11 de nov. de 2012

Porque estava distraida

Porque estava distraida, flores nasceram, janelas ficaram com marcas da chuva, cimento rachou. E, enquanto isso, degraus ela subiu, ventos viu passar, cheiros vieram com ela esbarrar, livros segurou na mao firme mas suave. Usou as pernas para caminhar. Foi aonde nao havia pensado existir. Chegou ate la. Por la morou, e ficou, e nao se foi. Reparou nas persianas, aprendeu a mexer na maquina, reclamou da poeira das escadas e se perguntou para que existiam basculantes.

Porque estava distraida, nem viu carro passar. Andou pelo passeio cheio de neve, se equilibrando porque gostava de aventura. Na esquina havia um posto, nas ruas haviam casas abandonadas que poderiam ser chamadas, todas elas, de "dela". A distracao invadiu a loja de conveniencias, a fez questionar-se porque so vendiam bobagens, pulou a maquina de cafe porque pensou que era chato. Cafe so tomava para acordar e estudar. E nunca mais.

Distraida, deixou-o entrar. Distraida, deixou-se entrar. Distraida, sentou de costas mas permitiu, sem nem perceber, sua voz entrar nos seus ouvidos e ficar ali. Distraida. Ela sempre estava distraida, embora sempre prestasse atencao em voce, em nos dois.

Porque a distracao fazia parte do seu dia, e seus dias faziam sua vida, comeu hamburguer e batata frita e desligou-se da sua saude. Queria mais eh viver. As vezes corria, desejando ficar perdida. As vezes cansava e preferia ficar em casa tomando cappuccino, olhando da janela e, no meio daquela neve toda tao branca, ve-lo chegar - radiante, tao branco, como a luz do dia na noite, como a sua luz, como estrela guia, como cometa. Ela gostava de cometa. E o chamava, assim, de seu.

Porque estava distraida fez amigos que amou, guardou-os nas caixinhas decoradas que ficam em seu coracao, cuidou para nao empoeirar, encheu de beijos e pensamentos bons. Porque distraida sempre era, tentou ficar atenta, tentou gravar poema, tentou ate mesmo estudar. E viu que o que mais vale a pena, na vida, na vida inteirinha, eh a vida que ela leva. Vai ver por isso quis te levar nela.

Quando estava distraida, e porque sempre estivera, sempre esta. Estara. Quem sabe a sua espera, como naquela vez no supermercado. Quem sabe so porque valia um sorvete. Quem sabe so porque deixou-se amar. Quem sabe ... so porque estava distraida.

Nenhum comentário: