12 de jul. de 2012

Delicadeza

Delicadeza. Talvez essa seja a palavra chave. Delicadeza pressupõe que eu vou ler tudo o que eu quiser ler pelo simples fato de que eu quero ler. Delicadeza pressupõe notar as cores dos azulejos da cozinha. Olhar para você enquanto você nem percebe. Delicadeza para se escrever em quadro negro. Delicadeza ao separar as coisas que não quero mais e guardar as que eu quero, pelo simples fato de existir amor em mim pelas minhas coisas. Delicadeza para escutar música, porque isso sim exige delicadeza. Delicadeza para ouvir e fingir que ouviu, deixando passar. Isso chama-se delicadeza consigo. Delicadeza em tons de verde. Delicadeza até quando o tom de azul prevalecer sobre todos os outros. Delicadeza para dirigir - essa estou empregando há algum tempo e ainda tenho dificuldade. Gosto mais é correndo. Delicadeza na hora de comprar vasilhas para a cozinha, por exemplo. Quem diria? Delicadeza para saber quando é hora de deixar para trás, ainda que traga consigo. Delicadeza na hora de tomar decisões e principalmente quando não se está tomando nenhuma. Delicadeza com as arquiteturas feias que tomam todo lugar de um país como esse. Delicadeza para com as janelas, pois elas são a alma da casa. Delicadeza com o mato, onde se nasce flores. Delicadeza como uma tabuada de matemática, pois exige-se prática. Delicadeza com você, quando te olho de um visor de computador do outro lado da tela que eu chamaria de outro lado do mundo. Delicadeza enquanto você nem sabe. Delicadeza ao se escrever mas, principalmente, ao se pensar, já que pensamentos viram escrita. Delicadeza para reconhecer as qualidades dos outros e para esquecer os defeitos. Delicadeza para lembrar de dia importante, que aconteceu em algum lugar da Europa Oriental dessa vez. Dessa vez. Delicadeza para não esquecer das outras vezes e ainda lembrar. Delicadeza enquanto se passa em ponte, ao imaginar quem é que fez aquilo. Delicadeza ao cair da noite, que já prevém o futuro climax: a madrugada é a hora mais delicada do mundo. Delicadeza para entender mas, principalmente, para não entender. Porque às vezes é preciso não entender e isso se torna o mais importante. Delicadeza para ser possível se lembrar do quarto de brincar da infância. Delicadeza ao se pensar em lugares abandonados porque eles são de uma delicadeza só! Delicadeza para identificar aquilo que sempre soube mas que de repente esqueceu. Delicadeza como quando se limpa aquários. Delicadeza que você faz nascer em mim sem saber que sequer isso existisse... Delicadeza me faz lembrar você.

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