28 de nov. de 2013

Procurando Sugar Man

Onde estaria o Sr. Sugar Man?

Sugar Man roubou meu coração, entrou em um trem e me levou em direção ao campo situado ao fim da Polônia.

Sugar Man conquistou muitas terras e anexou-as ao seu pequeno relevante território. Sugar Man saiu invicto, ainda que derrotado, da primeira grande batalha. Sugar Man foi marchando rumo ao centro do continente, e ate no leste ele chegou, onde fez prisões. Sugar Man deve ter me mandado para lá.

Sugar Man foi e é forte. Sugar Man faz-me ter admiração por sua tamanha força, eu, com meu coração fraco e machucado. Sugar Man é tão doce, mas tão bravo. Sugar Man é um general. Sugar Man ganhou até nome em seu próprio para designar seu titulo. Sugar Man foi saudado por milhões. Sugar Man ganhou-me.

Sugar Man foi caminhando, correndo e matando - alias, Sugar Man foi arianizando. Sugar Man veio salvar o mundo. Sugar Man poderia ser um segundo messias - para a sua pátria - e até que parecia mesmo. Mas Sugar Man perdeu a guerra. De novo. Mais uma vez Sugar Man saiu derrotado. Será que sua terra deveria entrar para história como a Grande Derrotada Pátria dos Gênios Culturais? Pelo menos isto já era uma grande coisa.

Sugar Man não dirigiu trens, mas encheu muitos vagões. Fico-me perguntando quando foi que Sugar Man colocou suas bonitas botas, que amedrontariam qualquer um, naquela terra molhada de fim de mundo que eram as terras do leste perto da temida, grande, fria Rússia. Sugar Man teve que recuar.

Sugar Man não era um deles. Sugar Man era muito mais bonito. Por dentro e por fora - um dia. Sugar Man foi até sugar um dia. Sugar Man não tinha os cabelos negros como o seu representante maior, e poderia ser o exemplar da pátria-mãe.

E hoje, tantos dias se passaram desde a derrota vergonhosa da grande batalha, e as vezes sinto que também perdi. Eu, que tanto lutei, mesmo que de longe, minha própria batalha. Eu, que não ganhei troféu nem medalha nem saudações. Eu, que não perdi terras mas perdi metade de mim. 

Eu, aqui. Sugar Man, ali - onde estaria Sugar Man?

26 de nov. de 2013

Noruega

Vou me mudar daqui. Vou trocar a sintonia das ondas do meu cérebro. Vou alternar as estações do ano. Vou pegar o caminho do norte. Vou para a ponta do lado de cima do mundo.

Vou pegar a estrada mais estreita, apos chuva, vento frio entre as arvores a me acertar, neve que vejo no topo da montanha la longe.

Vou me mudar daqui. Vou mudar meu estado de espirito. Vou replace (como é mesmo o verbo no meu idioma materno?) o meu coração. Sim, preciso de um coração novo, pois este já esta acumulado.

Vou me mudar daqui. Vou para longe onde estão as pessoas que cuido. Quero dizer "care about". Já não aguento mais tradução. Ando esquecendo as palavras que aprendi quando pequena. Acho-o desgastante me explicar em português. Perco-me com minhas palavras, nunca me achei no meio dos meus tantos pensamentos.

Vou me mudar daqui. Vou seguir trilha como se eu tivesse feito o caminho com pedrinhas. Vou seguir você, que vai para longe. Vou para onde posso encontrar banquinhos de madeira com estampa de flores. Para onde encontro chá ao fim da tarde. Para onde bato queixo de frio mas tenho quente o meu coração.

Vou me mudar. Vou andar. Vou me perder. Vou divagar. Vou me esquecer. Vou para longe daqui, pois vou para o caminho do norte, onde vejo alces, vikings civilizados, pessoas falando um milhão de idiomas, praias congeladas, sol a cada seis meses, lua de fel, e você.

Metade de mim foi formada quando você nasceu e metade de mim também irá para o caminho do norte quando você para lá for.

20 de nov. de 2013

Mundo livre

Um mundo livre começa no Portão de Brandemburgo. E de la, por todo o continente palco do mundo. Ao olhar para a torre francesa, um ditador alemão, em sua arrogância, pergunta: é só isso? Sim, é só isso até você nos conquistar. Ou a palavra certa seria destruir? Colonizar? Salvar o mundo das raças inferiores? Exterminar?

Um mundo livre começa com passeios em gramados verdes que poderiam ser parques mas são apenas campos de futebol. Irrelevantes, ainda que uteis.

Um mundo livre passa por pontes que cruzam os caminhos e afastam as pessoas. Um mundo livre tem um que de prisão e um muito de ironia. Um mundo livre aprisiona as pessoas, não as deixa ir quando, as outras, se foram.

Por muitos dias, horas e segundos preciosos, vaguei por um mundo livre. Ainda que estivesse preza. Refém de um nazista, sem saber. Um mundo livre me levou a caminhos que eu jamais imaginei percorrer embora os tivesse todos comigo dentro do meu jeito de ser. Um mundo livre foi montado por mim enquanto eu dobrava os meus mapas preciosos.

Um mundo livre me permite entrar nele. Em um mundo livre, sou bem vinda. Sou convidada pelo meu amigo a entrar, a ficar, a passear. E assim vivo o mundo livre, livre, em um mundo livre. Um mundo livre põe um alemão charmoso em meu caminho pelas ruas de Cracóvia com uma rosa em sua mão. Um mundo livre é feito por mim e um bando mais de garotos estrangeiros discutindo os últimos acontecimentos políticos internacionais, e por aquele cara, que desce do trem e me segue pelo bairro comunista, a perguntar sobre o meu "background". Difícil, meu querido.

Um mundo livre continua pelas praças históricas, que foram cenários para mortes, revoluções, conquistas e festas. A dança latina em um clube cubano, o festival de música polonês, as calçadas irregulares, os amores que fiz pelo caminho, as recordações que fui jogando dentro da mala. Tudo isto, em um mundo livre.

No mundo livre, chega-se ao rio que cruza a cidade, observa-se os diferentes tons de azul, mais um milhão de cadeados ridículos e segue-se em frente. Prefiro muito mais as ruelas que me levam a lugar nenhum. E então estou de volta ao mundo livre, por onde ando e encontro meu outro amigo, desta vez de um outro pais, uma outra língua, uma outra cultura - tudo embora tão pertinho - mas com o mesmo coração enorme!

Um mundo livre que fiz para mim ficou sem você. Para entrar ai, seria como embarcar em um trem que me leva a Dachau. Tenho medo. Por favor, não me machuque mais. Já não viu o que fez? Hey, estamos em um mundo livre!

Um mundo livre é metáfora para tudo o que estou querendo dizer aqui mas guardando só para mim.

19 de nov. de 2013

Save me

So the other day I had a dream at night. In it, I had a therapist who was ... Sylvia Plath.

I remember she posing with her arms crossed, always with a smile on her face, looking at me. Far away, but yet so close, because it made me feel everything - every little thing - would be all right. It had to be all right.

The look she had was also so ironic, as if she were laughing at the things I cry for. Not because she's mean, but because she's strong and I'm so weak. Yes, she's gone. But do you have any doubts it's due to how strong she were?

Whenever I look at her picture on my wall, I remember how strong she had been. Her beautiful face, on my wall, only gives me the best of emotions and I could have never had a better person in my dream that night. I only wish her poems would not only work for me but work things out.

17 de nov. de 2013

Passagem para a vida

Tudo passará. Tudo acabara com um sopro leve em um futuro-não-se-sabe-quando. Só a vida resta, só a vida restara.

Não estou falando desta vida física e de tudo o que a gente criou. Porque esta vida, bem, esta vida eu não sei se permanece. Talvez haja mesmo o fim que vira com um dilúvio para ilustrar uma metáfora religiosa - mas isto tem pouca importância. E não seremos nada mais que poeira para ver.


Estou falando daquela vida que acontece dentro da gente. Daqueles mínimos acontecimentos que juntam-se e formam uma tonelada de pequenas explosões de endorfina dentro do coração da gente, vazando para a alma e nos dando pique para enfrentar o dia a dia dos dias não tao belos. 


Estou falando daquele encontro de almas. Estou falando daquele encontro perto do canteiro da faculdade. Estou falando daquele bilhete escrito em um caderno barato que comprei para guardar como preciosidade. Estou falando da troca de palavras em comum. Estou falando de dividir os mesmos interesses. Estou falando de atração  De sensibilidade. E, acima de tudo, de ser forte. Porque foi preciso ser forte para enfrentar o que veio como futuro.


Não sei se enfrentei e sobrevivi. Sei apenas que me escondi chorosa muitas vezes. Quantas vezes dei as costas porque não queria mais chorar? Se fui forte ou se fui fraca ... bem, hoje, neste momento, sinto-me como uma menina bem fraca. Mas sei que, ao final da vida em que não sobreviverei, verei-me como forte. Só eu sei.


A passagem da vida dar-se-á assim: passara. Passarão os holofotes, o adeus, os sorrisos, os passarinhos, os caminhos. Passarão tudo, menos os acontecimentos. Acontecimentos são fatos, e contra fatos não ha argumentos. E não ha também desgaste do tempo, degradação dos segundos, fim dos minutos. O que aconteceu, existiu. E ha de ficar. 


Este é o meu alívio. Este é o momento na minha vida em que não dou meia volta, continuo andando no ritmo em que você me empurrou, viro a ruma rumo ao lado esquerdo e sigo andando. Ora paro, ora corro, mas ainda continuo andando. Refiro-me ao hoje.


E com a passagem da vida, passarão as alegrias e as tristezas e as pessoas do mundo inteiro, ate aquelas que estão longe fisicamente e distantes emocionalmente. E até você há de passar. E eu. E nós. E nós todos. E todos eles. O mundo inteiro há de passar um dia, como diria a minha avó. Mas sei que os acontecimentos, esses irão ficar.

13 de nov. de 2013

O agente da estação

O agente da estação da estação manda-me esquecer. Faz-me lembrar. Brinca com meus pensamentos. Divulga meus sentimentos. Manda parar.

As estações do ano, que forma quem sou, variam de acordo com o agente da estação. Ele, que é um ser inexistente, senta em um trono no ar pelo mundo. Divaga horas a fio. Flutua sem ritmo. Vai sem olhar para trás. 

O agente da estação disse para a menina, que sou eu, esquecer. E então, uma semana depois, brincou comigo e veio de novo com a mesma história. A mesma velha história que ele faz nova - porque nunca deixou de ser. O agente da estação faz de mim uma marionete. A mim ele engana, expõe teorias, marca lembranças como tatuagem, me faz fazer birras, derrama-me lágrimas, sopra sentimentos profundos, enche-me de saudades, provoca-me com ódio.

O agente da estação fica também em uma estação de um país ao leste da Europa. Em uma estação abandonada, em cores cinzas que são, na verdade, tons marrons lindos. As bilheterias vazias, já não mais são ocupadas por atendentes monolíngues que não sabem falar inglês. A fila está vazia e, por ali, encontra-se apenas eu, com o meu ser, andando desorientada, cabisbaixa e ressabida. Esta palavra, ressabida, veio aqui em minha mente agora. Para falar a verdade, eu nem sei o que ela significa.

E eu, voltando ao assunto, tento fugir do agente da estação, sabendo que ele me persegue, anda em círculos, me para na esquina e pula do décimo andar. O agente da estação nunca me perguntou qual é a minha estação preferida e ficaria confuso quando eu dissesse que depende em qual lugar do mundo estou: no Brasil, é o inverno; no norte do hemisfério, é o outono. Verão, não. Nunca. 

Querido agente da estação: sei que você não é real. Você foi criado pelos segundos do tempo, que também não são reais, pois não podem ser vistos. E também não podem ser contados, porque cada um conta a seu modo e seu ritmo e, enquanto aqui são 2 horas, la em cima já são 4. Ou seja, nem o tempo é exato. Por isso, querido agente da estação, seja bom comigo, cuide do meu coração morno e, se possível, machuque a minha memória.

10 de nov. de 2013

O jardim dos esquecidos

O sétimo dia da semana tem sido o jardim dos esquecidos. E eu me esparramo toda por este jardim, me perdendo entre as folhas e perdendo as flores de visão. Acho os galhos tao altos.

O jardim dos esquecidos ora ou outra bate a nossa porta. O jardim dos esquecidos as vezes vem para ficar. Dura um dia. Ou dura um fim de semana. Ou dura uma semana inteira. Depende.

Ultimamente, tenho habitado o jardim dos esquecidos. Ou seria ele que tem habitado dentro de mim? Adormeço um dia antes a noite e, no outro dia, ele aqui já esta. Ele, o jardim dos esquecidos onde tenta plantar raízes e fincar morada.

Tenho lutado contra as forcas invisíveis. Porque elas são as que realmente existem. Moram todas no jardim dos esquecidos - este jardim, que ora agora vem nos visitar.

Como eu queria jamais regar o jardim dos esquecidos, esquecer-me de tudo e fazer-me esquecida, para nunca mais lembrar!

4 de nov. de 2013

A poesia das guerras

E o futuro se repete, em um passado que não passou. Com uma mão segura a caneta, faz riscos em um caderno que sera deixado para a posteridade. Faz parte da historia das escritoras feministas. Esses dias li mais de 500 pagina de uma vida: Virginia Woolf. Aprendi, deixei de ser. Viajei, voltei para casa. Pensei, dormi. Fugi para perto da minha outra-para-sempre escritora favorita. De mãos dadas, chegamos ate você.

A vida e' assim: densa, difícil, carregada de simbolismos e, no fim, não passa de um dia.

Como uma pena, deixamos você ir por aquele rio que tanto permeou seus poemas. Era la que você pertencia e foi ele que, no ultimo dia de sua vida, pertenceu você.

Era uma vez uma vida de escritora inglesa na Europa patriarcal do período entre guerras. Era uma vez a historia se repetindo. Era uma vez o seu chanceler austríaco, agora em no pais que e' seu, guerreando com o mundo inteiro, a representar você. Era uma vez Leonard, eu e as irmas. Era uma vez a minha escritora favorita que ainda viria nascer e, por isso, naquela época ainda era apenas ideia na mente da Vida. Era uma vez os confrontos e bombas e a conquista por territórios. Era uma vez tudo isso mexendo com os ânimos e atrapalhando minha Virgina Woolf.

Hey, era uma vez você. Vê como tem o seu dedo nesta historia?