A vida ao redor acontece como nos campos em que vemos uma toalha de piquenique xadrez vermelha. Ou vermelha xadrez. Parece cinema alemão.
As cartas são sempre escritas com um coração todo inspirado e percorre os quatro cantos do mundo na velocidade do vento. As portas na cor marrom são sempre as mais antigas e os vidros da lanchonete são sempre pintados com decoração de natal pelos melhores alunos do colégio. Eu frequentava a aula de artes.
A vida ao redor ecoa profunda, como em um aquário que mantenho no quarto, mas que nunca existiu. Eu sempre achei aquários nojentos e sempre tive muita dó dos peixes, embora soubesse que muitos estariam em pior condição. Mas isso não isentaria a minha culpa.
A vida ao redor parece bolsa de mulher, sem querer ser sexista. Tem um jeito parecido com os degraus que desço para evitar o elevador. Pois eu sempre pensei que pudesse encontrar surpresas pelas escadas, como um casal de namorados, sabe?
A vida ao redor é calma como um chá que a gente toma de tarde. Como o começo da noite - ou cair do dia - no início do outono: extremamente doce! Tem a arquitetura vitoriana de uma biblioteca em que me refugio. Chama pelo meu nome e me dá coragem de vir para fora.
A vida ao redor, como todos já sabem, tem a cor azul marinho e é escrita com minha letra que escrevi com minhas mãos. De verdade. Soa como um poema que não li em pé la na frente da sala pois sou muito tímida. Cheira como a chuva que fecha o dia com chave de ouro - existe nisso maior perfeição?
A vida ao redor a gente percorre de bicicleta e com um carinho todo especial. Ou com meu carro que que tem um D - de Detroit - na traseira e diz para todo mundo que ele é meu-tão-meu. Ou com os patins que aposentei na adolescência pois comecei muito nova contra a vontade de minha mãe. A vida ao redor corre tão depressa e escapa como água no canto do passeio: e eu nem sei para onde vai.
Todos os pensamentos são ditos e entendidos e desvendados. Não há espaço para pausas ou dúvidas ou certezas. Vive-se um dia de cada vez. Há tempo de se parar na padaria da esquina para comer um bolo seco cheio de tédio. Abraça-se as aventuras com que trombamos na esquina. Dá-se a mão. Conversa-se ate com estranhos! Há espaço para tanta gente.
A vida ao redor tem gosto de infância. Aliás, a vida ao redor tem gosto da fase mais gostosa da vida da gente. Somos nós que escolhemos, com refrão e tudo. Como em uma orquestra, a música pode ser tocada mais de uma vez. Ah!, e dou um suspiro tão forte.
A vida ao redor vai se formando enquanto escrevo estas palavras, que saem de mim sem muita hesitação. Escrevo, apenas. Mas eu juro que é tudo verdade em algum momento de alguma forma. Enquanto isso, há uma criança rindo a poucos metros. Quanta inocência e falta de preocupação ao redor.
E as árvores, todas em tom verde escuro e muito altas, fazem sombra para que possamos caminhar melhor. Elas escondem todas as rachaduras e com isso vamos vivendo. Os edifícios vazios são abraçados porque são cheios de história e a memória vive no coração. Não há mais tristeza ou saudade porque tudo que a gente viveu agora vive com a gente. O mundo é um só, e roda para todos. Será que podemos viver mais de uma vez? ... é que a gente vive tantas vezes em uma só vida, não é mesmo?
A vida ao redor chegou despercebida, tímida e calada, mas cheia de personalidade. Ela veio como ela é e só é fragil porque foi sempre, no fundo, muito forte. Ao se cansar, senta-se com os pés para cima. Ou então sai de cena para um canto com o livro na não e vai ler. Foge da mocidade porque se é sempre jovem um pouquinho. Repara bem naquela janela, ela conta a história de um povo.
A vida ao redor em que vivo, a vida ao redor de quem sou.
11 de mai. de 2015
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