Esperei muitos dias para contar, esperei até anos. Esperei cada segundo do relógio, sabendo que o tempo passa mas o que aconteceu fica.
Era uma vez uma madrugada de terça, mas, antes disso, houve os outros dias.
Houve um dia na vida em que começou tudo - a vontade de ser. Houve então os outros dias, comuns, como todos os outros. Eram dias em que eu usava o meu all star preto com branco e caminhava pelas ruas do meu bairro com um sopro-suspiro no coração. E fui indo.
Chegou o dia, chegou o tempo e chegou tudo o que deveria ser: mas eu ainda não sabia.
Eu lembro de quando desci do carro, puxando minhas vidas - digo, malas - e olhei para um prédio grande bem ali na minha frente. Ah, se eu sequer tivesse pensado em olhar para o lado! (e nem adiantaria, porque ele ainda não estava lá).
E os dias foram passando conforme mandava o relógio e, num desses dias, eu olhei para trás. Olhei para trás para ver aquela voz que eu ouvia, olhei para trás para ver quem eu já saberia que ia ser, olhei para trás e lembrei do meu futuro ali, olhei para trás e vi.
E, desde o dia em que vi ele, via-o sempre, ainda que com os olhos do coração, e do desejo, e das minhas mãos. Enquanto isso, os dias, poucos, pareciam longos e, demoradamente, iam passando. Fazíamos tudo o que tínhamos que fazer, como colocar macarrão num prato todo dia na hora do almoço. Isso quer dizer que eu estava cansada de comer todo dia a mesma coisa e sentir-parecer que todos os dias eram a mesma coisa mas no fundo todos os dias eram uma surpresa diferente. Ah!
E então começou a semana pela qual eu esperei mas, no entanto, nem esperava.
(antes disso começou outra semana, a semana anterior a ela, que foi quando tudo começou: quando eu comecei, sabe como?)
E, voltando para aquela semana, a que havia começado, lembro-me de estar escrevendo um artigo sobre James Joyce, muito difícil mas incrivelmente apaixonante, embora eu me culpasse por ter escolhido aquele livro e aquele autor entre tantos livros e autores. Fazer o que? A gente sempre segue o coração. Devo mencionar ainda que eu deixei tudo para a última hora, como sempre, e que todo o tempo que tive para escrever foi ignorado e me concentrei em me virar no último momento: nas últimas 48 horas, que é quando as coisas acontecem. Minha inspiração ou vem quando quer ou vem sob pressão, e, no fim, só há esses dois caminhos mesmos.
Já estou me alongando no que eu queria dizer: que, numa madrugada de terça, que é quando deveria ser, o relógio parou e os ponteiros se perderam porque se encontraram e eu vi que o tempo perdido foi tempo ganho e que, assim, eu o perderia sempre para você. Neste momento, poderia, aqui mesmo, reproduzir uma frase em inglês que ilustra tudo isso, que saiu dos seus lábios mas foi digitada pelas suas mãos, e que eu nunca esqueci. Mas vou deixar para um outro momento.
Eu esqueço o geral, mas os detalhes eu sempre lembro.
E foi assim: de repente, numa madrugada de terça. Simplesmente do jeito que eu pedi para ser, sem mais nem menos, em seus mínimos detalhes. Eu escrevo isso porque, se eu contar, ninguém acredita. Teve o dia e teve a hora e teve o segundo e o minutos que não passavam nunca e o tempo parou e eu também parei aquele momento.
E, para mostrar que é verdade, tudo começou no fim da noite, que era ainda segunda-feira, mas o ato só se concretizou mesmo na terça-feira, de madrugada: de repente, numa madrugada de terça.
Eu não acredito em coincidências. Mas elas existem. Eu é que olho para elas ora de um jeito ora de outro e as chamo de outra coisa. Mas, neste caso, eu não acredito em coincidências. Eu pedi e disse. E me foi dado, e eu recebi com todo o meu amor. E meu coração transbordou de si, ficou mais coração aqui dentro, e desde então eu revivo este momento (só de vez em quando, mas ele está sempre lá) e espero por outros momentos como este: de repente, numa madrugada de terça.
Lembra que foi neste dia?
;)
14 de jun. de 2016
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