Não se esqueça que você vai morrer. E entao morrerao os sapatos, os passos nao dados, as maos dadas, os abracos partidos.
Não se esqueça que você vai morrer. E a caixa onde guardo todos os presentes que ganhei de voce sera apenas uma coisa a mais a ocupar espaco neste espaco de tempo. Os cheiros ja nao sinto mais e, quando voce morrer, as lembrancas estarao tao secas que serao varridas como folhas de outono.
Não se esqueça que você vai morrer. E entao irao embora os bons momentos, as lembrancas, as pirracas, as brigas, as idas ao nosso restaurante favorito, as vezes que esperamos pelo taxi e os textos de politica. Quando voce morrer, sei que o ceu ficara de um tom azul escuro em homenagem a mim. Este sim sera o meu dia.
Não se esqueça que você vai morrer. E as fotos que tenho de ti, e as fotos que tiramos juntos, nao mais serao historia. Serao apenas fotos, como em papel. Por que quando voce morrer, nao vou mais me lembrar de ti ao ir ao supermercado, e nem mais sentirei falta da sua companhia nas sextas a tarde. Quando voce morrer o trem tera cruzado o caminho e passado por cima de mim, buzinando atras da montanhas que enfeitam o fim da rua onde fica a minha casa.
Não se esqueça que você vai morrer. E esse dia chegara sem que voce faca nada. E foi exatamente porque voce nao fez nada que este dia chegara. O dia em que voce morrer.
O dia em que voce morrer nao necessariamente quer dizer que voce deixara de existir. Pode ser para voce o dia do seu nascimento, ou o dia da sua ressurreicao, como uma fenix, sem qualquer tom religioso. Para nao lembrar de mim em nenhum momento sequer.
Não se esqueça que você vai morrer e com isso irao a pulseira de pedar de um aquario, os cachecois gemeos, as blusas que esquentam o frio, os sneakers pelos quais dividimos a paixao, os cabelos grandes, os apelidos que significam nossos nomes, os filmes que prometemos ver e nao vimos, as cartas e cartoes com escritos, a ajuda naquele trabalho da faculdade, minha critica realista, minha defesa pelo desconstrutivismo, as fotos da sua linda familia, a comida mexicana, as caminhadas pela cidade, os edificios abandonados, o trem que nao nos leva a lugar nenhum mas nos deixa vislumbrar nossa cidade, a saudade que nao pude matar e tive que enterrar em mim, o barco na beira do rio que divide os dois paises, a mendiga de rua que gostou de voce, a ida aquele restaurante que nao quero citar o nome, as noites que nunca mais dormiremos juntos, seus olhos verdes caidos que me dizem tanto, seu sorriso que ilustrou meu dia, os presentes que nunca jamais enviei, os segundos que nao foram gastos.
Não se esqueça que você vai morrer, e quando este dia chegar, tera chegado.
21 de abr. de 2013
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