31 de dez. de 2012
Nos trilhos de trem
Pensei em escrever. Nao sabia se eu escrevia. Comecei mais um dia como sendo eu. Vi fotografias. Notei o sorriso das pessoas. Lembrei que a vida passa. Respeitei minhas manias pois elas fazem que sou eu. Andei por trilhos imaginarios, lembrando o trem que eu peguei. Parei na esquina da rua, como paro nas esquinas da vida, para comprar sorvete. Este eh e sera sempre o meu ato mais carinhoso para comigo mesma. Enquanto isso, fui prestando atencao na arquitetura que compunha as ruas desertas e quase tive um momento de extase. Sonhei acordada. Gritei o seu nome. Lembrei das nossas memorias e as contornei com caneta colorida, mais uma vez. Depois sentei em um banco da praca, notando as pessoas sem olhar, e fui distraida pelo grito das criancas. Nao sei bem qual o meu sentimento para com criancas. Mas voltei ao pensamento e encarei o livro. O livro era um muito especial, que a minha irma havia me emprestado com toda dedicacao. Li paginas mas, principalmente, tomei notas. No caminho que tomei para voltar nao sei pra onde, vi pais brincando com seus filhos e uma casinha solitaria de cachorro. Pensei ate em roubar o cachorro para mim, mas eu nao teria onde colocar. Os brinquedos espalhados pelo caminho. As folhas caidas nas ruas. As portas fechadas que faziam das casas contos de fada. Os modelos de portas e janelas que nao me agradavam. As historias que aqueles edifcios contariam... onde eu fui parar?
30 de dez. de 2012
Que ar doce
Que cheiro doce tem o ar as vezes. Enfim percebi minha mania de cocar a perna direita. Ha quanto tempo nao durmo do lado "contrario" da cama - desde que eu era pequena! As pessoas vao e vem. Assim sera comigo tambem, que serei apenas mais uma. Enquanto isso, presto atencao em tudo o que esta pintado de azul, por algum momento. Pegar onibus a vida inteira as vezes foge do meu pensamento. Estou sentindo muito ultimamente. Dividindo as sensacoes com o ar - nao falei que ele anda doce? Me pergunto para onde ele esta soprando - espero que para o Norte, espero que para voce. A vida eh feita de tantas coisas que, vez ou sempre, a gente se perde nela.
27 de dez. de 2012
Pensando bem
Seria uma borboleta. Para a mãe dela, pelo carinho. Para os outros, por causa da asa. Para o pai, por ser ela mesma. Para as irmãs, como inspiração. Para si, para voar.
Seria colorida. Cada cor, cada dia. Cada cor, cada humor. Cada cor, cada tom.
Estivera cansada das coisas que se repetiam. Quisera ter controle sobre o tempo, principalmente no que diz respeito ao período de chuvas. Quisera manter segredo só para fazer surpresas. Quisera ir e deixar. Quisera rir. Quisera gargalhar e não ligar para mais nada que não valia a pena.
Mas o telefone não parava de tocar. Embora nenhuma daquelas ligações fossem para ela. Fizera planos, então, como em um filme de ação, onde o complô era não atendê-lo. Desligá-lo daquela tomada escondida na parede que todos notavam. Assim teria-se uma solução. Parecia tão fácil.
E se tudo fosse tão fácil, tudo teria solução. Neste momento pensava que não teria graça, assim dessa forma. Mas então lembrara-se que na próxima vida-não-se-sabe-onde, ela teria controle sobre o tempo. E, assim, poderia escolher entre saber ou não, entre prever ou deixar acontecer. Bastava querer.
E se a vida fosse assim tão escancarada, pensara ela, como seria chata. Mas seria, pelo menos seria - será?
Seria colorida. Cada cor, cada dia. Cada cor, cada humor. Cada cor, cada tom.
Estivera cansada das coisas que se repetiam. Quisera ter controle sobre o tempo, principalmente no que diz respeito ao período de chuvas. Quisera manter segredo só para fazer surpresas. Quisera ir e deixar. Quisera rir. Quisera gargalhar e não ligar para mais nada que não valia a pena.
Mas o telefone não parava de tocar. Embora nenhuma daquelas ligações fossem para ela. Fizera planos, então, como em um filme de ação, onde o complô era não atendê-lo. Desligá-lo daquela tomada escondida na parede que todos notavam. Assim teria-se uma solução. Parecia tão fácil.
E se tudo fosse tão fácil, tudo teria solução. Neste momento pensava que não teria graça, assim dessa forma. Mas então lembrara-se que na próxima vida-não-se-sabe-onde, ela teria controle sobre o tempo. E, assim, poderia escolher entre saber ou não, entre prever ou deixar acontecer. Bastava querer.
E se a vida fosse assim tão escancarada, pensara ela, como seria chata. Mas seria, pelo menos seria - será?
23 de dez. de 2012
Pensamentos em palavras
Pensara em comer até estourar. E sabia que depois morreria de arrependimento. O filme que assistira a fizera feliz, pois ensinara história, risadas, ironia e vigança. Não pensava em se vingar, pensava apenas no dia em que a justiça seria feita. Gostaria que tudo estivesse certo, mesmo sabendo que há muita coisa errada da qual nada pode mudar. Desistira de algumas coisas, pessoas e pensamentos. Às vezes, tinha preguiça de caminhar. Seu amor por fotos ainda continuaria e a impressão que tinha era de que todas elas haviam sido arquivadas em algum lugar do seu coração. Existia ainda o amor pela cidade. E isso te trazia o desejo de pinturas, de quadros a enfeitar a sala, estudar arquitetura, usar a irmã para desenhar idéias e caminhar no meio-fio de um passeio coberto de neve em direção ao bairro favorito. Enquanto isso, prestava atenção nas casas pelo caminho. De repente, desejou tanto ter uma parede vermelha. Mas deixou para depois. Ficava sempre a adiar as coisas, como clandestina que era ela. Pensava em ir embora. Mas pensava mais em quando isso aconteceria. Poderia ser agora. Já sentia saudade da irmã. Enquanto isso, planejava consigo mesma como faria para administrar a falta que ela iria fazer. Se eu pelo menos fugisse, pensava ela. E um dia como o outro acabava mais uma vez...
17 de dez. de 2012
Report
Em um dia qualquer, vou para a cama sem saber o que me espera no dia seguinte. O que me espera é sempre esperado ou é surpresa.
Uma manhã na cama, ao lado da minha pilha de livros. Sempre os olho nos olhos e me vejo perdida - qual escolher para ler? Pego aquele que me diz logo o que preciso ouvir - o diário da minha escritora favorita. Depois de 5 minutos, tudo parece fazer sentido e o mundo é redondo de novo.
Uma tarde de domingo segue com documentário sobre um assunto desses que eu gosto e anotações. Por falar nisso, preciso passá-las a limpo. Lembro do meu quarto em uma cidade oriental. E das janelas e das cortinas. Ao mesmo tempo que sinto saudade, sinto um aperto no peito. Sinto que aqui estou protegida. E que fui salva por dois amigos muito gentis.
Segue-se com o passar do tempo e aquela amiga que veio de longe e continua a morar longe, embora esteja sempre perto, aqui dentro do meu coração. Conversa vai e vem. Drama. A bolsa que ela comprou. O vestido caro que comprei. Meu arrependimento em gastar tanto dinheiro. A alegria dela com o bom negócio. Frases de efeito que devo anotar para rir agora, depois e sempre. Ela sempre me faz rir. Sempre assim tão inocente.
Mais a noite experimento a doçura. Ela vem por meio da voz de uma amiga que também mora longe. Dividimos experiências e quase entro em seu quarto, que vejo por meio da tela do computador. Sempre bate a saudade. Acho que vou viver de saudades - será sempre assim. Um pouco eu.
A verdade é que eu nem queria dizer muito. Queria mesmo é tirar de dentro de mim e pôr aqui. Pronto. Assim começo, vazia para mais uma semana, onde guardarei tudo dentro de mim até transformar em escrita.
Enquanto isso, vive-se a vida.
Uma manhã na cama, ao lado da minha pilha de livros. Sempre os olho nos olhos e me vejo perdida - qual escolher para ler? Pego aquele que me diz logo o que preciso ouvir - o diário da minha escritora favorita. Depois de 5 minutos, tudo parece fazer sentido e o mundo é redondo de novo.
Uma tarde de domingo segue com documentário sobre um assunto desses que eu gosto e anotações. Por falar nisso, preciso passá-las a limpo. Lembro do meu quarto em uma cidade oriental. E das janelas e das cortinas. Ao mesmo tempo que sinto saudade, sinto um aperto no peito. Sinto que aqui estou protegida. E que fui salva por dois amigos muito gentis.
Segue-se com o passar do tempo e aquela amiga que veio de longe e continua a morar longe, embora esteja sempre perto, aqui dentro do meu coração. Conversa vai e vem. Drama. A bolsa que ela comprou. O vestido caro que comprei. Meu arrependimento em gastar tanto dinheiro. A alegria dela com o bom negócio. Frases de efeito que devo anotar para rir agora, depois e sempre. Ela sempre me faz rir. Sempre assim tão inocente.
Mais a noite experimento a doçura. Ela vem por meio da voz de uma amiga que também mora longe. Dividimos experiências e quase entro em seu quarto, que vejo por meio da tela do computador. Sempre bate a saudade. Acho que vou viver de saudades - será sempre assim. Um pouco eu.
A verdade é que eu nem queria dizer muito. Queria mesmo é tirar de dentro de mim e pôr aqui. Pronto. Assim começo, vazia para mais uma semana, onde guardarei tudo dentro de mim até transformar em escrita.
Enquanto isso, vive-se a vida.
7 de dez. de 2012
Perigo em palavras
Meu coração trapaceou, pegou carona na esquina, colocou máscara de Carnaval e saiu na rua a sambar. Disse que voltaria logo, que todos os dias são datas comemorativas e que eu deveria parar de ser essa menina séria. Pacotinho de pipoca na mão, cheiro de amendoim no ar e ânsia de vômito - claro, esse seria o resultado.
De todos os dias que passaram, ficará aquele ao qual não dei muito importância. Este, será agora lembrado para, mais tarde, ser esquecido. Esse, que nenhuma diferença jamais fez. Veja como as coisas são, na verdade, percepções. E como tudo não passa de vontades. Veja como vemos as coisas, como as deturpamos, como acreditamos sem crer.
Tudo isso falo agora com o estômago embrulhado em palavras embrulhadas, pois não soube abri-las. Queria ter controle sobre elas quando, na verdade, elas me controlam totalmente. Odeio palavras. Odeio porque amo-as. Palavras são sentimentos que deixam de ser abstratos. Palavras são acasos que tornam-se fatos. Palavras são estimativas que tornam-se certezas. Palavras são sopros ao vento. Palavras são armadilhas, amigas, companheiras e, sobretudo, controladoras. Palavras são o que sentimos no momento.
Eu poderia transformar em palavras quase tudo o que vivi na vida. Algumas vezes, no entanto, não quero ou não consigo. Outras vezes, me recuso. Guardo tudo como sentimento, vivendo aqui dentro do peito, mantendo a característica "intocável" da coisa. E isso quer dizer que ela jamais será mudada.
Sim, palavras mudam. Palavras dão toque duro aos sentimentos. Palavras expõem o que há dentro da gente. Palavras não nos deixam esconder aquilo que não queremos mostrar. Palavras são dignas da verdade e é assim: toda vez que se fala, ainda que seja uma mentira, a verdade estará correndo grande risco de ser exposta.
Por isso, guarde-se. Por isso, preserve as palavras. Por isso, faça uso das palavras belas mas, principalmente, das sinceras. Porque tudo, no fim, torna-se verdade. Porque no fim das contas e no fim do mundo tudo cairá por terra, aquele mural de escola de criança será rasgado em pedacinhos e as cortinas de todos os teatros de todos os lugares serão abertas. E a cortina do espetáculo da vida, essa jamais irá se fechar.
Tudo é um mistério mas nada passa de um at a glance.
De todos os dias que passaram, ficará aquele ao qual não dei muito importância. Este, será agora lembrado para, mais tarde, ser esquecido. Esse, que nenhuma diferença jamais fez. Veja como as coisas são, na verdade, percepções. E como tudo não passa de vontades. Veja como vemos as coisas, como as deturpamos, como acreditamos sem crer.
Tudo isso falo agora com o estômago embrulhado em palavras embrulhadas, pois não soube abri-las. Queria ter controle sobre elas quando, na verdade, elas me controlam totalmente. Odeio palavras. Odeio porque amo-as. Palavras são sentimentos que deixam de ser abstratos. Palavras são acasos que tornam-se fatos. Palavras são estimativas que tornam-se certezas. Palavras são sopros ao vento. Palavras são armadilhas, amigas, companheiras e, sobretudo, controladoras. Palavras são o que sentimos no momento.
Eu poderia transformar em palavras quase tudo o que vivi na vida. Algumas vezes, no entanto, não quero ou não consigo. Outras vezes, me recuso. Guardo tudo como sentimento, vivendo aqui dentro do peito, mantendo a característica "intocável" da coisa. E isso quer dizer que ela jamais será mudada.
Sim, palavras mudam. Palavras dão toque duro aos sentimentos. Palavras expõem o que há dentro da gente. Palavras não nos deixam esconder aquilo que não queremos mostrar. Palavras são dignas da verdade e é assim: toda vez que se fala, ainda que seja uma mentira, a verdade estará correndo grande risco de ser exposta.
Por isso, guarde-se. Por isso, preserve as palavras. Por isso, faça uso das palavras belas mas, principalmente, das sinceras. Porque tudo, no fim, torna-se verdade. Porque no fim das contas e no fim do mundo tudo cairá por terra, aquele mural de escola de criança será rasgado em pedacinhos e as cortinas de todos os teatros de todos os lugares serão abertas. E a cortina do espetáculo da vida, essa jamais irá se fechar.
Tudo é um mistério mas nada passa de um at a glance.
4 de dez. de 2012
e
Quero assistir filmes ate cansar e ate passar muito tempo e ate ter assistido todos e ate entender tudo de cinema e ate me lembrar de tudo o que um dia aprendi e ate saber as falas dos personagens e ate meu travesseiro ficar marcado com meu corpo e ate eu aumentar o volume e ate eu voltar aquela cena em que nao entendi nada e ate eu deixar que passe despercebido e ate minha avo me mandar mais travesseiros e ate o tempo passar e ate os dias nascerem de novo e ate a noite escurecer e ate que eu enjoe de pipoca e ate que eu guarde tudo o que assisti aqui dentro de mim e ate que os atores se tornem gente de verdade e ate que os minutos facam diferenca e ate que os diretores falem ao publico e ate que os filmes acontecam na vida real.
3 de dez. de 2012
A vida é patética
E a vida é assim, como desses fatos que despistamos mas não podemos negar:
patética como um molho de salada; patética como um dia chuvoso em parque; patética como comida que engorda; patética como pinturas descoradas pelo sol - esse chato!; patética como pirulitos; patética como fotos que não saem boas; patética como chegar no restaurante e encontrá-lo fechado; patética como uma latinha de refrigerante; patética como ficar resfriada no feriado; patética como aquele monte de folhas que a gente junta para, no fim, só ter trabalho.
A vida é patética como os tons de cinza, como passeio sujo de terra, como uma lata de sardinha. A vida é patética como um jornal dos classificados de domingo, como um passeio limpo após a chuva, como um motorista com freio. A vida é patética como quando o céu fica claro em tom azul anil; patética como pão de queijo de padaria; patética como consultórios médicos - todos tão iguais!
A vida é patética como risada de criança, que sempre acontece sem hora ou lugar; patética como a opinião alheia; patética como cheiro de alho e ainda mais patética do que canos de água a enfeitar banheiros.
A vida é patética mas mesmo assim vale a pena.
A vida é patética como os tons de cinza, como passeio sujo de terra, como uma lata de sardinha. A vida é patética como um jornal dos classificados de domingo, como um passeio limpo após a chuva, como um motorista com freio. A vida é patética como quando o céu fica claro em tom azul anil; patética como pão de queijo de padaria; patética como consultórios médicos - todos tão iguais!
A vida é patética como risada de criança, que sempre acontece sem hora ou lugar; patética como a opinião alheia; patética como cheiro de alho e ainda mais patética do que canos de água a enfeitar banheiros.
A vida é patética mas mesmo assim vale a pena.
2 de dez. de 2012
Voce estava la
Entao cheguei em casa a noite e eu, num momento so meu, olhei no espelho, vi a menina que fui, a menina que sou e, quem sabe, a que serei. E vi voce. Voce estava em um lugarzinho la, seja no passado, no presente ou no futuro, estava la. Resolvi te guardar, como quem guarda joias em uma caixinha. Eu, para falar a verdade, nunca gostei de joias e sempre pensei que, assim, o lugar delas entao seria mesmo em uma caixinha. Por isso, mudei os planos e o guardei dentro do bolso. Dentro dos bolsos de todos os vestidos que usei e ainda tenho e terei. Porque adoro vestidos e adoro bolso. E amo vestido com bolsos.
Pensamentos que vem e que vao
Estaria ela deixando de se abracar para ser abracada? Vivendo o percurso da montanha russa como se estivesse, de fato, naquele carrinho? Mudando o cabelo so para experimentar? Estaria ela dando adeus a si mesma?
Quem sabe o nome disso era reinventar. Ja que somos resultado do meio em que crescemos. Quisera eu nascer de novo quando essa vida acabasse, num mundo novo, como no livro. Admiravel mundo novo, aqui vou eu.
Lembrara dos bichos da montanha, do museu ao pe da estrada, do frio que fazia, da distancia que percorria. Guardara as lembrancas de um passeio pelos alpes, de um lago que todo inverno congelava, das rodovias em curvas daquele seu estado americano do oeste.
Pensava ela que o mundo era redondo e por isso girava apenas uma so vez. Algumas coisas voltavam, eh verdade, mas isso chamava-se acidente de percurso. Entao pensara que acidentes podem nao ser ruins. Veio agora uma imagem de algodao doce - logo nela, que o achara tao chato!
No parques de diversao que estivera na vida, la resolvera ficar. Viveria para sempre como em um, toda vez que quisesse, como que a escapar. Enquanto isso, as noites eram todas azuis, o homem perguntava se sua cor favorita era preto e ela respondia que nao, que era azul, pensando que todo mundo ja deveria saber a essa altura. E, ao aproveitar o percurso, dirigia em um carro que nao era seu, embora pudesse tomar o controle nao so do carro, mas da situacao.
Sozinha na rua, voltava para si, observava janelas com jardineiras e se perguntava qual era o significado daquilo. Enquanto andava, tomava notas e se deixava experimentar de novas situacoes que ficariam escritas em seu caderno. Com dedicacao, tomava cuidado para nao perder suas canetas, que eram muitas. Escrevia em tudo quanto eh lugar, desejando ser um dia membro de uma gangue de pixadores. Assim, pensara ela, nao so esse dia mas toda a minha vida ficariam escritos para sempre.
Quem sabe o nome disso era reinventar. Ja que somos resultado do meio em que crescemos. Quisera eu nascer de novo quando essa vida acabasse, num mundo novo, como no livro. Admiravel mundo novo, aqui vou eu.
Lembrara dos bichos da montanha, do museu ao pe da estrada, do frio que fazia, da distancia que percorria. Guardara as lembrancas de um passeio pelos alpes, de um lago que todo inverno congelava, das rodovias em curvas daquele seu estado americano do oeste.
Pensava ela que o mundo era redondo e por isso girava apenas uma so vez. Algumas coisas voltavam, eh verdade, mas isso chamava-se acidente de percurso. Entao pensara que acidentes podem nao ser ruins. Veio agora uma imagem de algodao doce - logo nela, que o achara tao chato!
No parques de diversao que estivera na vida, la resolvera ficar. Viveria para sempre como em um, toda vez que quisesse, como que a escapar. Enquanto isso, as noites eram todas azuis, o homem perguntava se sua cor favorita era preto e ela respondia que nao, que era azul, pensando que todo mundo ja deveria saber a essa altura. E, ao aproveitar o percurso, dirigia em um carro que nao era seu, embora pudesse tomar o controle nao so do carro, mas da situacao.
Sozinha na rua, voltava para si, observava janelas com jardineiras e se perguntava qual era o significado daquilo. Enquanto andava, tomava notas e se deixava experimentar de novas situacoes que ficariam escritas em seu caderno. Com dedicacao, tomava cuidado para nao perder suas canetas, que eram muitas. Escrevia em tudo quanto eh lugar, desejando ser um dia membro de uma gangue de pixadores. Assim, pensara ela, nao so esse dia mas toda a minha vida ficariam escritos para sempre.
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