16 de jun. de 2016

Duas ou três coisas que sei dela

(De todo os segundos que passamos juntos, aprendi os detalhes da menina que ela é. Ela foi se mostrando aos poucos e, quando vi, já tinha tomado conta: tinha se esparramado no sofá, tirado o seu tênis branco sujo das cores da rua e esticado as pernas até encostar seus dedos do pé nos meus)


Eu, quando sou invadido pela lembrança de você, penso em duas ou três coisas:

Sei que você tinha o olhar contido e já me olhava sem olhar para mim. Sei que reparou quando eu passei pelo corredor e você conseguiu me ver pelo vidro e, desde então, sei que você me olhou com os mais profundos olhos castanhos que eu já vi na vida, e que me olhava sem parar e sem piscar os olhos, porque, como diria você: "hey, handsome: you're the most beautiful thing. Ever."

Sei que você me escreveu nas horas em que o sol e a lua se alinhavam no céu: pôs no papel todo sentimento e pensamento e pedaço de você. Falava sobre mim, mas acabava por revelar-se. Me escreveu as mais doces e tenras cartas, e cartões escondidos pelos cantos, pelas malas, pelas pilhas de roupas, pela vida, que eram para ser achados de surpresa. Sei que deve haver mais cartões e cartas suas pelas esquinas da vida, e eu espero poder encontrar.  Você, que sempre me escreveu tão doce, e tão difícil, e tão verdadeiramente, e tão explícito, e tão longe, e tão quente, e tão carinhosamente de um jeito só seu para mim.

Sei que seus braços eram fortes e fracos mas firmes envoltos em mim. E que poderia para sempre se esconder no meu abraço. E que me abraçaria como se eu fosse a coisa mais preciosa na sua vida. E me envolveria no calor deles, chamando-me de frio, quando era eu quem a esquentava, oras. Mas, apesar de tudo, seus braços eram leves e, quando soltei-me deles, você me deixou ir - isso, porque eu já havia deixado-a ir embora primeiro. Como pude eu? Eu, um homem com suas escolhas, e você, uma mulher refém do que eu decidi para mim e que afetaria nós dois. 


(E sigo os dias e caminhos que o mundo tem para mim e vejo lá na frente. Caminho e sigo e tenho o olhar fixo, por isso não a vejo, ela. Mas, se a vida me perguntar, tenho duas ou três coisas que sei dela, pois a levo atrás do pensamento).


Nenhum comentário: