28 de jun. de 2013

A canção do Sul

A canção do Sul ainda toca no rádio. Lá da rua ainda se ouve seus ruídos e, vez ou outra, as pessoas notam como soa arranhada.

Aqui em baixo, ainda entoa-se uma canção do Sul. A canção do Sul é uma melodia triste, longa e verdadeira. Quando canta, mostra-se inteira.

Quem um dia iria dizer que a canção do Sul poderia ficar rouca! Quantas vezes a canção do Sul desejou não mais cantar, perder a voz, esquecer a letra. Esquecer. Esquecer as letras que um dia foram tão bonitas!

Quando o dia inicia, tem inicio também a canção do Sul. E ela dura até a noite, adentrando a madrugada quando não consegue dormir. Ah, a canção do Sul! Como gostaria de viajar até o Norte.

E assim vai, arrastada arrastando-se, cantando diariamente como se fosse obrigada, porque todo mundo segue o ritmo. E ela não pode desafinar. A canção do Sul ora sai roída, ora sai sofrida.

23 de jun. de 2013

Nazi fluency

E todas as vezes que converso com minha irmã, sou lembrada de você de uma maneira negativa.

Hoje mesmo ela mandou avisar que, ao contrario do que você disse, ela não apenas aprendeu sua língua como agora fala de forma fluente; veio para o seu país .... e o odeia.

São um bando de fascistas, diriam os poloneses, os judeus, os tchecos, os ciganos, e todos os outros do mundo inteiro.

Mas você tinha a sua beleza exterior, diria eu.

19 de jun. de 2013

Apenas um capitulo da historia

E então chegou a hora. A sombra que arrastava-se sobre aquele território polonês fez morada em nossos corações. Ela não sentia mais que a pátria-toda-poderosa da Europa era mais a sua irma. E nem mãe. Nem tia. Nem parente distante.

Chegou o dia da verdade. Uma aula de historia, foi aquilo. Uma revelação. Como um véu que cai. Apenas uma viagem a Auschwitz, eu diria. E tudo fora embora como água rala em ralo. Ah, o desapontamento! Agora a irma do meio, que falava a língua e tinha melhores amigos no local, entendia as outras irmas. Não nutriam mais simpatia. Mas ainda achava-os de uma beleza exterior surpreendente. Apenas exterior dizia ela.

Vai ver seria este o destino. Ter o coração pisado por um nazista. Afinal, e' este o papel dos alemães: serem eles mesmos. Vai ver estava escrito no livro de historia - nada de diário ou livro da vida, vejamos bem. Vai ver foi traçado em mapa de conquistas. Vai ver foi planejado como arte da guerra. E venceria quem fosse melhor. E, embora você tivesse perdido uma II Guerra, desta ultima você saiu vencedor. Mas não se esqueça: o mundo, que você não conquistou, seu Senhor General Nazista dos olhos verdes, da muitas voltas...

E enfim dobrou a conversa que teve com a irmã como se fosse carta.

17 de jun. de 2013

A quem realmente importa

Quem tem o segredo dos meus olhos, o azul escuro que se esconde por trás do meu olhar, o cheiro das madeixas longas do meu cabelo, o toque suave e forte de minhas mãos. Esse alguém, que é você, recebera o meu respeito, o meu carinho e o meu clamor. E a você dedicarei minhas horas tranquilas, meus minutos vagos e minha vontade. A você, que me trilha meu caminho em um sábado a noite e me guarda em seus bracos, dedicarei poemas de vida e sintonias escondidas em casa. A você, que se importa comigo, que me liga no meio do dia, que manda beijos de amor ... a você o meu carinho, a minha atenção, as minhas horas, o meu olhar, o meu pensamento e eu.

15 de jun. de 2013

Dedicatória

A você dediquei os poemas de Shakespeare, não porque eu os admire, mas porque os acho difícil. Recitei-os, tímida, ao pé do ouvido, tentando evitar seu olhar. Mexia no cabelo - outro sinal de minha timidez - desejando sê-los seus.

Para você guardei um conto de Hemingway, mil palavras e minha escrita. Te escrevi dedicatórias e coloquei carinho nos cartões que tive a chance de te enviar enquanto ainda havia tempo. A você ofereci meu tempo, meus dias e meus segundos de vida, sabendo que, perdendo-os, eu só iria ganhar.

A você te dedico a linda e difícil literatura, tão misteriosa, tão pessoal, tão instigante, tão terna, tão minha. Dedico as folhas de rascunho que guardei em branco, assim como as folhas de rascunho em que fiz desenhos sem sentidos. Te ofereço meus cadernos e meus sopros poéticos que irão te levar para um mundo que não conhece - só os grandes poetas conheceram.

A você, que vez ou outra me visita em meus sonhos, sem pedir licença para entrar - pois já sabe do seu lugar aqui - dedico minha ternura, minha hora mais difícil, minha luta contra a injustiça dos governos e, principalmente, um beijo meu, marcado em primeira folha de um livro antigo cujas folhas já estão amareladas.

10 de jun. de 2013

Para onde vou?

Sera que algum dia me encontrei? Se sim, quem eu era?

Acho que estou me perdendo. Perdendo-me de mim mesma. E isto quer dizer que estou indo para longe. O meu receio e' ir longe demais, para um lugar de onde não se possa voltar.

Tenho medo de mim, tenho cuidado de mim, tenho pouca paciência comigo. As vezes quero jogar tudo para o ar, como se o ar desse conta de alguma coisa; o ar apenas atrapalha, bagunça, espalha. Deixa eu ser menos do que já sou, impede-me de encontrar Eu.

Para onde vou, assim tao longe? Por favor, poderia você me livrar de mim? Afaste-me de mim mesma! Isto e' um martírio! Isto e' um pedido! Isto e' uma ordem do regime fascista.

4 de jun. de 2013

O meu dia

Finalmente o meu dia chegou. Sim, o meu dia.

Todo mundo pensa que o dia do aniversario pode ser chamado de "meu", mas e' mentira. Poucas pessoas realmente nascem no dia delas. Meu dia já existia antes mesmo de eu existir. E não pense "mas e' claro!" porque, antes disso, ele era apenas um dia no calendário. Então, em uma determinada hora cósmica, mamãe e papai me decidiram fazer e assim nasceu eu: no meu dia, formado especialmente para mim, 2 de junho.

Sim, o meu dia finalmente chegou. Não que eu tenha esperado muito por ele, porque a idade me pesa as costas e me rouba a inocência. Mas, chegou. E eu, que fazia mil planos a serem concretizados neste dia e alimentava em mim uma ansiedade imensa com medo de os planos não acontecerem, deixei fluir.

E meu lindo dia começou sereno, tranquilo e silencioso, como eu gosto. Foi comemorado com muito amor, brindado pelo meu sono matutino. Mensagens delicadas, desejos bons e sinceros, almoço de engorda, sobremesa estrangeira, telefonemas das pessoas-pessoas, presente-super (como sempre!) do meu pai, passeio de carro pela cidade sitiada e, ao fim do dia, carinho dele... :) + sorvete + passeio de carro + conversas jogadas ao vento + local especial + amor.

Meu dia já se vai e eu, saudosa, fico aqui, mais uma vez, esperando por ele. Uma pena o meu dia durar tao pouco, apenas 24 horas! Sempre achei que eu precisava de mais.

E assim fecho mais um ciclo e abro mais um outro. Eu, nesta minha idade mistica que tiveram os ídolos do rock, sigo a vida a aprender. Aos trancos e barrancos, com arte e com chuva, com sobremesa e meias no pé. E sempre desejando "sair dessa mais forte". Inicio uma vida nova que dei para mim, inicio mais uma folha colorida na minha historia de vida - historia esta que não terá mais algumas pessoas. Vida que segue porque os anos e os aniversários não voltam mais.

Parabéns para mim. Eu realmente mereço parabéns por tudo que vivi, não e' mesmo Vida? So quem esta pertinho de mim sabe um pouco do meu Eu. Aqui começo um começo de seguir em frente, deixando para trás tudo o que não foi. Apenas o que e' continua e o que já passou não e' mais. Isso me lembra uma língua alemã misturada com hebraico, sabe qual?

E então, Márcia, comece o dia, comece a vida, siga em frente e lembre-se, apenas, das pessoas queridas! Neste e nos outros aniversários, nesta e em todas as vidas que voce ganhar. Todo aniversário e', de presente, uma nova vida!