3 de jul. de 2012

Ritual de passagem

Que era um dia daqueles. E um ritual de passagem, dos muitos pelos quais elas ja passou. Foi se transformando, ate passar de sim e sair como um sopro. Quanta tensao, para no fim ficar curada. Quanto tempo duraria? Ela nao saberia dizer, ja adivinhando. Ela prefere anotar, mas gosta de esquecer. Para ter de novo uma segunda vez, que na verdade seria a milesima. Ou a infinita. Preferia nao contar. E que ritual de passagem, so mais um dos varios que ela ja passou. E quando as estatisticas (vamos chamar assim?) desciam, pois o ponto culminante - que na literatura ela chamaria de "climax" - estava se desfazendo, tudo pareceu subir novamente. O telefone tocou, seu coracao acelerou: era seu pai. Pergunta-se se ela esta boa, querendo, pedindo, torcendo ... que sim. Para o bem do outro, e nao do dela. Isso eh chamado brutalidade, mas ela prefere chamar de "bruteza". Sim, foi uma palavra que ela inventou, que eh muito dela, esse negocio de nomear coisas ao seu modo. Passou. Voltou. Respirou fundo. Rezou. Continuou. Deu um sopro e soprou. Depois, como recompensa de infancia, como a menina que era quando preservava a inocencia, sentou na cama, em frente a tela, antes de escrever isso, leu duas paginas de Lispector, a quem chama carinhosamente de Clarice, comeu duas balas e se foi.

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