9 de nov. de 2016

Acima de nós, em redor de nós as palavras voam e, às vezes, pousam

Um dia eu saí da minha atenção a mim e olhei para cima, e observei que havia uma palavra me rondando. Logo, ela se foi para o horizonte e eu achei que ela havia ido. Segui-a: achei um destino.

Outro dia pensei: são tudo palavras. O sentimento que você sente aí dentro do peito tem nome. O seu nome é nome, e eu te chamo pelo nome que dei a ti. E aquele lugar que eu fui um dia também é descrito por uma palavra que vem a ser seu nome. Coisas são apenas palavras e, se não tivessem nome, sequer existiriam. A linguagem é o começo de tudo. 

Eu acordei e queria escrever em um caderno - mas, na verdade, era noite. Está sendo agora. E então pensei comigo: será que meus pensamentos podem também vir a ser palavras? E, se eu os escrevo, encaro-os nos olhos? E, por isso, ganham forma? E as ideias? As ideias a que dou nome tornam alguma coisa, porque viraram palavras e então eu fui lá e as fiz. Estou sempre a executar ideias.

Estava rodeada por palavras e, quando olhei, vi: esta, eu te diria; aquela, guardaria para mim; a outra, eu sopraria ao vento para chegar a lugar-nenhum-que-é-todo-lugar.

Aquela tarde eu olhei para uma palavra e, novamente, enxerguei: escrevi. Falei em voz alta, mas estou sempre falando baixinho, bem aqui comigo. É raro me ouvir, pois prefiro pensar e escrever a falar. 

Acima do que sou, ao redor de mim as palavras voam: eu as encaro nos olhos, estendo as mãos e as pego.  

Acima de mim, ao redor do meu jeito de ser as palavras pousam: nem as chamei. Resta-me escrever. Vou te dizer: te contarei todas as palavras que me aparecem quando penso em você. 

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