20 de nov. de 2013

Mundo livre

Um mundo livre começa no Portão de Brandemburgo. E de la, por todo o continente palco do mundo. Ao olhar para a torre francesa, um ditador alemão, em sua arrogância, pergunta: é só isso? Sim, é só isso até você nos conquistar. Ou a palavra certa seria destruir? Colonizar? Salvar o mundo das raças inferiores? Exterminar?

Um mundo livre começa com passeios em gramados verdes que poderiam ser parques mas são apenas campos de futebol. Irrelevantes, ainda que uteis.

Um mundo livre passa por pontes que cruzam os caminhos e afastam as pessoas. Um mundo livre tem um que de prisão e um muito de ironia. Um mundo livre aprisiona as pessoas, não as deixa ir quando, as outras, se foram.

Por muitos dias, horas e segundos preciosos, vaguei por um mundo livre. Ainda que estivesse preza. Refém de um nazista, sem saber. Um mundo livre me levou a caminhos que eu jamais imaginei percorrer embora os tivesse todos comigo dentro do meu jeito de ser. Um mundo livre foi montado por mim enquanto eu dobrava os meus mapas preciosos.

Um mundo livre me permite entrar nele. Em um mundo livre, sou bem vinda. Sou convidada pelo meu amigo a entrar, a ficar, a passear. E assim vivo o mundo livre, livre, em um mundo livre. Um mundo livre põe um alemão charmoso em meu caminho pelas ruas de Cracóvia com uma rosa em sua mão. Um mundo livre é feito por mim e um bando mais de garotos estrangeiros discutindo os últimos acontecimentos políticos internacionais, e por aquele cara, que desce do trem e me segue pelo bairro comunista, a perguntar sobre o meu "background". Difícil, meu querido.

Um mundo livre continua pelas praças históricas, que foram cenários para mortes, revoluções, conquistas e festas. A dança latina em um clube cubano, o festival de música polonês, as calçadas irregulares, os amores que fiz pelo caminho, as recordações que fui jogando dentro da mala. Tudo isto, em um mundo livre.

No mundo livre, chega-se ao rio que cruza a cidade, observa-se os diferentes tons de azul, mais um milhão de cadeados ridículos e segue-se em frente. Prefiro muito mais as ruelas que me levam a lugar nenhum. E então estou de volta ao mundo livre, por onde ando e encontro meu outro amigo, desta vez de um outro pais, uma outra língua, uma outra cultura - tudo embora tão pertinho - mas com o mesmo coração enorme!

Um mundo livre que fiz para mim ficou sem você. Para entrar ai, seria como embarcar em um trem que me leva a Dachau. Tenho medo. Por favor, não me machuque mais. Já não viu o que fez? Hey, estamos em um mundo livre!

Um mundo livre é metáfora para tudo o que estou querendo dizer aqui mas guardando só para mim.

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