27 de fev. de 2014

O inventor da mocidade

O inventor da mocidade não sabia o que estava fazendo quando criou você. Quando criou eu. Quando criou todos nós.

Ele, o caro amigo, andava para lá e para cá e, embora sem rumo, chegava a algum lugar. O inventor da mocidade tinha planos maliciosos e um perfume de jasmim. Ele escrevia letras e desenhava frases inteiras que, mais tarde, viravam cartas. Cartas nunca escritas, imaginadas ou enviadas. Estava mesmo era planejando o futuro.

O inventor da mocidade tinha todas as cartas na mão. E um sorriso de lado, do lado esquerdo do rosto. Em seus olhos, podia-se enxergar tudo. E fazer chover. O inventor da mocidade muitas vezes molhou-me com lágrimas.

A mocidade toda vivia o momento, como um que jamais iria chegar. Os dias iam contando, as pessoas iam passando, as rotinas jamais ficaram e as lembranças foram cravadas no solo. Vivia-se um dia de cada vez, até mesmo com um pouco de dificuldade. Isso, porque havia muitas horas para gastar e quase pouco para se fazer quase nada. Tudo, porque eram jovens e formavam a mocidade.

O inventor da mocidade não reparou no erro que cometeu. Se distraiu em uma esquina de um campus, logo ali no local onde não deveria estar. O vento espalhou suas folhas de rascunho e as histórias se encontraram. Como era distraído o inventor da mocidade. E, agora, eles teriam que pagar o preço - mais tarde, ela pagaria pelos dois.

E os dias demorados passam mais lentos, porque são os mais dolorosos. Tudo o que é bonito um dia ficou. As nuvens foram empurradas como sopro de vento e no tecido macio ele encostou. Ficaram apenas as marcas dos dedos.

Ao inventor da mocidade dedicou-se muitas músicas. Muitas leituras. Muitos autores. Poucas flores e um vaso de porcelana. O inventor da mocidade, sempre acreditei, era um cara malvado e sem escrúpulos, que veio este mundo a passeio enquanto escrevia seus poema macabros. Vendo a brisa chegar e vivendo os segundos dos relógios antigos que pararam no tempo, o inventor da mocidade conectou corações, deu de ombros, gargalhou e foi embora.

Tudo o que restou foram eles, um dia jovens.

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