29 de out. de 2017

Partir não é deixar de ser

Partir não é deixar de ser, porque tudo continua sendo, mesmo que apenas existindo.

Partir não é deixar de ser: é só andar quatrocentos passos à frente e, depois, virar à esquerda. Poderia também ser à direita. Acho que tanto faz.

Partir não é deixar de ser, porque partistes deste mundo e mesmo assim você tem estado: hoje mesmo falamos de você. Ou melhor, escrevemos. Ela me perguntou como você era, como você era comigo e como éramos juntos. Tudo uma questão de ser: logo você, que nunca deixou de ter sido.

Partir não é deixar de ser: partir pode ser como começar um outro sentido.

Você partiu e, partindo-nos todos ao meio, sempre continuou, pelo menos para mim, a ser inteiro. Você, o mais inteiro de todos os homens.

Partir não é nunca deixar de ser: olha tudo o que você tem sido, mesmo ausente, mesmo tão longe, mesmo estando sem estar.

A voce, que partiu mas não foi partido: eu espero que, ainda que partindo, estejas a caminhar. Olho de longe os seus passos de pés abertos, vendo aonde eles vão te levar. Você, que vai, parte mas continua: partir não é deixar de ser. E, você, só tem sido. Tanto.

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