6 de set. de 2016

Condição

Qual a condição?

"Eu sou a condição", pensei.

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Muitas pessoas acham que amor de pai e mãe é incondicional, mas enganam-se: ama-se os filhos porque, estes, como tais, estão na condição. Na condição de filhos.

E se não fossem seus filhos, amaria-os com amor? Sem condições? Amor incondicional?

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Na rua da vida passou uma placa escrita. Fitei-a com os olhos e li. A lição eu já sabia.

Qual a condição para ser você? É que quando você nasceu depositaram em ti tudo o que não haviam sido e não tiveram. E você se pergunta: mas se é apenas sendo. Então, vá ser e assim será. E colocou-se aqui o ponto final.

A condição da vida é não estar contida.

Em qual condição você poderia ser você? Em qual condição eu me seria eu? E como ser-me toda minha? Eu, que nasci na condição de filha, pergunto-me ao olhar minha imagem, que também sou eu, refletida no espelho. Há de se olhar para dentro de si, diriam. Mas é que não vejo nada além de mim. Então, tire-se do seu caminho. Mas não se deixe ser abraçada pelos braços do polvo de uma condição. Digo isso porque hoje li Medusa, de Sylvia Plath, e lembrei de Aurelia, a mãe. Antes, havia lido Daddy e lembrado de Otto, o pai. Mas não apenas dele: ach, du - You.

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Em qual condição eu estaria? Ser eu mesma já não seria condição? É que, se sou eu, sou filha. Mas, não: deve-se ser plateia, ouvidos, uma mulher sem cérebro, um manequim sem coração, eleitorado, governanta, aplausos, microfone, assinatura, concordância dos tempos verbais, gratidão, um lugar ao lado, cinco minutos no relógio, cinco reais a hora, exatidão.

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"Que o amor do meu pai é condicional, a mais pequena desilusão e perde-se". (Ana de Amsterdam)

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