A você que não foi entendido: aqui moram os incompreendidos.
A você, que não se entendeu: passou noite, correu o rio, e amanheceu.
Os pássaros cantam como cantavam antes, embora comecem com um tom estridente. Acham que estão nos fazendo um favor quando estão apenas fazendo o seu trabalho.
Um ano na vida passa em um dia, mas houve também aquele dia que pareceu um ano. No nublado de um dia, mora aí a compreensão. Os incompreendidos, que são os outros, não compreendem porque não são.
Somos nós. Não são eles. Sou eu. É você. Eu sou. I am.
E no meio dos escritos que perderam forma transformando-se em sentimento, mora aqui no meu peito este lugar. Este lugar sempre irá existir, porque este lugar é um lugar vazio. Este lugar é ocupado por você, que se foi.
Às vezes é preciso ir para sempre estar aqui. Não é mesmo?
Queria você ter se descoberto. Queria você ter falado a voz dos anjos do simbolismo. Tudo na vida é símbolo e ser possuído pelo espírito de um índio não tira jamais o seu charme. Na verdade, tudo isso tem pouca importância porque o sentido já não existe mais, uma vez que há muito se foi.
Foi para não estar vendido. Aquele casaco atrás da porta, não era seu. Foi do seu pai. Foi da força aérea. Foi de uma universidade na Califórnia. Foi da namorada de vida. Foi das drogas e bebidas e cigarros e recaídas. Foi, mais ainda e acima de tudo, das canetas e papéis que chamo eu de diários. Hoje eles transformaram-se no que restou de você.
A incompreensão. Se você tivesse sido ouvido. Se você tivesse conseguido falar. Saiba você que sua imagem sempre existiu aos meus ouvidos. Ah, os incompreendidos. Sabem tanto eles da multidão? Sabem tanto eles da vida? Sabem tanto eles das pequenas coisas? Sabem dar lição?
Hoje em dia tudo está mais "evoluído". Isso, por exemplo, que existiu em você agora tem nome. Seria tratado e domado, mas não curado. Porque as pessoas não são curadas. Elas nascem assim. E assim o são. I am - lembra-se? Poderia agora até trazer para a cena a minha escritora favorita, só para te alegrar, você, que gostava tanto dos meus escritores.
Isso, tem nome. E o nome eu chamo pelo nome. Mas vou deixar para lá. Queria tratar, cuidar e preservar, que era para durar por mais um tempo. O tempo é uma coisa sagrada e, por isso, mística. O tempo não começa e não se acaba, mas o tempo se foi.
A você, meu incompreendido, a quem tanto compreendo e a quem divido minha compreensão, dedico esse escrito, dedico essas palavras que há poucos segundo eram apenas átomos, dedico meus dedos que esforço fazem e dedico, principalmente, meu pensamento.
No fim de tudo, as pessoas não existem. As pessoas moram em nossos pensamentos e lá elas estão. Apenas lá elas
são. - I am -
Aos incompreendidos, era esta a compreensão.