Nunca sabia se era o primeiro jornal ou o último.
Olhava pela janela a hora passar, se arrumava toda para ir a lugar nenhum. Escutava o vento passar como uma pomba que voa. Escovava os dentes porque era assim o ritual.
Um dia ela acordou de dia. Era manhã e era vida. Era tudo quase do jeito que tinha que ser. Ela então foi ler os jornais e ler os sinais: todas as notícias do mundo eram iguais - afinal, seria isso o primeiro jornal ou o último?
O celular apitou e era alguém do país onde está a Alsácia-Lorena: seu amigo lhe avisara que estava como era, e que ela o conhecia. Sim, pensou consigo: está tudo do mesmo jeito - embora novo, continua igual: afinal, isso é ser primeiro ou ser último?
Um dia as manhãs de sábado amanheceram amarelas mas sem sol. O céu tinha, finalmente, a cor que a gente pinta. Ela ficou olhando para os próprios pés. Ela sairia correndo para casa-em-lugar-nenhum a qualquer momento porque as pessoas, no final, a cansavam. Mas havia sempre seu sorriso em seu rosto, até nos pequenos momentos. Enquanto isso, fixava o olhar no morro povoado por casebres ao fim da rua e perguntava: isso é primeiro? Ou último?
Um dia ela começou o dia toda animada. E foi passando os segundos que a levaram até a exaustão. Ao fim de uma tarde, era ela e estava: sua cama parecia um conforto, mas sentia-se desavisada. Ah, quanto há para se viver! Vamos correr porque hoje soa como o primeiro dia, mas pode ser o último!
Um dia todas as folhas caíram das árvores e todas as folhas de um caderno foram escritas. Um dia ela enviou todas as palavras que um dia escreveu. Um dia ela ligou só para ouvir a voz, mas não falou nada. Um dia ela tocou novamente aquela música que mudava o momento atual de lugar. Um dia ela pisou em um espinho que entrou no seu pé. Um dia ela comprou uma coisa e pensou: isso, é só para enfeitar. Um dia ela usou outra coisa que havia comprado. Um dia ela disse que nunca mais compraria nada. Um dia ela buscou a si mesma naquele lugar em que se deixou desamparada. Um dia ela levantou e olhou e viu.
Enquanto isso, andava os dias a pensar quando aconteciam as coisas boas: esse jornal, afinal, é o primeiro ou o último?
31 de jul. de 2016
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