Sem o medo há o mundo e tudo o que a gente quer ser.
Dá até pra saber quando não se sabe nada.
O medo que habita em nós devora a alma e faz tudo parecer de outra cor, e não da cor do que é mesmo. Parece frio no verão, assim do nada, quando estávamos desprevenidos. Uma pressão que nasce de dentro pra fora e irradia como raios de sol amarelo. Lembre-se que o verão seca tudo.
É como atravessar uma rua com o carro já em cima, cair quando criança e machucar o joelho. É aquela comida que desceu engasgada e virou azia. É um lote abandonado que ocupa um grande espaço de uma rua florida.
Sem o medo há o mundo e o que somos mesmo. Parece até poesia.
O frio na espinha, os olhos encharcados mas tão secos, olhar da janela por uma fresta, acordar de manhã e nunca ser sábado, não terminar os livros, andar segurando os braços, escrever sem saber como dizer o que deve ser dito, fixar os olhos em um local no infinito em que nunca se chega e que demora a passar: isso tudo é o medo.
O medo deita por cima da gente, deixa mudo o que dizia, abre os olhos do que não vê, estica uma espinha que era curva. Um dia entende-se um pouco do mundo e no outro sabe-se nada. Perde-se quem a gente foi. Habita uma caixa que fica no cantinho. Vira tudo de ponta a cabeça.
Mas, diz-se, que sem o medo há o mundo e os que habitam nele. Porque muitos só moram. Mas há os outros que habitam porque vivem. Há o céu e há o mundo.
Um mundo inteiro, sem o medo que há no mundo.
2 de mai. de 2016
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