Eis o som do coração - e ele chega, de fininho, muito estridente.
Este é o som do coração: cujo nome não posso falar.
Ele grita como um sussurro não ouvido; soletra cada palavra como a gritar.
Eis o som do coração: quando já vem, sei que está vindo.
O som do coração foi uma vez silenciado. Coloquei a mão em sua boca e tampei meu coração todo. Ele dormiu, ele morreu - já nem sei. Ele esqueceu e foi esquecido. Mas aí um dia, um dia, ele acordou e falou: eis me aqui, o som e o coração.
O som do coração tem seu nome escrito. O som do coração foi nomeado depois de mim. O som do coração fala baixo e ressoa barulhos de ondas de um mar. O som do coração é a parte mais minha e, por isso, estou a escondê-lo, para guardar o segredo. Se lhe escuto, revelo-me todinha.
Vem ali o som do coração: abaixo a cabeça pois sei que me abraçará todinha. Me envolverá como um fenômeno da natureza selvagem, o qual não sei o nome. Me entregará como um carteiro entrega o papel escrito. Vou lhe contar o segredo: eis aqui o som do meu coração, e ele tem seu nome escrito.
Ontem fui visitada pelo som do meu coração. Fazia um barulho alto que eu não queria. Tapei os ouvidos e deixei-me deitar e estender nesta cama do mundo. Esperei o minuto, que virou hora, que quase durou um dia passar. Fui paciente com tal barulho, fui delicada comigo, fui paciente com o tempo. Deixe estar - disse o som que vinha do coração.
Era uma vez um coração que falava mas vivia calado. Afugentei-me nele e mordi a língua. Guardei cada palavra então para mim. Olhei para as minhas mãos, que redigiam o significado. Ouvi bater os acordes no meu peito - e pensei: será que mais alguém escuta o nome disso?
Eis o som do meu coração: ora isso, ora aquilo. Mas o coração a gente leva dentro do peito - que remédio há?
2 de ago. de 2016
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