Sob o peso da história, e eu estaria mais leve.
Eu até jogaria meus cabelos ao vento, eu, com cara emburrada mas coração tão terno. Eu falaria baixinho um monte de repetições insensatas como se fossem criptografias. E seguiria meu caminho.
Sob o peso da história, e eu estaria mais leve. E seria mais eu. E piscaria meus olhos escuros sem parar. E ainda ousaria soltar uma gargalhada contida, pois não sou fã de barulhos demais. Seria uma celebração singela e as cores em branco representariam a vitória dos aliados. E estaríamos livres e sem o peso da história.
E neste momento eu não estaria falando mais do que de mim mesma. Então, pegue as anotações e lembre-se: falo do peso da história que alguns trazem consigo e, por isso, esqueça países. Falo de pessoas, falo de sentimentos e problemas, falo do que não quero viver, falo de um bebê chorando, falo de uma criança pirracenta e de um idoso segurando flores ao atravessar a rua, falo de um senhor mal humorado e paro para pensar se mau se escreve com "u" ou com "l" e, como sei que é com os dois - ah, como sinto o peso da história neste momento! - desmancho-me em pedaços de mim e sigo o vento disfarçado de brisa. Mas eu não me engano.
Um dia eu lhe disse que o caminho era duro. Não havia tanques de guerra nem trovões, mas era duro. Não havia rajadas de vento e nem cortinas as minhas janelas tinham, mas havia um peso, e um sobrepeso, e havia eu tão pequenininha. Pai, você está aí? Olhe aqui para mim deste lado, abre a porta pois a fechadura é pesada, puxa uma cadeira e se assenta para ouvir a estória que eu vou contar. Pai, você poderia? Você faria isto por mim?
Mas, neste momento, saí correndo.
E não se engane: não me refiro aqui aos noticiários e nem ao zum-zum-zum de comentários da imprensa internacional. Também apaguei as linhas dos mapas com minha borracha de escola e eu nem me lembro do dia. Mas eu gostaria muito de conversar sobre o assunto dos últimos tempos com você. Não estou fazendo julgamentos sobre a história vivida e nem sobre a história construída. Não estou colocando a culpa nas potências e nem redimindo os oprimidos.
Estou apenas carregando em mim e comigo o peso da história ...
E como pesa!
9 de set. de 2015
31 de ago. de 2015
O instante zero em que adormeço
Vou chamar isto de o instante zero em que adormeço.
Porque este é exatamente o momento em que deixo de ser eu e passo a ser eu mesma. Porque somos o que sempre nos será permitido ser.
Este é o instante em que adormece pois coloco meu caderno de lado. Fecho a folha em branco e encaro minhas canetas coloridas como se fossem apenas tons de preto. Encaro-as tão fortemente como se eu fosse um pássaro predador. Mas estou apenas sendo eu mesma ao deixar de ser.
No instante em que adormeço desperto todos os meus dedos e meus sentidos interiores e os arrepios e os sussurros ao ouvido, e apago a luz. E espero os segundo a passar, contando-os como se fossem apenas barulho de chuva.
Ultimamente não tenho sequer escutado música, que é para eu me dessensibilizar. E se você acha que quando sou sensível sou fraquinha, engano seu: é nesta hora que preciso ser mais forte, e eu já me cansei há tanto tempo.
O instante em que adormeço chega sempre próximo aos meus pés, e eu o deixo tomar conta de mim. Deito em minha cama com um livro na mão, pois esta é a hora de se menos pensar e apenas absorver. Enquanto leio, não faco nada, apenas aprendo. E só aprender sem precisar viver soa-me como uma cantiga antiga destas em que vejo os tons musicais nas cores azul.
Neste instante, nada tenho escrito e nada estou fazendo sentido, porque o sentido quem faz sou eu. Prefiro ir deixar existindo e esperar pelo momento em que adormeço, que pode ser doce como o meu cheiro esta noite.
Porque este é exatamente o momento em que deixo de ser eu e passo a ser eu mesma. Porque somos o que sempre nos será permitido ser.
Este é o instante em que adormece pois coloco meu caderno de lado. Fecho a folha em branco e encaro minhas canetas coloridas como se fossem apenas tons de preto. Encaro-as tão fortemente como se eu fosse um pássaro predador. Mas estou apenas sendo eu mesma ao deixar de ser.
No instante em que adormeço desperto todos os meus dedos e meus sentidos interiores e os arrepios e os sussurros ao ouvido, e apago a luz. E espero os segundo a passar, contando-os como se fossem apenas barulho de chuva.
Ultimamente não tenho sequer escutado música, que é para eu me dessensibilizar. E se você acha que quando sou sensível sou fraquinha, engano seu: é nesta hora que preciso ser mais forte, e eu já me cansei há tanto tempo.
O instante em que adormeço chega sempre próximo aos meus pés, e eu o deixo tomar conta de mim. Deito em minha cama com um livro na mão, pois esta é a hora de se menos pensar e apenas absorver. Enquanto leio, não faco nada, apenas aprendo. E só aprender sem precisar viver soa-me como uma cantiga antiga destas em que vejo os tons musicais nas cores azul.
Neste instante, nada tenho escrito e nada estou fazendo sentido, porque o sentido quem faz sou eu. Prefiro ir deixar existindo e esperar pelo momento em que adormeço, que pode ser doce como o meu cheiro esta noite.
2 de ago. de 2015
Abraços partidos
Aquele adeus que não nos demos, o afrouxar das mãos, meus olhos escuros marejados e o vento gelado do sul batendo em meus cabelos sem cessar.
Eu era apenas uma menina. Eu era apenas eu. Mas eu era mais do que isso.
Abraços que nunca demos, abraços divididos ao meio, abraços que se encontram em si e se tornam casa. Tenho os braços finos e bravos, mas eles não são invencíveis.
Um dia um inseto de luz saiu voando de um mato adentro. Era um monte de flor, mas eu chamo tudo de mato porque estou insensível. E ele olhou nos meus olhos a me encarar, como se a vida fosse um desafio.
Era uma vez uma menina que era eu, em frente ao antigo prédio, a atravessar a rua para o outro lado - o lado da livraria - e então vi o inseto de luz. Eu nunca soube se aquele inseto de luz tinha a luz como essência dele, isto é, como se já tivesse nascido assim como obra do acaso, ou se a luz era só um meio para o dia em que se esbarrou comigo. Eu nunca soube.
Daquele dia em diante, eu saberia, muitos anos depois, que as horas são contadas, na verdade, ao contrário. E que todo ganho é lucro. E que quando se perde se ganhou também. E que os tijolos de uma casa verde podem construir minha memória, e eu assinei meu nome em um caderno em um lugar que eu fui. Mas eu não sei rezar.
E estou tranquila, pois acordei de um sono no qual vivi um sonho que me deixou muito chorona. Tem sonho que vem e dá um soco no estômago da gente, porque ele é aquilo que a gente comeu mas ainda não mastigou. Um dia eu acho que você ainda não me disse adeus - digo, assim, adeus propriamente, sabe?
Meus braços são finos, mas são fortes, mas eu não os sustento e eles, por vezes, não sustentam a mim. Me sinto como passando em frente aos edifícios sérvios - oh, é então assim que a gente se sente quando não dá adeus e quando sente que ficou meio inacabado e quando há um monte de coisa que a gente comprou e juntou mas nunca presenteou?
Eu acho que a coisa mais educada que eu posso oferecer é dar bom dia e dar adeus. Isso eu dou todo dia até para quem eu não conheço, porque eu acho educado. Mas é só um bom dia e é só um adeus, porque não estou ali para ter uma conversa profunda com desconhecidos, mas I acknowledge your existence. Eu acho tão difícil achar as palavras na língua da gente.
Estou dando estas voltas todas porque, na verdade, eu nem queria falar mais. Eu estou só tirando esta coisa aqui de dentro de mim. Eu, que acordei há pouco de um sonho, e que senti necessidade de falar - digo, escrever. Eu, que tenho os braços finos e fortes, e dou bom dia e digo adeus. E você, faz o que, meu querido?
Uma vez eu comprei um (e mais de um) presente para uma pessoa e esta pessoa nunca os recebeu. Eu os guardei na caixa e achei aquilo uma tamanha aspereza. Mas eu sou eu, e você é você, e nem todos dão bom dia e muito menos dizem adeus.
Também nunca recebi um livro e, enquanto isso, vou caminhando o caminho e pensando que cada local do mundo tem suas pessoas e seus costumes e, quem sabe, sua aspereza. Existe uma palavra assim, tão rude, para traduzir o que estou querendo dizer?
Eu era apenas uma menina. Eu era apenas eu. Mas eu era mais do que isso.
Abraços que nunca demos, abraços divididos ao meio, abraços que se encontram em si e se tornam casa. Tenho os braços finos e bravos, mas eles não são invencíveis.
Um dia um inseto de luz saiu voando de um mato adentro. Era um monte de flor, mas eu chamo tudo de mato porque estou insensível. E ele olhou nos meus olhos a me encarar, como se a vida fosse um desafio.
Era uma vez uma menina que era eu, em frente ao antigo prédio, a atravessar a rua para o outro lado - o lado da livraria - e então vi o inseto de luz. Eu nunca soube se aquele inseto de luz tinha a luz como essência dele, isto é, como se já tivesse nascido assim como obra do acaso, ou se a luz era só um meio para o dia em que se esbarrou comigo. Eu nunca soube.
Daquele dia em diante, eu saberia, muitos anos depois, que as horas são contadas, na verdade, ao contrário. E que todo ganho é lucro. E que quando se perde se ganhou também. E que os tijolos de uma casa verde podem construir minha memória, e eu assinei meu nome em um caderno em um lugar que eu fui. Mas eu não sei rezar.
E estou tranquila, pois acordei de um sono no qual vivi um sonho que me deixou muito chorona. Tem sonho que vem e dá um soco no estômago da gente, porque ele é aquilo que a gente comeu mas ainda não mastigou. Um dia eu acho que você ainda não me disse adeus - digo, assim, adeus propriamente, sabe?
Meus braços são finos, mas são fortes, mas eu não os sustento e eles, por vezes, não sustentam a mim. Me sinto como passando em frente aos edifícios sérvios - oh, é então assim que a gente se sente quando não dá adeus e quando sente que ficou meio inacabado e quando há um monte de coisa que a gente comprou e juntou mas nunca presenteou?
Eu acho que a coisa mais educada que eu posso oferecer é dar bom dia e dar adeus. Isso eu dou todo dia até para quem eu não conheço, porque eu acho educado. Mas é só um bom dia e é só um adeus, porque não estou ali para ter uma conversa profunda com desconhecidos, mas I acknowledge your existence. Eu acho tão difícil achar as palavras na língua da gente.
Estou dando estas voltas todas porque, na verdade, eu nem queria falar mais. Eu estou só tirando esta coisa aqui de dentro de mim. Eu, que acordei há pouco de um sonho, e que senti necessidade de falar - digo, escrever. Eu, que tenho os braços finos e fortes, e dou bom dia e digo adeus. E você, faz o que, meu querido?
Uma vez eu comprei um (e mais de um) presente para uma pessoa e esta pessoa nunca os recebeu. Eu os guardei na caixa e achei aquilo uma tamanha aspereza. Mas eu sou eu, e você é você, e nem todos dão bom dia e muito menos dizem adeus.
Também nunca recebi um livro e, enquanto isso, vou caminhando o caminho e pensando que cada local do mundo tem suas pessoas e seus costumes e, quem sabe, sua aspereza. Existe uma palavra assim, tão rude, para traduzir o que estou querendo dizer?
26 de jul. de 2015
Mas tudo isso num instante passa
Acalma-se o coração inquieto com um copo de leite quente que eu peguei lá na cozinha - tenho-a em meus olhos do jeitinho que ela é. E vai-se subindo as escadas, degrau por degrau, um de cada vez.
Repara-se nas mãos pequenas segurando o copo, o cabelo caído meio de lado, pergunta-se qual o tom das mechas, encosta em um recanto e espera os minutos passarem. Pela janela, nota-se o vento a corroer andaimes. Tudo está sendo como deveria, mas tudo isso em um instante passa.
E vive-se e respira-se e levanta-se e veste-se uma camiseta de listras vermelhas. Isto, porque já é dia e veio a hora de se apressar a viver. E, corre, porque tudo isto em um instante passa.
E sabe aquele choro contido que levo no peito? E até aquele choro em que me desabei a chorar? Ah, tudo isso num instante passa e eu estou toda renovada de novo e abro minha mão pequena para tocar em algo que respire arte. O vento lá fora continua.
A gente houve o que não quer, o que ser quer quase não se ouve, e as árvores mechem de uma maneira tão rude, não é mesmo? Chega a machucar o coração. Se eu pudesse anotar esta coisa vivida, eu anotava. Que era para te contar parte por parte para você poder me dar um abraço bem apertado que durasse mais que um minuto. Porque isso, também, em um minuto passa.
Levanta este rosto vermelho, suas bochechas continuam as mesmas! Coloca esta roupa de ser quem se é e sai para caminhar pelos dias porque eles vão passando. Ou se corre ou se perde - mas acha-se. E isso tudo num instante passa para vivermos tudo de novo outra vez de mansinho.
Era uma vez um leão que ruge no meio do espaço a céu aberto escuro.Era uma vez uma noite como aquelas - a noite que eles chamam de "a noite dos anjos". Bate-se com uma mão mas assopra-se com a outra. Guarda para si o que se ouve, ainda que não concorde com cada pingo no "i". Ouve-se ao longe o cavalgar do cavalo. Preste atenção em todos os meus livros na estante, que são muitos. Vou anotar tudo em um pedaço de papel. Vou viver tudo dentro do meu coração, quieta.
E, enquanto isso, pensa-se: mas tudo isso num instante passa.
Repara-se nas mãos pequenas segurando o copo, o cabelo caído meio de lado, pergunta-se qual o tom das mechas, encosta em um recanto e espera os minutos passarem. Pela janela, nota-se o vento a corroer andaimes. Tudo está sendo como deveria, mas tudo isso em um instante passa.
E vive-se e respira-se e levanta-se e veste-se uma camiseta de listras vermelhas. Isto, porque já é dia e veio a hora de se apressar a viver. E, corre, porque tudo isto em um instante passa.
E sabe aquele choro contido que levo no peito? E até aquele choro em que me desabei a chorar? Ah, tudo isso num instante passa e eu estou toda renovada de novo e abro minha mão pequena para tocar em algo que respire arte. O vento lá fora continua.
A gente houve o que não quer, o que ser quer quase não se ouve, e as árvores mechem de uma maneira tão rude, não é mesmo? Chega a machucar o coração. Se eu pudesse anotar esta coisa vivida, eu anotava. Que era para te contar parte por parte para você poder me dar um abraço bem apertado que durasse mais que um minuto. Porque isso, também, em um minuto passa.
Levanta este rosto vermelho, suas bochechas continuam as mesmas! Coloca esta roupa de ser quem se é e sai para caminhar pelos dias porque eles vão passando. Ou se corre ou se perde - mas acha-se. E isso tudo num instante passa para vivermos tudo de novo outra vez de mansinho.
Era uma vez um leão que ruge no meio do espaço a céu aberto escuro.Era uma vez uma noite como aquelas - a noite que eles chamam de "a noite dos anjos". Bate-se com uma mão mas assopra-se com a outra. Guarda para si o que se ouve, ainda que não concorde com cada pingo no "i". Ouve-se ao longe o cavalgar do cavalo. Preste atenção em todos os meus livros na estante, que são muitos. Vou anotar tudo em um pedaço de papel. Vou viver tudo dentro do meu coração, quieta.
E, enquanto isso, pensa-se: mas tudo isso num instante passa.
17 de jul. de 2015
For Johnny Pole on the forgotten beach
And Johnny Pole was one of them.
He gave in like a small wave, a sudden
hole in his belly and the years all gone
where the Pacific noon chipped its light out.
Like a bean bag, outflung, head loose
and anonymous, he lay. Did the sea move fire
for its battle season? Does he lie there
forever, where his rifle waits, giant
and straight?...I think you die again
and live again,
Johnny, each summer that moves inside
my mind.
He gave in like a small wave, a sudden
hole in his belly and the years all gone
where the Pacific noon chipped its light out.
Like a bean bag, outflung, head loose
and anonymous, he lay. Did the sea move fire
for its battle season? Does he lie there
forever, where his rifle waits, giant
and straight?...I think you die again
and live again,
Johnny, each summer that moves inside
my mind.
It's just that I'm currently reading Anne Sexton's biography - but, oh no Johnny Pole, it's not just that.
16 de jul. de 2015
Feio nao é bonito
Feio não é bonito, e nem nunca foi. E, para a informação da humanidade inteira para todo o sempre: nunca será.
Feio não é bonito e fecho a mão e formo um punho. Depois abro os dedos de novo e respiro uma brisa.
Já diziam os filósofos nas entrelinhas, e os poetas em suas metáforas. Já diziam os vizinhos, os velhos ditados em língua estrangeira e os jornais na banca. Já diziam as árvores, e o rio, e e as pipas que as crianças soltam para colorir meu céu. Já diziam também os cachorros, os gatos e até aquele caixote vazio que deixei na esquina para o lixeiro levar para terra de são nunca.
E, porque feio não é bonito, não há nem discussão. Nem conversa sequer. Nem mesmo meu piscar de olhos. Há, no máximo, meu sorriso meio de lado debochado. E você poderá ver o brilho em meus olhos contidos. E não vou me alongar muito.
Anota aí porque os dias são longos e a gente vai vivendo e há quem acabe esquecendo que feio não é bonito. Depois leva uma rasteira, um cutucão no ombro ou um assobio e, perdido, não presta nem para aprender a lição. Anota aí que na grande guerra muitos não foram punidos, mas feio não é bonito e disso tem-se exatidão. Anota aí que, nas diárias neste país localizado neste local do mundo, feio não é bonito, ainda que se queira e se tente e se vote e se legisle e nunca se siga leis. Feio não é bonito, gente. Eu vou falar mais uma vez.
Feio não é bonito e fecho os olhos do coração. E me guardo toda em uma roupa de passear com vidrilhos, pois estou me preservando. Vou me juntar todinha em pernas cruzadas como sentar de índio, pois vou assistir tudo - muito bem detalhada que sou. Mas, se o vento já vem de longe, sigo em sua direção.
Enquanto isso, os minutos seguem correndo e parecem uma eternidade, mas, no limiar da vida (e esta é uma palavra que pensei agora), a curva é estreita e, o que não é bonito, é feio.
Pronto.
Feio não é bonito e fecho a mão e formo um punho. Depois abro os dedos de novo e respiro uma brisa.
Já diziam os filósofos nas entrelinhas, e os poetas em suas metáforas. Já diziam os vizinhos, os velhos ditados em língua estrangeira e os jornais na banca. Já diziam as árvores, e o rio, e e as pipas que as crianças soltam para colorir meu céu. Já diziam também os cachorros, os gatos e até aquele caixote vazio que deixei na esquina para o lixeiro levar para terra de são nunca.
E, porque feio não é bonito, não há nem discussão. Nem conversa sequer. Nem mesmo meu piscar de olhos. Há, no máximo, meu sorriso meio de lado debochado. E você poderá ver o brilho em meus olhos contidos. E não vou me alongar muito.
Anota aí porque os dias são longos e a gente vai vivendo e há quem acabe esquecendo que feio não é bonito. Depois leva uma rasteira, um cutucão no ombro ou um assobio e, perdido, não presta nem para aprender a lição. Anota aí que na grande guerra muitos não foram punidos, mas feio não é bonito e disso tem-se exatidão. Anota aí que, nas diárias neste país localizado neste local do mundo, feio não é bonito, ainda que se queira e se tente e se vote e se legisle e nunca se siga leis. Feio não é bonito, gente. Eu vou falar mais uma vez.
Feio não é bonito e fecho os olhos do coração. E me guardo toda em uma roupa de passear com vidrilhos, pois estou me preservando. Vou me juntar todinha em pernas cruzadas como sentar de índio, pois vou assistir tudo - muito bem detalhada que sou. Mas, se o vento já vem de longe, sigo em sua direção.
Enquanto isso, os minutos seguem correndo e parecem uma eternidade, mas, no limiar da vida (e esta é uma palavra que pensei agora), a curva é estreita e, o que não é bonito, é feio.
Pronto.
6 de jul. de 2015
Olhos oblíquos de cigana dissimulada
Tinha olhos dissimulados que usava para se dissimular. Dissimulava-se todinha e assim ia indo. Era o seu jeito de amanhecer o dia ou fazer entardecer. Cada um ia indo com o que tinha.
Olhos de cigana dissimulada e ela pensaria ser uma alma viajante. Colocaria um monte de miçangas coloridas baratas e não passaria de um esteriótipo ridículo, precisando, assim, passar-se por dissimulada.
Retrucava o mundo dentro de si, com um deboche que fazia ao mexer com a boca. Tinha cheiro de azul piscina os últimos tempos e então ela se perguntava, de um jeito meio dissimulado, se isto não era previsão de tempos bons.
Tinha um jeito todo seu: era assim e pronto. Não saberia viver de acordo com as regras dos outros porque, desde que nascera, sentia que devia obedecer ao seu próprio chamado - e qual seria ele? Ah, estaria ela sendo apenas dissimulada?
Vou te contar uma coisa: eu escuto tudo o que o povo não vê. Vou guardando como que em caixinhas e uso as cartas no decorrer do jogo. A dissimulação é o meu disfarce o os olhos são o espelho de minha alma que me entregam a ti. Quero me esconder, sou tímida e reservada, vivo uma vida discreta no aconchego de um dia ensolarado que acontece lá fora e vou me guardar para a minha verdade.
Eu hoje acordei meio assim e vesti a roupa de ser. Hoje é dia de ser de um jeito porque ao final do dia colhe o que se planta. Então, foi escutando baixinho como se catasse sementinhas de feijão, que depois planta e brota. Sabe como? Sabe não?
Seus sorrisos eram apenas pensamentos travados, e ela se contorcia toda para não se entregar. De vez em quando falava uma coisa ou outra que mais soavam como uma facada - é que as pessoas não estão preparadas para o que elas tem que ouvir. E quem é que está? Só se aborrecia de vem em quando com a tarefa que lhe fora incumbida: dizer.
Algumas vezes sentia-se morrendo por dentro de tanta coisa que ia sabendo e guardava na caminhada vivida. Ia pondo tudo dentro de uma cestinha que, vez ou outra, enchia-se. Ah, saia de perto porque agora é hora mil. Sabe o que quero dizer com isso? Quero dizer apenas a verdade. Mas a verdade não existe. Então vou falar apenas os fatos porque, estes, aconteceram.
Lembra do meu olhar oblíquo enquanto sou apenas uma cigana dissimulada. Lembra.
Enquanto isso, a realidade ria de todos eles.
Olhos de cigana dissimulada e ela pensaria ser uma alma viajante. Colocaria um monte de miçangas coloridas baratas e não passaria de um esteriótipo ridículo, precisando, assim, passar-se por dissimulada.
Retrucava o mundo dentro de si, com um deboche que fazia ao mexer com a boca. Tinha cheiro de azul piscina os últimos tempos e então ela se perguntava, de um jeito meio dissimulado, se isto não era previsão de tempos bons.
Tinha um jeito todo seu: era assim e pronto. Não saberia viver de acordo com as regras dos outros porque, desde que nascera, sentia que devia obedecer ao seu próprio chamado - e qual seria ele? Ah, estaria ela sendo apenas dissimulada?
Vou te contar uma coisa: eu escuto tudo o que o povo não vê. Vou guardando como que em caixinhas e uso as cartas no decorrer do jogo. A dissimulação é o meu disfarce o os olhos são o espelho de minha alma que me entregam a ti. Quero me esconder, sou tímida e reservada, vivo uma vida discreta no aconchego de um dia ensolarado que acontece lá fora e vou me guardar para a minha verdade.
Eu hoje acordei meio assim e vesti a roupa de ser. Hoje é dia de ser de um jeito porque ao final do dia colhe o que se planta. Então, foi escutando baixinho como se catasse sementinhas de feijão, que depois planta e brota. Sabe como? Sabe não?
Seus sorrisos eram apenas pensamentos travados, e ela se contorcia toda para não se entregar. De vez em quando falava uma coisa ou outra que mais soavam como uma facada - é que as pessoas não estão preparadas para o que elas tem que ouvir. E quem é que está? Só se aborrecia de vem em quando com a tarefa que lhe fora incumbida: dizer.
Algumas vezes sentia-se morrendo por dentro de tanta coisa que ia sabendo e guardava na caminhada vivida. Ia pondo tudo dentro de uma cestinha que, vez ou outra, enchia-se. Ah, saia de perto porque agora é hora mil. Sabe o que quero dizer com isso? Quero dizer apenas a verdade. Mas a verdade não existe. Então vou falar apenas os fatos porque, estes, aconteceram.
Lembra do meu olhar oblíquo enquanto sou apenas uma cigana dissimulada. Lembra.
Enquanto isso, a realidade ria de todos eles.
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