20 de abr. de 2015

Todas as manhãs do mundo

O mundo começa com todas as manhãs. Todas as manhãs do mundo. E até as noites viram manhãs, que se tornaram noites.

O dia de cada um deveria começar como todas as manhãs do mundo: de um azul escancarado no céu. E que pudesse ficar cinza ao passar das horas, pois não me importo nem um pouquinho com esta coisa de céu nublado - pelo contrário, gosto e muito.

E que o sol fosse apenas um reflexo para dizer que existe. Está ali, mas bem longe. Pois machuca a minha pele e faz-me apertar os olhos, cerrando-os para proteger minhas vistas que são meus olhares e guardo para a leitura.

O mundo deveria ser formado por todas as manhãs do mundo. Porque são estas manhãs as chances da gente. São como se viessem e estendessem a mão. Como um braço que não se vê, não se sabe onde começa ou termina. Como um sopro de suspiro de acontecimentos surpreendentes e até mágicos - magia em seu sentido antropológico, quero dizer.

A vida de todo mundo deveria ser todas as manhãs do mundo. Onde só haveriam bilhetes de ternura pelos cantos e memórias transbordando o coração vazio. Todas as manhãs do mundo são como uma imensa janela aberta, são como as aulas de cinema que cursei durante 3 semestres na faculdade, são como as anotações espalhadas por folhas por aí, são como esperar por um ônibus que nunca chega porque se tem a sensação doce de espera, são como olhar apenas para observar, mas, no fundo, ver.

Todas as manhãs do mundo. E não seria suficiente para os dias da vida, que são formados por segundos e minutos, mas só são significativos pelas lembranças que se viveu. Um chá quente em uma tarde não tão fria em um país em que nada se entende da língua. Claro, era tão leste este negócio, onde fui me aventurar? Será que sou assim e ou simplesmente fui? Serei de novo?

Todas as manhãs do mundo deveriam se reunir para louvar a existência, que passa breve como uma folha que só dura até o outono. E valorizaríamos as coisas mais insignificantes pois estas, para mim, são as mais importantes. E eu faria da minha vida todas as manhãs do mundo, porque viveria a meu jeito e a meu ver. Com meu muito e pouco entendimento, minha ignorância e pré-pensamentos e, principalmente, a minha vontade de conhecer. Pois conhecer vem de conhecimento, e neste eu me invisto muito.

Minhas todas manhãs do mundo seriam como eu parada em uma rodovia, contando os carros que passam como se isso valesse alguma coisa. Na verdade, este era só parte do caminho. Preciso continuar a trilha, caminhando assim vou. Porque todas as manhãs do mundo são contadas em um ponteiro de relógio enquanto vejo o filme A Noviça Rebelde pela milésima vez, a pedido, primeiramente, da minha tão querida, culta e cuidadosa mãe.

Todas as manhãs do mundo seriam minhas, porque só eu as sei fazer assim, e sei viver e principalmente esquecer, e muitas vezes fico perdida ao começar de novo. E nestas horas somos como a lenda, e a gente nem sequer existiu neste sopro de vida que chamamos "existência".

Todas as manhãs do mundo para mim. E para você e para cada uma das pessoas que habitam a Terra, sejam elas do meu agrado ou não, porque na verdade sempre me interesse apenas pelas pessoas charmosas e, quanto ao resto, não os considero maus - apenas não os considero charmosos e por isso não me são atraentes. Não tenho tempo a perder, pois me sou muito preciosa já que não durarei para sempre. Enquanto isso, corro para pegá-la e vivê-la: a manhã do mundo.

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