Todas as coisas do mundo deveriam ser palpáveis. E não apenas sentidas, e não apenas lembradas, e não apenas vividas.
Elas deveriam caber na palma da minha mão, e estarem sempre em um local que os meus olhos pudessem alcançar.
Sei que os cheiros das coisas nunca morrem, eles vivem dentro de mim. E as lembranças mais intensas e queridas dormem em um canto especial da pessoa que sou. Mas, ainda sim, eu queria tocá-las.
E, se assim fosse, as manteria em uma caixinha antiga, dessas que compramos em brechós, cheia de significado. Sei que ela seria com detalhes azuis, pois não haveria espaço para mais nada. Eu jogaria ali dentro tudo quanto é lembrança e pedaço de vida vivido. E, talvez, não mais precisaria escrever - hoje, tudo é eterno por meio da escrita.
Se eu pudesse tocar nas coisas que me são queridas, tocaria com um gesto de carinho leve e intenso. Suave e profundo. Tão verdadeiro como a água. E iria acariciar até formar relevos de amor. E pediria para eu nunca mais chorar.
Se eu pudesse tocar as coisas que me são amadas, tocaria os dias vividos com amor. Tocaria aqueles meus dias que me foram os mais queridos, os com mais surpresa, os mais simples e por isso mais significantes. Tocaria como quem sopra ao pé do ouvido, pois sei que eles moram em um local chamado ontem. E fitaria com meus olhos castanhos que guardam tudo, sem piscar.
Se eu pudesse tocar no ontem, tocaria em você e neles, e nas folhas de caderno que me são tão preciosas pois contem poesia e literatura e versos. E você entenderia porque gosto de colecionar canetas - elas são tão importantes.
Se pudesse tocar em que fui, traria de volta a menina que sei ser. A menina dos cabelos longos e castanhos, que minha mãe tanto gostava. A menina dos cabelos que o pai gostava de ver quando era criança. Mas isso faz parte de um passado de uma idade que já não sou. Mas esta aqui comigo e, por isso, sou.
Se eu pudesse tocar nas coisas que me são tão preciosas eu tocaria com um amor tao inocente e livre de qualquer coisa, com um carinho tao verdadeiro e que não espera nada em troca, com uma vontade que mais soa como desejo, com um suspiro rápido como quando chega-se perto de um orgasmo, com as mãos que me são tao minhas, e com a sinceridade de ser quem sou.
21 de ago. de 2014
11 de ago. de 2014
Estação Doçura
Chegue perto, estação doçura. Pois é em você que eu quero ficar.
Sopra-me os ventos do sul, e com ele traga o cheiro azedo de um alguém muito querido. Seja gelado sob meu corpo frio, envolva-me como em um laço, sem deixar-me ir. Sim, aperta-me, em sua mais doce estação.
Estação doçura é tudo aquilo que fez-me bem. Que tratou-me com carinho. Que falou-me baixinho. Que preferiu me escrever. Que olhou nos meus olhos, apenas esperando que eu abaixasse meu olhar timidamente. Estação doçura tem a aura azul.
Estação doçura é a parte mais forte e presente da vida da gente. Pode não ser a mais longa, mas é a que fica marcada, a que fica para sempre. Estação doçura é o que faz a gente ser quem a gente é, ainda que não sejamos assim diariamente. Porque as vezes a gente se esquece.
Estação doçura tem a forma de um abraço. Soa como palavras recitadas ao pé do ouvido. Parece casal apaixonado em portão com arquitetura medieval de um edifício abandonado de valor histórico. Fica gravada em folhas de um caderno bonito para ser sempre essa coisa especial.
Encanta-se a juventude, amortece os primeiros anos dessa fase adulta. Soa os sinos da igreja abandonada, pergunta-se para onde foram as perguntas. Tudo significa muito e nada faz sentido.
Estação doçura é onde quero estar. Habito um coração amolecido, e deixo-me me matar. Aos pouquinhos a gente se enfraquece toda, porque a estação doçura ficou parada em outra estação ... Dá vontade de pegar de volta o trem.
Estação doçura tem a cor que eu mais amo, tem lembrança cheirosa, tem segredos cheios de simbolismos. Ela trouxe para mim meus amigos fraternos, o carinho de uma mão, uma risada sem compromisso, uma comida que faz mal ao colesterol, e um sorvete ao fim do dia para provar que a perfeição existe.
Quero parar na estação doçura, onde habitei ternamente, e estar para sempre lá, assim cheia de ternura.
Sopra-me os ventos do sul, e com ele traga o cheiro azedo de um alguém muito querido. Seja gelado sob meu corpo frio, envolva-me como em um laço, sem deixar-me ir. Sim, aperta-me, em sua mais doce estação.
Estação doçura é tudo aquilo que fez-me bem. Que tratou-me com carinho. Que falou-me baixinho. Que preferiu me escrever. Que olhou nos meus olhos, apenas esperando que eu abaixasse meu olhar timidamente. Estação doçura tem a aura azul.
Estação doçura é a parte mais forte e presente da vida da gente. Pode não ser a mais longa, mas é a que fica marcada, a que fica para sempre. Estação doçura é o que faz a gente ser quem a gente é, ainda que não sejamos assim diariamente. Porque as vezes a gente se esquece.
Estação doçura tem a forma de um abraço. Soa como palavras recitadas ao pé do ouvido. Parece casal apaixonado em portão com arquitetura medieval de um edifício abandonado de valor histórico. Fica gravada em folhas de um caderno bonito para ser sempre essa coisa especial.
Encanta-se a juventude, amortece os primeiros anos dessa fase adulta. Soa os sinos da igreja abandonada, pergunta-se para onde foram as perguntas. Tudo significa muito e nada faz sentido.
Estação doçura é onde quero estar. Habito um coração amolecido, e deixo-me me matar. Aos pouquinhos a gente se enfraquece toda, porque a estação doçura ficou parada em outra estação ... Dá vontade de pegar de volta o trem.
Estação doçura tem a cor que eu mais amo, tem lembrança cheirosa, tem segredos cheios de simbolismos. Ela trouxe para mim meus amigos fraternos, o carinho de uma mão, uma risada sem compromisso, uma comida que faz mal ao colesterol, e um sorvete ao fim do dia para provar que a perfeição existe.
Quero parar na estação doçura, onde habitei ternamente, e estar para sempre lá, assim cheia de ternura.
27 de jul. de 2014
Meu pé esquerdo
Meu pé esquerdo carrega comigo todas as coisas que já vivi na vida, e carrega a mim também.
Nele, apoio os ombros e meus pensamentos.
Desenho em folha de papel branca e crua a menina que fui e sou, não sabendo o que um dia serei - e se serei. Marco os contornos do meu corpo no desenho de leve, porque estou cansada dos conflitos históricos que não saem do lugar e não levam a lugar nenhum. O mundo é complicado demais, e eu faço parte dele assistindo.
Derramo tinta azul para dar alma a quem sou, porque sei que não há nada além disso e nada além de mim. Sou apenas quem sou, aqui e agora. E mantenho-me em pé sob meu esquerdo que me segura, me sustenta, divido comigo o mundo que levo nos ombros e anda comigo em círculos quando não sei para onde vou.
Diz-se que começa-se um bom dia com o pé direito mas eu muito desconfio que isto seja apenas um ditado desta região do mundo. Porque minhas duas irmas são canhotas e então o pé esquerdo só poderia trazer carinho e afeto a mim, e trazer-me para a vida.
Nele, apoio os ombros e meus pensamentos.
Desenho em folha de papel branca e crua a menina que fui e sou, não sabendo o que um dia serei - e se serei. Marco os contornos do meu corpo no desenho de leve, porque estou cansada dos conflitos históricos que não saem do lugar e não levam a lugar nenhum. O mundo é complicado demais, e eu faço parte dele assistindo.
Derramo tinta azul para dar alma a quem sou, porque sei que não há nada além disso e nada além de mim. Sou apenas quem sou, aqui e agora. E mantenho-me em pé sob meu esquerdo que me segura, me sustenta, divido comigo o mundo que levo nos ombros e anda comigo em círculos quando não sei para onde vou.
Diz-se que começa-se um bom dia com o pé direito mas eu muito desconfio que isto seja apenas um ditado desta região do mundo. Porque minhas duas irmas são canhotas e então o pé esquerdo só poderia trazer carinho e afeto a mim, e trazer-me para a vida.
20 de jul. de 2014
Aboli em um dia de pensamento
Aboli o mundo em um dia de pensamento.
Aboli as algemas que prendem as cabeças que não pensam. E desfiz as construções religiosas. Soprei nos ouvidos das pessoas velhinhas o soar do vento, sempre tão distinto. Amarrei com fita vermelha em forma de laço o carinho entre as pessoas.
Aboli este mundo em um dia de pensamento, e chacoalhei meus cabelos a fim de dizer não. Lembrei-me de que não sou ninguém, pois sou apenas alguém - eu mesma. Recortei com cuidado as memórias de um tempo bom que existiu e mantem-se para sempre.
No fim da rua, onde começa a União Soviética, pintei todos os muros sem vida e sem cor. Apenas para desafiar. Reli os livros que ando lendo para entender um pouco da história sobre outro ângulo - na verdade, os "maus" da história serão para sempre maus. Não há como mudar os fatos.
E, os detalhes, logo eles - sempre tão grandes aos meus olhos, embora tao pequenos e despercebidos para a humanidade! - foram sublinhados primeiramente de azul, mas depois pintei de cor de rosa, que é para alegrar este pedaço da história. A história é tão bonita e doída. E nem sei porque estou falando tanto dela - é que estou estudando em forma de lazer.
Aboli minhas mãos, as mangas das minhas blusas, cortei os cardaços dos sapatos, embora me refuse a andar descalço. Não gosto mesmo, não tem jeito. Retoquei o espelho com batom vermelho bem contornado, com traços delicados, mantendo-me viva. Olhei pela janela que mostrava a rua iluminada e escondi-me, tao tímida que sou.
Aboli este mundo em um dia de pensamento, porque os pensamentos acabam com tudo.
Aboli as algemas que prendem as cabeças que não pensam. E desfiz as construções religiosas. Soprei nos ouvidos das pessoas velhinhas o soar do vento, sempre tão distinto. Amarrei com fita vermelha em forma de laço o carinho entre as pessoas.
Aboli este mundo em um dia de pensamento, e chacoalhei meus cabelos a fim de dizer não. Lembrei-me de que não sou ninguém, pois sou apenas alguém - eu mesma. Recortei com cuidado as memórias de um tempo bom que existiu e mantem-se para sempre.
No fim da rua, onde começa a União Soviética, pintei todos os muros sem vida e sem cor. Apenas para desafiar. Reli os livros que ando lendo para entender um pouco da história sobre outro ângulo - na verdade, os "maus" da história serão para sempre maus. Não há como mudar os fatos.
E, os detalhes, logo eles - sempre tão grandes aos meus olhos, embora tao pequenos e despercebidos para a humanidade! - foram sublinhados primeiramente de azul, mas depois pintei de cor de rosa, que é para alegrar este pedaço da história. A história é tão bonita e doída. E nem sei porque estou falando tanto dela - é que estou estudando em forma de lazer.
Aboli minhas mãos, as mangas das minhas blusas, cortei os cardaços dos sapatos, embora me refuse a andar descalço. Não gosto mesmo, não tem jeito. Retoquei o espelho com batom vermelho bem contornado, com traços delicados, mantendo-me viva. Olhei pela janela que mostrava a rua iluminada e escondi-me, tao tímida que sou.
Aboli este mundo em um dia de pensamento, porque os pensamentos acabam com tudo.
25 de jun. de 2014
O som das palavras ao fundo
Por vezes torna-se tão difícil expressar-me em palavras. Logo eu, que tenho apenas este recurso!
Sinto que quero escrever, mas sei que nada tenho. Vejo que, o que habita aqui dentro - este sentimento que tantas vezes transformo em palavras - vai-se indo para longe, como para o fim de uma rua na União Soviética.
Sinto que esta morrendo. Torço para que sim, reluto para que não. Vivo sempre neste redemoinho, sem conseguir libertar-me a mim mesma. Sim, eu.
O que vou lhe escrever é tão difícil, é tão silencioso. E é tão real que não precisa ser dito. As coisas são assim: quanto mais intensas e verdadeiras, mais silenciosas. Falar para que, se posso escrever?
Sinto que quero escrever, mas sei que nada tenho. Vejo que, o que habita aqui dentro - este sentimento que tantas vezes transformo em palavras - vai-se indo para longe, como para o fim de uma rua na União Soviética.
Sinto que esta morrendo. Torço para que sim, reluto para que não. Vivo sempre neste redemoinho, sem conseguir libertar-me a mim mesma. Sim, eu.
O que vou lhe escrever é tão difícil, é tão silencioso. E é tão real que não precisa ser dito. As coisas são assim: quanto mais intensas e verdadeiras, mais silenciosas. Falar para que, se posso escrever?
15 de jun. de 2014
A Birthday Present ...
[...]
I do not want much of a present, anyway, this year.
After all I am alive only by accident.
[...]
Can you not see I do not mind what it is.
Can you not give it to me?
Do not be ashamed--I do not mind if it is small.
Do not be mean, I am ready for enormity.
Let us sit down to it, one on either side, admiring the gleam,
The glaze, the mirrory variety of it.
Let us eat our last supper at it, like a hospital plate.
I know why you will not give it to me,
You are terrified
[...]
I will only take it and go aside quietly.
You will not even hear me opening it, no paper crackle,
No falling ribbons, no scream at the end.
I do not think you credit me with this discretion.
If you only knew how the veils were killing my days.
To you they are only transparencies, clear air.
But my god, the clouds are like cotton.
Armies of them. They are carbon monoxide.
Sweetly, sweetly I breathe in,
Filling my veins with invisibles, with the million
[...]
Is it impossible for you to let something go and have it go whole?
Must you stamp each piece purple,
Must you kill what you can?
There is one thing I want today, and only you can give it to me.
[...]
I would admire the deep gravity of it, its timeless eyes.
I would know you were serious.
There would be a nobility then, there would be a birthday.
And the knife not carve, but enter
Pure and clean as the cry of a baby,
And the universe slide from my side.
Sylvia Plath
1 de jun. de 2014
Yesterdays were like a holy sonnet
Death, be not proud, though some have called thee
Mighty and dreadful, for thou art not so;
For those whom thou think'st thou dost overthrow
Die not, poor Death, not yet canst thou kill me.
From rest and sleep, which but thy pictures be,
Much pleasure, then from thee much more must flow,
And soonest our best men with thee do go,
Rest of their bones, and soul's delivery.
Thou art slave to fate, chance, kings, and desperate men,
And dost with poison, war, and sickness dwell,
And poopy or charms can make us sleep as well
And better than thy stroke; why swell'st thou then?
One short sleep past, we wake eternally
And death shall be no more; Death, thou shalt die.
(John Donne)
Mighty and dreadful, for thou art not so;
For those whom thou think'st thou dost overthrow
Die not, poor Death, not yet canst thou kill me.
From rest and sleep, which but thy pictures be,
Much pleasure, then from thee much more must flow,
And soonest our best men with thee do go,
Rest of their bones, and soul's delivery.
Thou art slave to fate, chance, kings, and desperate men,
And dost with poison, war, and sickness dwell,
And poopy or charms can make us sleep as well
And better than thy stroke; why swell'st thou then?
One short sleep past, we wake eternally
And death shall be no more; Death, thou shalt die.
(John Donne)
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