8 de jul. de 2012
Enfim chegou o dia
Estava ali na minha frente. Na minha frente. Isso poderia ser real, até pensei. E era. Tinha a oportunidade de tocar. De tocar com mais força até machucar, se quisesse. Enfim, chegou. Andei quilômetros. Peguei um ônibus no qual abri todas as janelas. Desci no ponto certo só por calcular. Não gosto de nada planejado, anotado em papel, explicado - embora o faça. Gosto é de confiar na minha intuição. E ir. Ir assim. Ir sem saber. E no fim ver que acertou. Que acertou-se ... qualquer que seja essa força - vai ver o nome dela é "força que existe dentro da gente".
Mas enfim estava ali. Ela com seu cabelo curto, alisado e cor descorada. Eu com os meus longos, embarassados porque gosto assim, jogando-o de lado, escondendo-o quando ela olhava para ele - é que há muito tempo venho ouvindo histórias de como cabelos dispertam inveja entre as mulheres. Pois assim, preferi esconder o meu.
Reparei no blush. Sim, lá estava ela, bem em frente a mim. E lá estava eu, sentada em um banco impaciente. Toda vez que ela passava por mim, eu fazia questão de não ver. Jogava minha bolsa sobre minhas pernas, como quem não liga para nada, enquanto ela andava com aquele seu sapatinho boneca sem graça como os de todo mundo. Ia e vinha, e eu ali sentada. Acho que eu percorria mais lugares que ela, na verdade. Observei as pessoas que entravam e saíam, isso tudo sem muito se integrar. É que eu tenho medo de me envolver, ficar com dó de criança chorando ou brigar com a mãe que vestiu a filha com blusa verde e saia cor de rosa, por exemplo.
Fiquei esperando me chamar quando ela não chamava. Quando finalmente me chamou, não escutei. É que essas coisas são assim. Está vendo? Não te disse? Quando menos se espera, mais acontece. Bom é ter surpresa, bom é não ouvir quando escuta-se chamar. Finalmente entrei, quando ela falou o que havia feito, quando sei que não aconteceu. Por isso, então, resolvi falar de volta. É automatico. É que nasci assim. Sob esse signo. Sob um céu que esqueci de reparar naquela noite. Mas foi anotado em algum lugar, não se preocupe.
Sentei, finalmente, em um outro lugar. Frente a frente. Frente a ela. Olhei sem querer olhar. Não gosto de olhar nos olhos, mas na boca. Mas às vezes eu olho nos olhos, bem fundo, sem nem piscar. E aí você vai ver. Falei, falava. Respirava. Às vezes repirava fundo. Pausava. Pensava. Falava mais. Me perdia. Relembrava, contava. Sem dar muitos detalhes, isto é. Teve uma hora que meus olhos castanhos se permitiram ser fracos, desses que nem os de cor verde, e chorar. Mas eu chamo é de lacrimejar. Mas ela logo levantou-se e buscou dois papéis. Prestei atenção no número: dois. Esse número é meu, todo meu e só meu. Se quiser saber de mim, olhe para o número dois: sou eu.
E ela, ali na minha frente, deve ter experimentado sensações mágicas pelas quais eu a deixei passar. Sim, elas estão todas dentro de mim. E às vezes deixo as pessoas experimentarem. Poucos tiveram a sorte - você foi um deles. Sim, você. Você!
Mas eu não sei até onde ela se levou e deixou-se experimentar. E nem quero saber. Eu não me interesso muito por muitas pessoas. Por poucas, aos poucos e poucas vezes. É que raro é mais especial. Mas estavamos ali, frente a frente. Espera-se que quando estão frente a frente as pessoas saibam tudo umas das outras? Não, diria que mais "lado a lado". Ou quando uma está à frente e a outra lá atrás. É porque ficou lá atrás, num caminho perdido que um dia tomou lugar.
Falei da minha raiva com raiva. Raiva é uma coisa que demonstro. Tenho até que me policiar. E não vá falar grosseiro com o cachorro, que eu vou ver, que eu vou ficar com raiva e, brava, vou lá brigar. Isso, por exemplo, é um episódio que estou antecipando. Ele na verdade aconteceu depois dessa história aqui, quando eu já estava na esquina.
Mas eu sentada ali, me permitindo, abrindo o meu coração que saía pela boca, e me perguntando: será que ela vai saber? Será que irá me experimentar? Estou me doando. Aproveite! Poucos sabem assim de mim.
Falei. E no fim anotou números que não combinam e seu nome, que eu já sabia. Em um papel reciclado de uma cor meio marrom que acho tão feio. Eu até jogaria esse papel fora se não fosse pelas informações que ele guardava. E aí me pergunto para que reclicar papéis se vão torná-los feios e eu vou jogá-los fora, no fim das contas. Mas isso eu pergunto só para mim mesma, porque nao há solução e quando é assim eu só questiono.
E no fim do dia, que durou um manhã em poucos minutos, nos encaramos, logo eu que olho sem ser notada e não me deixo revelar.
Era so uma médica. Médica da alma. Dessas que meu pai fala que não existem.
Obs.: desculpai-me escrever em símbolos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário