10 de ago. de 2012

Pensamentos de uma semana


Finalmente chegou a semana que se parece com um dia. E ela já passou. Um dia na vida. Um dia na minha vida. Um dia na vida de quem sou. Sou eu agora.

Nas horas que formaram os dias que se tornaram essa semana que mais pareceu um dia na vida da gente, peguei muito ônibus e realmente olhei da janela. Olhei para notar. Ao passar por aqueles prédios feios do centro, pensei no que poderia haver ali dentro. Viajei sem sair do lugar, enquanto o ônibus andava. “Eu sempre gostei de andar de ônibus”, repetia eu mesma para mim enquanto as ruas chegavam.

Nesse dia, que na verdade foi uma semana, nunca visitei tanto médico.  E até por um momento pensei que em uma vida eu até seria médica só para não ser tudo o que eles são. Mas eu não estava ali para dar lição, só mesmo para ignorar revistas em consultórios, reparar em como conversa a secretária, duvidar do gosto da decoração e ler meu livro que eu enfiei na bolsa e não tirei mais.

Sim, minha semana foi marcada por médicos, o que me fez sentir-se cuidada. Isso é um engano bom, um engano consolador. E eu meio que me acreditei.

Essa semana li muitas páginas que escreverão futuro. Esqueci, ou não lembrei, do que sempre invade a minha mente porque nunca deixou de habitar meu coração. Senti saudade do amigo, com o coração apertado. Mas depois passou, sem nunca sair daqui de dentro de mim. Falei com ele por vídeo, o que me fez reparar em como ele se parece com o Jim Morrison. Até na cor dos cabelos grandes e barba, castanhos de um jeito que eu sempre achei sem graça – agora, nem tanto.

Essa semana andei reparando tanto. Mas sem alma de artista. Assim, só por olhar. Não me preocupei com a cor descascando, com o azulejo quebrado que nunca combinou, com a pilastra que não deveria estar ali, e nem notei na arquitetura. Eu fui mais foi só olhando...

Essa semana deixei tudo que há em mim sair só para ver o que eu sou mesmo. Mas os livros, esses eu nunca os deixei. Ainda que os colocassem na estante, ou ao lado de minha cama, só para eu saber que estão ali. Às vezes, tudo o que a gente precisa é saber e mais nada. E mais nada porque qualquer outra coisa seria supérfluo.

Essa semana, que foi composta por médicos, foi tão sem graça que ficou leve. Vai ver eu me perdi, saí de mim mesma para ser outra. Médicos são números, são fatos e nunca reticências. Por isso o porquê dessa semana, desse texto sem poesia, tão obvio, simplista e sem graça. Todo nu.

4 de ago. de 2012

Em jogo de defesa e acusação


Me peguei te defendendo: defendendo os seus olhos, seu nariz e quase cheguei à sua boca. Te defendi em um dia de hoje, quando minha irmã falava que o outro, que também é esse, era mais bonito. E como poderia, logo eu, tomar partido? Não seria mais político – quem sabe ético – me manter neutra, guardar palavras e quem sabe concordar que sim? Concordar que dois? E que um mais um são dois e que assim são você e ele?

Você e ele.

Hoje me peguei te defendendo. Tive que viajar sobre cada detalhe do seu corpo, para me lembrar que existe você. Lembrar que existe o que já está aqui, pois eu nunca me esqueci. E fui lembrando com sorrisos – não só a cor dos olhos mas também o tom. E fui me apegando aos detalhes. E fui colocando carinho. E me peguei – sim, e me peguei. E então encontrei-me me policiando. E no fim concordei com minha irmã, que acha o outro mais bonito – o outro, que também e esse, pois escreveu palavras de amor no meu caderno chamado Vida – e concordei comigo também, que acho você. Tá bom? Sim, você já sabia? Já sabia, se não esqueceu...

E no fim me alertei, cruzei as pernas, disse a ela, à minha irmã, que não falasse de você e que não me obrigasse a te defender. E virei para frente, pois estava meio de lado.

12 de jul. de 2012

Delicadeza

Delicadeza. Talvez essa seja a palavra chave. Delicadeza pressupõe que eu vou ler tudo o que eu quiser ler pelo simples fato de que eu quero ler. Delicadeza pressupõe notar as cores dos azulejos da cozinha. Olhar para você enquanto você nem percebe. Delicadeza para se escrever em quadro negro. Delicadeza ao separar as coisas que não quero mais e guardar as que eu quero, pelo simples fato de existir amor em mim pelas minhas coisas. Delicadeza para escutar música, porque isso sim exige delicadeza. Delicadeza para ouvir e fingir que ouviu, deixando passar. Isso chama-se delicadeza consigo. Delicadeza em tons de verde. Delicadeza até quando o tom de azul prevalecer sobre todos os outros. Delicadeza para dirigir - essa estou empregando há algum tempo e ainda tenho dificuldade. Gosto mais é correndo. Delicadeza na hora de comprar vasilhas para a cozinha, por exemplo. Quem diria? Delicadeza para saber quando é hora de deixar para trás, ainda que traga consigo. Delicadeza na hora de tomar decisões e principalmente quando não se está tomando nenhuma. Delicadeza com as arquiteturas feias que tomam todo lugar de um país como esse. Delicadeza para com as janelas, pois elas são a alma da casa. Delicadeza com o mato, onde se nasce flores. Delicadeza como uma tabuada de matemática, pois exige-se prática. Delicadeza com você, quando te olho de um visor de computador do outro lado da tela que eu chamaria de outro lado do mundo. Delicadeza enquanto você nem sabe. Delicadeza ao se escrever mas, principalmente, ao se pensar, já que pensamentos viram escrita. Delicadeza para reconhecer as qualidades dos outros e para esquecer os defeitos. Delicadeza para lembrar de dia importante, que aconteceu em algum lugar da Europa Oriental dessa vez. Dessa vez. Delicadeza para não esquecer das outras vezes e ainda lembrar. Delicadeza enquanto se passa em ponte, ao imaginar quem é que fez aquilo. Delicadeza ao cair da noite, que já prevém o futuro climax: a madrugada é a hora mais delicada do mundo. Delicadeza para entender mas, principalmente, para não entender. Porque às vezes é preciso não entender e isso se torna o mais importante. Delicadeza para ser possível se lembrar do quarto de brincar da infância. Delicadeza ao se pensar em lugares abandonados porque eles são de uma delicadeza só! Delicadeza para identificar aquilo que sempre soube mas que de repente esqueceu. Delicadeza como quando se limpa aquários. Delicadeza que você faz nascer em mim sem saber que sequer isso existisse... Delicadeza me faz lembrar você.

9 de jul. de 2012

Minha ira com o governo

A minha ira com o governo começa todos os dias, ao dia começar. E começa de um jeito tão rude, cru e aí pra gente ver que eu nem posso fazer poesia. A minha ira com o governo me tira. Me tira a sensibilidade, a esperança, a fé e até a força. Porque a minha ira com o governo é a coisa mais forte que eu tenho dentro de mim nesse momento. Hoje acordei com a minha ira com o governo. Ela tomou forma concreta ao ler um email que uma amiga me mandou. Os dados, que ignoramos no vai e vem do dia-a-dia. Essa nossa mania de esquecer. E de nunca lembrar. Reconheci que somos ricos, quando eu sempre mais do que já sabia. Somos o povo que mais trabalha para pagar impostos, depois dos suecos. E que vida de sueco a gente tem? Hein? Essa vida daqui está mais para ser comparada com a de outro lugar do mundo, que hoje comentei com minha irmã mas não irei comentar aqui. Chega de criar alvoroços para coisas que não merecem ser notadas. Sabe o que mais me irrita? As pessoas que eles chamam de "brasileiros". Eu, sabe, chamo-os por outro nome. Mas vou pular isso porque isso é assunto meu. É que você que está lendo isso aqui, tenho certeza, não leu o jornal de hoje, não leu o jornal de ontem, não parou para ler a capa da revista exposta na banca e pagou por um imposto que nem sabia que fora criado. E isso tudo - e o pior disso tudo - é que você não participou de nada e, assim, nada teve a declarar. Vamos todos pagar caro, os impostos mais caros do mundo, para nada. Para sermos chamados de pobres, porque sim, somos um bando deles. Para nada, para mandarmos dinheiro para os países europeus que estão em crise, para os países africanos que chamamos inconscientemente de colônias, para bolsos privados e bolsas de marca. Vamos todos. Porque quem não participa, ajuda a pagar também. Eu, que não escolhi esse governo brasileiro ridículo que esta aí (apenas mais um em quinhentos anos, eu quase diria), pago também. E o mais caro é o pato. Hoje, mais um dia, eu estou com raiva do governo. Ele mingua minha poesia de maneira brutal, fria, nua, crua e vazia. Governo não é poesia. É um adeus, Brasil.

8 de jul. de 2012

Enfim chegou o dia

Estava ali na minha frente. Na minha frente. Isso poderia ser real, até pensei. E era. Tinha a oportunidade de tocar. De tocar com mais força até machucar, se quisesse. Enfim, chegou. Andei quilômetros. Peguei um ônibus no qual abri todas as janelas. Desci no ponto certo só por calcular. Não gosto de nada planejado, anotado em papel, explicado - embora o faça. Gosto é de confiar na minha intuição. E ir. Ir assim. Ir sem saber. E no fim ver que acertou. Que acertou-se ... qualquer que seja essa força - vai ver o nome dela é "força que existe dentro da gente". Mas enfim estava ali. Ela com seu cabelo curto, alisado e cor descorada. Eu com os meus longos, embarassados porque gosto assim, jogando-o de lado, escondendo-o quando ela olhava para ele - é que há muito tempo venho ouvindo histórias de como cabelos dispertam inveja entre as mulheres. Pois assim, preferi esconder o meu. Reparei no blush. Sim, lá estava ela, bem em frente a mim. E lá estava eu, sentada em um banco impaciente. Toda vez que ela passava por mim, eu fazia questão de não ver. Jogava minha bolsa sobre minhas pernas, como quem não liga para nada, enquanto ela andava com aquele seu sapatinho boneca sem graça como os de todo mundo. Ia e vinha, e eu ali sentada. Acho que eu percorria mais lugares que ela, na verdade. Observei as pessoas que entravam e saíam, isso tudo sem muito se integrar. É que eu tenho medo de me envolver, ficar com dó de criança chorando ou brigar com a mãe que vestiu a filha com blusa verde e saia cor de rosa, por exemplo. Fiquei esperando me chamar quando ela não chamava. Quando finalmente me chamou, não escutei. É que essas coisas são assim. Está vendo? Não te disse? Quando menos se espera, mais acontece. Bom é ter surpresa, bom é não ouvir quando escuta-se chamar. Finalmente entrei, quando ela falou o que havia feito, quando sei que não aconteceu. Por isso, então, resolvi falar de volta. É automatico. É que nasci assim. Sob esse signo. Sob um céu que esqueci de reparar naquela noite. Mas foi anotado em algum lugar, não se preocupe. Sentei, finalmente, em um outro lugar. Frente a frente. Frente a ela. Olhei sem querer olhar. Não gosto de olhar nos olhos, mas na boca. Mas às vezes eu olho nos olhos, bem fundo, sem nem piscar. E aí você vai ver. Falei, falava. Respirava. Às vezes repirava fundo. Pausava. Pensava. Falava mais. Me perdia. Relembrava, contava. Sem dar muitos detalhes, isto é. Teve uma hora que meus olhos castanhos se permitiram ser fracos, desses que nem os de cor verde, e chorar. Mas eu chamo é de lacrimejar. Mas ela logo levantou-se e buscou dois papéis. Prestei atenção no número: dois. Esse número é meu, todo meu e só meu. Se quiser saber de mim, olhe para o número dois: sou eu. E ela, ali na minha frente, deve ter experimentado sensações mágicas pelas quais eu a deixei passar. Sim, elas estão todas dentro de mim. E às vezes deixo as pessoas experimentarem. Poucos tiveram a sorte - você foi um deles. Sim, você. Você! Mas eu não sei até onde ela se levou e deixou-se experimentar. E nem quero saber. Eu não me interesso muito por muitas pessoas. Por poucas, aos poucos e poucas vezes. É que raro é mais especial. Mas estavamos ali, frente a frente. Espera-se que quando estão frente a frente as pessoas saibam tudo umas das outras? Não, diria que mais "lado a lado". Ou quando uma está à frente e a outra lá atrás. É porque ficou lá atrás, num caminho perdido que um dia tomou lugar. Falei da minha raiva com raiva. Raiva é uma coisa que demonstro. Tenho até que me policiar. E não vá falar grosseiro com o cachorro, que eu vou ver, que eu vou ficar com raiva e, brava, vou lá brigar. Isso, por exemplo, é um episódio que estou antecipando. Ele na verdade aconteceu depois dessa história aqui, quando eu já estava na esquina. Mas eu sentada ali, me permitindo, abrindo o meu coração que saía pela boca, e me perguntando: será que ela vai saber? Será que irá me experimentar? Estou me doando. Aproveite! Poucos sabem assim de mim. Falei. E no fim anotou números que não combinam e seu nome, que eu já sabia. Em um papel reciclado de uma cor meio marrom que acho tão feio. Eu até jogaria esse papel fora se não fosse pelas informações que ele guardava. E aí me pergunto para que reclicar papéis se vão torná-los feios e eu vou jogá-los fora, no fim das contas. Mas isso eu pergunto só para mim mesma, porque nao há solução e quando é assim eu só questiono. E no fim do dia, que durou um manhã em poucos minutos, nos encaramos, logo eu que olho sem ser notada e não me deixo revelar. Era so uma médica. Médica da alma. Dessas que meu pai fala que não existem. Obs.: desculpai-me escrever em símbolos.

6 de jul. de 2012

"Tristeza não tem fim"

Carrego todas as minhas tristezas comigo. Tristezas não vão embora; tristezas adormecem. Vira e mexe voltam por aí, nesse lugar dentro da gente, e nos acordam e recordam com um soco no estômago - por que é que tristeza é assim? Às vezes se vão, sim é verdade e me esqueci. Mas é só para dar lugar para outras tristezas...

5 de jul. de 2012

Palavras que viram combinações bonitas

Tenho amores por nomes, mas sao os nomes que me amam primeiro. E pelo meu nome chamam. Sou obrigada a olhar. E ler. Os nomes. Sim, de vez em quando leio uns nomes tao bonitos que ate repito para mim mesma toda hora porque entra-se em uma especie de transe. Nem sei porque, eh so mesmo o nome. Quem sera que escolheu, eu me pergunto. De uma coisa eu sei: quem os criou, ou escreveu, bem que sabia. Sim, ele sabia da magia que havia por tras e de como nos seduziria ate conquistar. Nao gosto muito de revelar os nomes, mas vou dividir aqui tres que venho repetindo ultimamente: "nós que aqui estamos por vós esperamos", "histórias que só existem quando lembradas", e "eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios". Sim, sao todos nomes de filmes que eu nao vou assitir nunca-jamais, mas sao mais do que isso. Sao a metamorfose do mundo, a palavra dita ao pe do ouvido que voce nao ouviu, a fumaca que se deixou passar, o suspiro engolido e a duvida que acorda mas nao mata. Voce nao entendeu nada, nao eh? Eu sou assim meio estranha mesmo. Mas repito as palavras, e depois as escrevo para deixar para sempre.