13 de nov. de 2013

O agente da estação

O agente da estação da estação manda-me esquecer. Faz-me lembrar. Brinca com meus pensamentos. Divulga meus sentimentos. Manda parar.

As estações do ano, que forma quem sou, variam de acordo com o agente da estação. Ele, que é um ser inexistente, senta em um trono no ar pelo mundo. Divaga horas a fio. Flutua sem ritmo. Vai sem olhar para trás. 

O agente da estação disse para a menina, que sou eu, esquecer. E então, uma semana depois, brincou comigo e veio de novo com a mesma história. A mesma velha história que ele faz nova - porque nunca deixou de ser. O agente da estação faz de mim uma marionete. A mim ele engana, expõe teorias, marca lembranças como tatuagem, me faz fazer birras, derrama-me lágrimas, sopra sentimentos profundos, enche-me de saudades, provoca-me com ódio.

O agente da estação fica também em uma estação de um país ao leste da Europa. Em uma estação abandonada, em cores cinzas que são, na verdade, tons marrons lindos. As bilheterias vazias, já não mais são ocupadas por atendentes monolíngues que não sabem falar inglês. A fila está vazia e, por ali, encontra-se apenas eu, com o meu ser, andando desorientada, cabisbaixa e ressabida. Esta palavra, ressabida, veio aqui em minha mente agora. Para falar a verdade, eu nem sei o que ela significa.

E eu, voltando ao assunto, tento fugir do agente da estação, sabendo que ele me persegue, anda em círculos, me para na esquina e pula do décimo andar. O agente da estação nunca me perguntou qual é a minha estação preferida e ficaria confuso quando eu dissesse que depende em qual lugar do mundo estou: no Brasil, é o inverno; no norte do hemisfério, é o outono. Verão, não. Nunca. 

Querido agente da estação: sei que você não é real. Você foi criado pelos segundos do tempo, que também não são reais, pois não podem ser vistos. E também não podem ser contados, porque cada um conta a seu modo e seu ritmo e, enquanto aqui são 2 horas, la em cima já são 4. Ou seja, nem o tempo é exato. Por isso, querido agente da estação, seja bom comigo, cuide do meu coração morno e, se possível, machuque a minha memória.

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