Os carros que cruzam as ruas, o ciclista que espera o sinal fechar, a mãe que leva o filho e a senhora idosa que empurra o carrinho de compras - nada disso ela iria notar. Nada disso fariam parte da imensidão porque estariam fora, já que imensidão ela escolheu ser você. Você, tão grande.
Se a deixasse entrar, ela invadiria. Se a deixasse entrar, ela viria com passos leves como o de uma bailarina a perder suas sapatilhas de balé. Ela viria a deixar os cabelos longos ao vento, porque não se importa que estejam bagunçados e parecidos com os seus.
Deixa ela entrar, e se fazer em casa, e se sentir em casa. Espreguiçar sobre o seu peito, passar os pés nos seus, cruzar dedos, cozinhar sem saber. Pintar o ambiente de azul, pôr aquela música que ela não sabe cantar e, ainda assim, cantar para você. Pegar a máquina mágica, registrar seu rosto e congelar no passar dos tempos uma memória que nunca se foi. Deixa ela entrar e ficar.
Se a deixasse entrar, ela tocaria na porta de uma leveza tão delicada que o mundo se abriria. As nuvens, tão leves, não mais se sustentariam e viriam a desabar. O planeta Terra, então, tornaria céu, e o mundo também.
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