E se amanhã o medo?
Parece que eu nem terminei de falar, mas é frase completa.
O som da entonação nos diria que é pergunta feita. Mas eu nem ouso - nem ouso - perguntar.
E se amanhã o medo ... eu paro e olho uma rua ali na esquina que é quase aqui agora.
E se amanhã o medo ... eu viro para o meu lado esquerdo, sigo reto e não caminho. Dei uns passos cor azul-piscina, abaixei o olhar. Era amanhã de novo, mas parecia hoje em dia.
Hoje em dia, que é quase de noite: olho a hora no relógio. Já reparou como as horas são sempre uma, sempre únicas e sempre singulares? Ainda que sejam duas horas, essa hora é só uma: ela é só ela. Inteirinha. Ainda que seja um quarto de hora. Ou meio dia. Ou quinze para as três. E assim, inteiros, somos todos nós - alguns, mais do que os outros. E, entre esses alguns, você e eu.
Mas vamos voltar para o amanhã e o medo que está hoje: o medo não é, mas ele está. Está aqui neste momento. Está estático. Anda em ondas em seu movimento. Vem e bate de repente, nos sacode até nos acordar: veja e olha, diz o medo.
Quando eu paro em uma esquina, eu paro e penso: e se amanhã o medo?
E se amanhã amanhecer de dia, bem na hora em que eu acordar? E se eu pisar na grama e senti-la? E se eu atravessar a rua enquanto os carros estão parados? E se eu tiver tempo e chance e sensibilidade para olhar os detalhes daquele tom de cor em que foi pintado um muro sem vida? -- Ah! E se amanhã o medo?!
Eu me chamo um nome e sou. Eu sou uma pessoa vivida, viva, vivente e vivaz. Muitos dizem que o verbo é existir, mas eu digo: vá além.
E se o amanhã chegar, eu vou olhar e sentir. Eu vou olhar e parar. Eu vou olhar e repetir o nome enquanto escuto a minha voz.
E se amanhã o medo chegar?
2 de out. de 2017
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