14 de fev. de 2013

A vida pra mim


A vida pra mim é um céu nublado prevendo chuva; são os filmes na estante e eu espalhada no sofá; são meus livros grifados; são os milhares de cadernos espalhados pelos cantos; são as janelas e portas nas quais presto tanta atenção; são os passeios de carro; são as paisagens que me marcam; é a arquitetura que gravo na mente e passo para o papel em forma de desenho; é a comida que faz mal ao meu colesterol mas é minha melhor amiga; são os prédios abandonados e vazios por dentro mas cheios de história; os eventos dos quais não quero participar; meu amor por lavanderias; as memórias que fiz e agora cultivo com capricho; as árvores que enfeitam o caminho; minha coleção de mapas; os planos para o além; meus questionamentos e dúvidas infinitas; as cores de esmalte que meus olhos vêem; a conversa da qual escolho não participar porque não me identifico e por isso não faço parte; as aulas de literatura que fizeram meus dias da faculdade; meus ídolos drogados do rock; os documentários que me moldam; minha mochila cheia de aventuras; minha ânsia por azul; as artes que crio nas horas inapropriadas; o escape do dia-a-dia; aquele cachorro abandonado; os carros antigos; os pôsteres que enfeitam minhas paredes; minha cama que é só minha; fotografias que criei na mente antes de concretizar; a amizade lá de longe; os edifícios religiosos; a repulsa pela minha letra; leite todo dia; essa minha indecisão; as coisas que deixei para trás; bancas fofas de jornal; minha mania por coisas estranhas; meu interesse por você; meu desinteresse também; um balanço na árvore da casa de beira de estrada no interior americano que só eu percebi; o frio e a neve; as folhas de outono; os cheiros que gosto e as lembranças que eles me trazem; a sensação que algumas comidas me trazem; meu desejo de ser um peixinho na infância e minha obsessão por canoas; sentar e não fazer nada; mordidas; meus banhos; o que eu penso sobre você; pedaços de papel e minhas anotações; o leste sombrio europeu e o efeito que tem sobre mim; histórias de viagens que coleciono; meu desprezo por flores; a importância das avós; passeios de ônibus; os mínimos detalhes; como eu enjôo dos perfumes; brincar porque sempre serei uma criança; minha repulsa pelo governo e pelas cores amarelo, laranja e cinza; o tédio que me mata; a hiperatividade que me cansa; a importância dos copos e xícaras bonitos; os brechós da cidade; a lanchonete de hambúrguer; meu pedido de Natal que nunca aconteceu; as lembranças da infância que fizeram que sou eu; aquela noite de nós dois e a parada para comprar donuts e sorvete. E muito mais. E muito, muito mais.

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