12 de jun. de 2016

A frente fria que a chuva traz

Eis a frente fria mais fria de todas: a de aquecer meu coração - assim a chuva traz:

meu tempo, só pra mim; um caderno solto com folhas em branco; um sentimento que não se pode nomear e que habita dentro de mim; tentativas de tranças no cabelo, que está curto mas para os outros isso é comprido; o frio gelado a contornar a janela; um homem que escreve e eu prestei atenção nele; começar a comer igual gente de verdade que eu sempre deveria ter sido; o medo alegre de te esperar; as coincidências que moldam o destino; um gato na janela de uma casa na esquina de uma rua que eu parei para fotografar; uma moça ou outra com quem acabei conversando; cheiro de coisa boa no ar do inverno mais denso; as diversas maneiras de se falar uma coisa; o brilho em meus olhos para quem olhar; sentir meu corpo; achar tudo delicioso; subir uma rua íngreme de carro como quem briga com o perigo; adorar tentar; as alternativas que brotam em um canteiro de margarida ao longo da estrada da vida; as portas que levam a lugar nenhum - pensávamos - mas que se abriram para algo em nossa frente; o modo como ele fala e para e pisca e ouve e olha e pega na caneta com a mão esquerda e lê uma carta com ideias que tomaram formas e se tornaram palavras bonitas; eu, parando para respirar; um dia inteiro; comprar tecidos como quem compra possibilidades; olhar para os dedos e ver arte a nascer por meio deles; os desejos; um lugar que estacionei meu carro; lembrar-se com a saudade mais gostosa de todas; olhar para o horizonte e ver poesia; a força do que tem que ser; tornar-se o que se deveria ter sido; ir onde se foi; um lugar na mesa; sorrir genuinamente; deixar ir; respeitar meus sentimentos; abrir a boca e começar a falar canção da década de 70; o sol de inverno que, felizmente, se esconde atrás das nuvens e deixa meus dias mais bonitos; poder andar pelas ruas durante o inverno gélido que me esquenta a alma; o desafio de seguir.




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