6 de fev. de 2015

Uma Garota Dividida

Uma garota divida não está aqui, e nem em todo lugar e nem em local algum.

Vivi-se como em um barco, sem firmeza porque o que mais se quer é mudar de lugar. Aqui, lá.

Uma garota dividida já não sabe mais fazer contas, deixa os detalhes passarem em sua frente, e conta nos dedos. Foi-se a sinfonia, ficou-se o asfalto cinza que cobre as ruas movimentadas e, por isso, tão paradas.

Uma garota dividida vai a loja e fica na duvida sobre um shampoo: tem-se nele o cheiro dele, por isso ela o volta para a prateleira só para pegá-lo novamente depois. Traz consigo para casa como quem nunca perdeu o que fora seu.

Uma garota dividida é como uma folha de papel branca. Ela é como o céu monótono dos dias de verão: de uma cor só. Ela é como as folhas das árvores da primavera: todas em um tom de verde. E ainda por cima lembra um vidro de lanchonete sujo. A visão fica embaçada, a tosse rouca vai sumindo, o cabelo não está mais bagunçado e toda a teoria criativa dos detalhes da vida espirou-se.

A menina dividida de duas pernas, dois pés e dois passos não vai a lugar nem um. Sequer sabe para onde caminhar, pois segue os passos sem graça que ela mesmo deu. O olho da coruja viu no escuro e o segredo fugiu do ouvido. A porta foi trancada e não restou vizinho algum para contar estória.

Dividi-se toda até que se junta, encontra-se e torna-se ela mesmo novamente.

De novo.