A vida pra mim é um céu nublado prevendo chuva; são os
filmes na estante e eu espalhada no sofá; são meus livros grifados; são os
milhares de cadernos espalhados pelos cantos; são as janelas e portas nas quais
presto tanta atenção; são os passeios de carro; são as paisagens que me marcam;
é a arquitetura que gravo na mente e passo para o papel em forma de desenho; é
a comida que faz mal ao meu colesterol mas é minha melhor amiga; são os prédios
abandonados e vazios por dentro mas cheios de história; os eventos dos quais
não quero participar; meu amor por lavanderias; as memórias que fiz e agora
cultivo com capricho; as árvores que enfeitam o caminho; minha coleção de
mapas; os planos para o além; meus questionamentos e dúvidas infinitas; as
cores de esmalte que meus olhos vêem; a conversa da qual escolho não participar
porque não me identifico e por isso não faço parte; as aulas de literatura que
fizeram meus dias da faculdade; meus ídolos drogados do rock; os documentários
que me moldam; minha mochila cheia de aventuras; minha ânsia por azul; as artes
que crio nas horas inapropriadas; o escape do dia-a-dia; aquele cachorro abandonado;
os carros antigos; os pôsteres que enfeitam minhas paredes; minha cama que é só
minha; fotografias que criei na mente antes de concretizar; a amizade lá de
longe; os edifícios religiosos; a repulsa pela minha letra; leite todo dia;
essa minha indecisão; as coisas que deixei para trás; bancas fofas de jornal; minha
mania por coisas estranhas; meu interesse por você; meu desinteresse também; um
balanço na árvore da casa de beira de estrada no interior americano que só eu
percebi; o frio e a neve; as folhas de outono; os cheiros que gosto e as
lembranças que eles me trazem; a sensação que algumas comidas me trazem; meu desejo
de ser um peixinho na infância e minha obsessão por canoas; sentar e não fazer
nada; mordidas; meus banhos; o que eu penso sobre você; pedaços de papel e
minhas anotações; o leste sombrio europeu e o efeito que tem sobre mim;
histórias de viagens que coleciono; meu desprezo por flores; a importância das
avós; passeios de ônibus; os mínimos detalhes; como eu enjôo dos perfumes;
brincar porque sempre serei uma criança; minha repulsa pelo governo e pelas
cores amarelo, laranja e cinza; o tédio que me mata; a hiperatividade que me
cansa; a importância dos copos e xícaras bonitos; os brechós da cidade; a
lanchonete de hambúrguer; meu pedido de Natal que nunca aconteceu; as
lembranças da infância que fizeram que sou eu; aquela noite de nós dois e a
parada para comprar donuts e sorvete. E muito mais. E muito, muito mais.
14 de fev. de 2013
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