber como dizer o que deve ser dito, fixar os olhos em um local no infinito em que nunca se chega e que demora a passar: isso tudo é o medo.

O medo deita por cima da gente, deixa mudo o que dizia, abre os olhos do que não vê, estica uma espinha que era curva. Um dia entende-se um pouco do mundo e no outro sabe-se nada. Perde-se quem a gente foi. Habita uma caixa que fica no cantinho. Vira tudo de ponta a cabeça.

Mas, diz-se, que sem o medo há o mundo e os que habitam nele. Porque muitos só moram. Mas há os outros que habitam porque vivem. Há o céu e há o mundo.

Um mundo inteiro, sem o medo que há no mundo.