16 de mai. de 2015

O inventor da mocidade

Lá vem ele, das esquinas dos cantos do mundo: o inventor da mocidade que não passa dos seus 50 anos.  

Ele, muito vivido, traz consigo um cacho de balões que nos entrega com carinho. Distribui cadernos com folhas em branco, cujas capas são azul marinho com desenhos de peixe em tons verde, para que possamos escrevê -las nos mesmos. Tudo muito discreto e simples. Tão singelo o senhor.

Desde que passou por aqui pelos trilhos houve assovios e troca de olhares que diziam tudo. As lojas ficaram fechadas pois um momento de silêncio era forma de respeito. E, de repente, uma gargalhada no ar que não se sabe de onde veio, mas desconfio muito que ela existia dentro de cada um.

Há os bares baratos, cujas paredes têm marcas que me parecem da guerra - ou assim me parece - e as cadeiras são brancas e de plástico. E uma conversa doída percorre os degraus de uma escada um tanto movimentada. Traz consigo todo o cheiro da memória que invade a gente, aquela memória arrebatadora - sabe de qual estou falando? Escreve com letra bonita, mas deixe a gente ser a gente mesmo. Vamos cuidar melhor das flores - ah, as flores! Eu nunca liguei para as flores pois eu sempre pensei que elas sempre existiriam por si só.

Um muro muito alto foi construído e os limites foram traçados. O passos contínuos foram seguidos e, por isso, dados. Chegou-se onde se devia chegar. Ah!

O sorriso meigo esconde a força da menina. Por meio de um sussurro tem-se uma epifania. Só é necessário o que for primordial e haverá sempre um meio de sabermos o significado de todas as palavras simples e bonitas. O mundo ainda será constituído de roupas penduradas no varal. Olharei para as suas mãos e verei um gesto. Um toque de recolher será como um convite para jantar.

Cada noite dormida será como se ganhássemos mil novos anos, e quanto mais livros lêssemos menos tempo de vida gastaríamos. Eu sei que no fim estou ganhando, mas sempre encontro-me em um confronto moral entre parar e ler um livro, ou sair vivendo com os pés por aí.

Os quietos serão percebidos e os que falam muito se calarão. Tudo será escondido porque será revelado. A noite continuará sempre sendo mais clara que o dia, pois no escuro as coisas são como elas são, e não como nós a vemos. Um teto de vidro será construído para nos proteger, e pedir conselhos será como comprar bilhetes para o cinema. Iremos mudar de lugar como em um piscar de olhos, e, com mais outro piscar de olhos, estaremos apaixonados. Viveremos até a última gota até que se acabe o último minuto com precisão e exatidão.

E então teremos vencido e vivido e recebido o senhor da mocidade com os olhos brilhantes de uma cor de outono. E tudo o que era bom será como antes.

Nenhum comentário: