Quando vejo o caminho ainda úmido, nuvens pesadas e cinzas, prestes a desabar em chuva, paro e penso: é o céu sobre os ombros.
E, assim que começo o caminho e meus passos começam a se ajeitar, toda chuva cai em mim e, num suspiro de sorriso, só tenho a declarar: sim, era o céu sobre os ombros.
Eu já tive o céu ao redor, na frente, atrás e do lado. Mas, confesso, o que mais gosto é quando olho e vejo o céu sobre os ombros.
Porque o céu sobre os ombros, ora visto como o peso nas costas, é o abraço que veio sobre mim. É a lembrança do potencial guardado, é a piscadela rápida enquanto subo correndo uma escada. É esse, sim, o céu sobre os ombros: leve como uma ventania assustadora. Ah.
Eu já tive o céu sobre os ombros e ainda o tenho, mesmo que eu o esqueça de carregar. Lembro de uma vez, que na verdade foram anos, e finalmente o dia que chegou. Lembro de dar 10 passos, olhar para cima, ver um monte de janelas num prédio e falar: "então é aqui". E abrir um sorriso pronto para me levar para o melhor a me esperar.
Eu uma vez tive o céu sobre os ombros, naquela vez em que estive sentada de costas para uma mesa que continha uma gotinha de céu. Tive o céu sobre os ombros naquela manhã que já era quase de tarde e, de ressaca, espiava o olhar mais esperado sobre mim. Tive o céu sobre os ombros quando desci e fui jantar: entre tantas pessoas, a convidada era eu.
O céu sobre os ombros abraçou-me quando, num dia vazio, procurou por eles mas acharam a mim. Falou comigo, e de novo e de novo. E toda conversa virou um novo suspiro, que se alongou pela noite, que recomeçou no outro dia e que durou quase um vida inteira tamanha a sua intensidade.
Eu tive o céu sobre os ombros quando me aventurei a pedir que me levasse em uma aventura: entrar naquele local abandonado, do qual eu morria de medo e só poderia aventurá-lo se estivesse na melhor das companhias: você. Funcionou: nunca entramos naquele lugar, mas estivemos na companhia um do outro por outros vários lugares abandonados que agora eram cheios da gente.
Eu tenho o céu sobre os ombros e o vejo sempre que olho para cima. Vejo-o sempre também quando olho para o lado e, principalmente, quando olho para dentro de mim. Reconheço-o quando leio meus cadernos, quando desenho uma letra ou quando te envio um pensamento meu cheio de inspiração que chega até o outro lado do mundo. Tive e tenho o céu sobre os ombros sempre que estive no melhor de mim e no melhor das pessoas, sendo elas as pessoas certas.
O céu sobre os ombros tomou conta de mim: desceu aqui na Terra e me abraçou num abraço. Falou todas as palavras que eu queria ouvir (eu amo ler palavras - eu vejo palavras em tudo, até no que não é palavra mas desenho). Me deu um beijo e disse-me para perder o juízo sem medo de me encontrar. Me jogou do precipício e esteve lá embaixo para me resgatar. Olhou através de mim e viu além. Me encarou nos olhos sem sequer piscar. Me puxou o cabelo a fim de me lembrar quem sou. Fez tudo o que foi feito para mim desde o dia da Criação com muito carinho. Falou grave como o som do chão, fez-me sentir o cheiro de todas as coisas ao mesmo tempo de uma só vez e gargalhou no último capítulo.
O céu sobre os ombros toma conta de mim. Confesso que muitas vezes esqueço de olhar para ele, pois dentro dele eu moro e vou seguindo como se ao menos pudesse ficar perdida. O céu sobre os ombros veio cá e me puxou.
Eu tenho o céu sobre os ombros e o dia que eu mais gosto na vida é quando eu olho para ele, ele olha para mim, nos reconhecemos e, então, numa piscadela, inicio minha nova história.
Quantas histórias há por vir? :)
29 de ago. de 2016
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