A questão humana é muito mais simples do que se imagina. Tudo o que se precisa é um debruçar na janela.
A questão humana envolve dias frios com horas contadas, espera em consultórios como se as horas não valessem nada, a saga do capitalismo, gostar mais de cachorros, a grama sendo cortada e uma mão no bolso.
A questão humana pede que se esqueça as decepções que até então foram guardadas. Que se maneje bem a fechadura da porta. Que tire o cisco do olho com um sopro leve.
A questão humana é muito mais simples do que se parece. Envolve cartas guardadas, miolos de pão, feiras ao ar livre, coisas sem valor, listras de cores não combinando e palavras não ditas. A questão humana é algo assim bem chato.
Pede-se paciência e prudência para a menina que nunca soube esperar. Logo ela que se vê correndo pelas ruas sem freio, quando, na verdade, não sabe nem respirar. Apaga-se então essas contas matemáticas sem rumo, guarda-se as anotações sociais, passa-se a borracha, pula-se um muro. Nada, e tudo mais.
A questão humana nunca envolveu pessoas. E, por isso, ela, a menina, nunca fez parte. Como uma marginal, observa a sociedade da qual não faz parte. Tudo, porque as coisas giram em torno da questão humana.
Na verdade, ao fim do dia ela percebe que a questão humana é muito mais difícil do que se parece. Isso, porque será exigido dela aquela caminhada que ela não fez, os números das casas memorizados, o ônibus que perdeu, as cercas delicadas das casas, as flores que nunca teve interesse em comprar, o Estado estrangeiro ao longe, as grades fixas nas janelas do oriente, as decepções e coração cortado, a tesoura que lhe cortou o cabelo e doeu, o cão do vizinho que ora latia, ora a observava.
Ela, no final, preferiria não estar envolvida em questões como esta.
23 de fev. de 2014
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