18 de ago. de 2016

É cada coisa que escrevo só para dizer que te amo

É cada coisa que escrevo, e outras tantas que não escrevo, só para dizer o indizível: que te amo.

Todas aquelas vezes: quando sentei na mesa para jantar - cada uma daquelas vezes, apressar o passo e torcer para que você viesse, quando te defendi dentro de um ônibus e você nunca soube porque eu nem te contei, as manias que peguei de você e incorporei ao meu repertório de ser eu, quando te apresentei o amaciante de roupas, todas as vezes que falei de você, o pedido para me levar num lugar do qual na verdade eu morria de medo, quando abriu a porta do elevador com os pés e meu coração parou, te olhar de relance enquanto você não via e reparar cada detalhe seu e guardá-los para sempre, minha inspiração para escrever artigos e também a falta dela, os chocolates que lhe comprei e deixei sobre a mesa que você nem usava num quarto onde você não dormia, a ligação em que lhe falei em sussurros de saudade.

E tantas outras coisas das quais não lembro, e outras das quais eu sequer estava aware of, e as outras que sei que existiram. Tantas, tantas, tantas coisas que não eram coisas: eram tudo gestos meus.

Era tudo para dizer que te amo, embora nunca dissesse. Embora nunca te disse.

É cada coisa que escrevo, e tudo se resume ao bater das asas de uma borboleta: é pequeno, é singelo, é até escondido, mas há. Porque é. Será que um dia ainda vai ser? (I wonder)

É cada coisa que escrevo só para não dizer que te amo, quando te amo tanto. Falo de mim, falo das coisas, troco o nome das pessoas. Mudo o assunto, uso metáforas, sinto o cheiro e o traduzo em palavras. Ah, é cada coisa...

É cada coisa que eu sinto quando sinto que te amo. O sentimento parece uma cidade imensa e vazia que habita dentro de mim. Nela, mora o meu coração tão tenro.  É como se eu fosse um jardim de uma casa com um gramado verde na frente, mas, que na Hungria, vira depósito. Aí chega você e tudo fica florido: as árvores são, o céu está, a rua passa. E eu sinto tudo outra vez.

Parece um pássaro, parece um caderno pronto para ser escrito, é como uma folha toda rascunhada do maior carinho meu, é a fotografia de uma lembrança, é aquela melodia de filme, é um olhar no espelho, é um parar no tempo de apenas dois segundos, é eu me dar conta de mim: isso é um eu te amo.

É cada coisa que escrevo só para dizer que te amo: todas as poesias, todas elas. Todas as linhas redigidas como se fossem o palpitar do meu coração. As palavras, cada uma das palavras que escolho escrever. O verbo no infinito, o uso do gerúndio. Há ainda os tempos verbais que não sei, os que uso de forma errada e ainda os que criei: é tudo porque te amo. As citações. A foto de Virginia Woolf pensativa. Os retratos de Sylvia Plath no meu quarto que me encaram de forma tácita - e eu nem sei o que é isso! As cartas de Fitzgerald que não lhe escrevi, mas que tanto lhe escreveria. As coisas que te contei e as que nem te contei ainda. Os lugares que fui, os caminhos por onde caminhei. As vezes que não cruzei com seu rosto por toda parte mas, ainda assim, te levei comigo. A frieza de Hemingway, de onde tiro ternura e envio a você.

É tudo para dizer do meu amor a você, que tanto amo.

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