Acalma-se o coração inquieto com um copo de leite quente que eu peguei lá na cozinha - tenho-a em meus olhos do jeitinho que ela é. E vai-se subindo as escadas, degrau por degrau, um de cada vez.
Repara-se nas mãos pequenas segurando o copo, o cabelo caído meio de lado, pergunta-se qual o tom das mechas, encosta em um recanto e espera os minutos passarem. Pela janela, nota-se o vento a corroer andaimes. Tudo está sendo como deveria, mas tudo isso em um instante passa.
E vive-se e respira-se e levanta-se e veste-se uma camiseta de listras vermelhas. Isto, porque já é dia e veio a hora de se apressar a viver. E, corre, porque tudo isto em um instante passa.
E sabe aquele choro contido que levo no peito? E até aquele choro em que me desabei a chorar? Ah, tudo isso num instante passa e eu estou toda renovada de novo e abro minha mão pequena para tocar em algo que respire arte. O vento lá fora continua.
A gente houve o que não quer, o que ser quer quase não se ouve, e as árvores mechem de uma maneira tão rude, não é mesmo? Chega a machucar o coração. Se eu pudesse anotar esta coisa vivida, eu anotava. Que era para te contar parte por parte para você poder me dar um abraço bem apertado que durasse mais que um minuto. Porque isso, também, em um minuto passa.
Levanta este rosto vermelho, suas bochechas continuam as mesmas! Coloca esta roupa de ser quem se é e sai para caminhar pelos dias porque eles vão passando. Ou se corre ou se perde - mas acha-se. E isso tudo num instante passa para vivermos tudo de novo outra vez de mansinho.
Era uma vez um leão que ruge no meio do espaço a céu aberto escuro.Era uma vez uma noite como aquelas - a noite que eles chamam de "a noite dos anjos". Bate-se com uma mão mas assopra-se com a outra. Guarda para si o que se ouve, ainda que não concorde com cada pingo no "i". Ouve-se ao longe o cavalgar do cavalo. Preste atenção em todos os meus livros na estante, que são muitos. Vou anotar tudo em um pedaço de papel. Vou viver tudo dentro do meu coração, quieta.
E, enquanto isso, pensa-se: mas tudo isso num instante passa.
26 de jul. de 2015
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