2 de abr. de 2013

A espuma dos dias

Dias passam correndo e muitas vezes o garoto que brinca na esquina não consegue alcançá-los. Muito tempo para poucos dedos. Dedos demais com pouca desenvoltura. Vá saber.

Dias também passam devagar porque vêm longos. Há de se evitar? Diga-nos como.

O dia da vida passará em frente à janela alta, solitária e antiga, com vasos de flores em armação de ferro. Uma velha professora estará a ensinar a lição e a madame tentará cuidar da cortina. É preciso muita atenção mas, mais do que isso, é preciso sensibilidade.

Há que se sentir o correr do tempo. Há que se reconhecer que aquilo que tinha tanta importância já nem importa mais. Muitas vezes a questão da importância não é mérito nosso, pois se dependesse de nós ainda insistiríamos. É questão da vida. É a vida que escolhe. A vida, essa criatura devoradora que anda em círculos.

E, com o tempo que se vai, vão também nossos anéis. E nossos brincos, e batons, e buchas, e presilhas, e espelhos, e reflexos, e imagens, e memórias, e os beijos, e os diários, e a cristaleira, e tudo o mais. Vão-se tudo, ficam apenas os momentos.

Um dia na vida passa de carona na esquina. Quem pegou foi quem correu. Correu, muitas vezes, sem precisar sair do lugar. Porque se correu em espírito. Porque se foi sensível. Porque soube reparar. E estralou o dedo, e olhou de lado, e se foi. Como em uma aventura.

Os dias que passam já não voltam mais. Voltam apenas aqueles que não se foram. E esses não voltam mais, porque não se volta o que nunca se foi para longe da gente. Sempre ficou e ficará aqui. Porque os dias são assim: quando gastamos, eles vão. Quando desperdiçamos, eles desaparecem. Quando usamos de forma proveitosa, eles vêm. E quando vivemos os dias, eles permanecem.

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