25 de abr. de 2010

Na idade da pedra

"Quem? Quem já me levou na idade da pedra para um passeíto do qual nunca mais voltei porque lá morando fiquei?"

Lá morando fiquei: Curvelo. Na idade da pedra.

Curvelo continua na idade da pedra. Nas ruas há carroça e bicicleta. No ponto de táxi atrás da igreja os taxistas jogam xadrez. E, também, conversa fora. Quem passar pode participar. E quando passo de carro, não paro nem participo, mas vejo meu tio, sentado no murinho, com seus amigos, conversa fora jogar. Eu passo e grito 'ei tio' e ele devolve meu grito com um aceno e um sorriso. Tudo isso é a idade da pedra. Meu tio sabe que falo é com ele, e sabe que quem fala com ele sou eu. O que nunca acontece em uma cidade grande que na idade da pedra não vive mais, pois nela nunca estão falando com você.

Em Curvelo, a idade é da pedra e só há um provedor de internet pra assinar. Tv a cabo também só há uma. Só variedade é que não há.

As praças ainda são praças, e a gente chama de pracinha. E elas são cuidadas, bonitinhas - ou eram, sei lá. Quando faz calor você sabe onde todo mundo está. Porque todo mundo sai pra tomar sorvete, e dependendo de quem você quer encontrar, você tem que adivinhar em qual sorveteria está. Mas é fácil e você só precisa de 3 tentativas pra acertar.

Há também armazém, com nome de armazém mesmo. Esses nomes, que costumam vir com o nome do proprietário ou da filha dele. E o legal é comprar fiado, ou fazer a notinha que a gente não confere e só paga no fim do mês. É que, na idade da pedra, confiava-se. E em Curvelo, confia-se também.

Mas na idade da pedra, pelo menos lá em Curvelo, as pessoas ainda são vaidosas. Tem salão de beleza em tudo quanto é esquina, uma beleza! Mas você não vai em qualquer um não, assim, escolhendo aleatoriamente, na esquina que passar. A gente sempre vai naquele que a gente vai. Eu, por exemplo, vou no que fica na rua debaixo da minha casa, e chego antes pra ficar lendo revistas, e fico até mais tarde porque engato de conversa com a dona do salão, que é a única pessoa que eu deixo fazer minha sobrancelha. E de vez em quando eu esqueço o dinheiro lá em casa. Ou vou e não levo porque vou buscar mais tarde.

Tem jornal também, oras. O jornaleiro leva o jornal, ou eu corro e busco, porque hora de ler jornal é antes do almoço. Depois é hora de dormir só um pouquinho e no sofá. E o padeiro, olha que bom, deixa o pão nas casas todo dia de manhã. E de tarde, na hora de 'tomar café', como chamam a hora da tarde nessa idade. Naquela moto que tem uma não sei o que (porque não sei mesmo), cheia de pães, broas, fatias, biscoitos, pão de queijo, pão com creme e sonhos. E ele sempre pára é na porta da minha casa, pelo menos na minha rua, e buzina, pra todas as vizinhas que quiserem pães irem pra lá. E quando eu sai pra buscar, tem aquele tanto de vizinha, aquelas que você conhece e sabe os nomes e sabe outras coisas também. Elas te cumprimentam, e, pra eu não precisar abrir o portão, perguntam o que eu quero 'que elas pegam pra mim'. Quando eu estou com preguiça eu deixo. Mas também gosto de ir lá ficar olhando tanto pão e pensando qual vou escolher, logo eu que sou tão indecisa!

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