Na sonata de inverno, encontram-se os mundos desconhecidos. Os mundos que nem existem, pois não foram ainda imaginados.
A sonata de inverno comporta xícaras de cafe com as quais enfeito minha sala, longos passeios distantes que levam a lugar nenhum, uma rua sem saída no fim do mundo e os cabelos na cara. O vento, que vem em direção oposta, leva para longe as folhas de caderno escritas. Guarda-se para si o que fora escrito mas nunca enviado. Repara-se nos carros antigos estacionados em garagem. O mundo parou no tempo, não vale a pena mais evoluir. Já foi tudo, humanidade.
Em minha sonata de inverno, há uma musica triste tocando ao fundo. Quem toca é um cigano que encontrei em uma esquina qualquer porque, na querida velha Europa, a dona Sabedoria fala-se assim. Vamos discutir questões de colonização - todas as que não estão nos livros. Vamos fugir pelas portas do fundo. Vamos nos esconder e colocar a culpa na economia. Vamos aproveitar as férias e fugir para os países colonizados. Vamos ser nós mesmos.
E a sonata de inverno, que continua, some pelo caminho de forma suave. Se eu tivesse direito a uma sonata de inverno, eu nunca jamais deixaria-a parar de tocar. Ela ficaria se repetindo em minha cabeça e contornando os meus pensamentos. Dando forma para as minhas ideias não tão brilhantes.
Em minha sonata de inverno, quem escreve a letra sou eu. Escrevo quando me dá vontade. Vivo a minha vida do meu jeito e, por isso, vou tomar sorvete no jantar. E, quando escuto a música, vejo a cor azul, em seus diferentes tons, e lembro que as pessoas dão nome para isso.
Em uma sonata de inverno, cabem meus versos, meu silencio e meu desejo. Cabem as coisas que abandonei, as coisas que nem comecei e as coisas que ainda não existem. Cabem flores não muito coloridas, papéis e mais papéis, minhas mãos firmes mas suaves, minha memória, as marcas do tempo e tudo aquilo que não sou.
Pois isso, sou eu também.
6 de fev. de 2014
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