Procura-se.
Procura-se uma passagem que se compre e te leve para a vida, ou a passagem pela qual se passa para chegar a tal destino.
Procura-se como quem colhe aquelas flores delicadas e brancas, as quais nunca soube o nome. E com uns olhos de leão valente, como um peixinho que sou.
Passagem para a vida é como uma mochila que se carrega nas costas. Uma mochila pesada, mas não pelas coisas que carregamos mas pelas coisas que nos carregam. Nos empurra. Nos levanta. Nos impulsiona. Nos carrega, verdadeiramente, nos braços. Ou nas costas. Até nos ombros!
Passagem para vida, e um copo de chocolate quente que lhe queimou a língua porque assim será com você todas as vezes em sua vida em que comprar um chocolate quente para beber. Não se consegue esperar e tem-se sempre a esperança de que já se pode experimentar. Como se fôssemos todos adultos mais que crescidos: fortes.
Passagem para a vida é aquele lugar só seu sem sentido algum mas que tem todo o significado por representar algo grandioso. São as gotas de chuva na janela e o vento batendo. O latido do cão ao lado que não lhe incomoda tanto porque lhe transborda amor. Uma planta verde no canto que chamamos de mato, porque tudo é mato e planta quando não se sabe o nome. E quando é que se sabe nome?
Passagem para a vida é você com todas aquelas inúmeras folhas cheias de anotações sobre o genocídio na Armênia. Você não se aguentando de ansiedade porque quer discutir o tema com aquela sua amiga da Macedônia, porque acredita-se que todo mundo que venha dos balcãs seja carregado de história. A passagem se parece como uma preparação em uma tarde durante a semana, porque o maior compromisso é consigo mesma. Um beijo jogado de longe. Seu cheiro tao característico que será sempre e apenas seu, a não ser que você permita que alguém chegue próximo o suficiente para senti-lo.
Passagem para a vida sou eu e todos os meus dizeres. Muitos não ditos, tantos escritos. Sou eu com o poder de voz que me é dado, como se eu tivesse a chance de falar tudo o que penso e acho e acredito e desconfio, e sair correndo. Abrir mão de um futuro logo aqui no presente. Respirar tão profundamente que se sente o sintoma do mundo. Eu sempre estou a fazer diagnósticos, acho-me uma psicanalista muito aprofundada e fajuta, porque me formei basicamente em seriados de tv, um semestre de psicologia e livro. E, claro, todas as minhas questões teóricas que, no ar, ganham uma tonalidade roxa. Ah, como eu sou vasta e o mundo é ambíguo.
Passagem para a vida é aquele trem que a gente pega, e aquele que a gente perde, e o outro que pegamos no lugar de nenhum dos dois. Embarca-se, porque sabe-se que chegaremos em algum lugar. Apenas não se sabe onde. Quem cai, do chão não passa, e a Terra no fim é redonda. O pior já aconteceu, ou teme-se os próximos capítulos? Vida, seremos amigas de infância e eu lhe comprarei um sorvete.
A passagem para a vida inclui a mim em uma estrada verde. A cor, neste sentido, não é simbólica, mas apenas uma cor que me veio na cabeça mesmo. Eu fecho os olhos para ver e então escuto a minha respiração - eu, que estive tão ocupada. Os olhos dos vilarejos estão todos sobre você, porque espera-se tanto de uma menina pequena! Oh deuses, o que se faz quando a gente cresce e vira pessoa adulta? Ganha um certificado ou perde-se um sapato ou outro?
Passagem para a vida e uma menina e seus utensílios. Ela guardava tudo como se sobrevivesse a um regime que lhe obrigasse a dividir tudo e não ter nada e despir-se de sua personalidade. Eu lhe confesso que nem sei o nome deste regime político, pois escutei muito os sermões de minha irmã e vi uns filmes de cineastas do leste. E eles não são a mesma coisa. Diz-se que o livro do grande teórico marxista era teoria, e que a prática foi outra. Mas o que eu digo é que o que aconteceu é tudo o que temos.
Passagem para a vida e eu me acordo como num interior de sábado, porque agora não é nem de dia nem de manha nem de tarde e nem hora alguma. Agora um minuto só meu no meio da noite que já quase entra para a madrugada, onde se ganha vida pois todos dormem e, assim, vive-se mais verdadeiramente. Estou escrevendo este negócio porque estou repleta de informações que não são minhas e eu queria mesmo era cuidar apenas dos meus interesses e que tudo mais se explodisse como um vulcão que dorme. Pois cuido do mundo e esqueço o que é meu, e no meio do caminho perco parte daquela pessoa em que me transformei, como se tudo estivesse acabado. E, assim, sabe-se que as regras e os cubos são simpáticos ao caos, e uma linha reta é sempre mais direta e o caminho certo.
Agora, neste momento, confesso ainda que não sei de nada, pois escrevi tudo, o que se escreve só faz sentido em um outro dia, e eu só sei que é assim. Enquanto isso, prepara-se pois a gente veste a roupa que está ao nosso alcance no armário, de preferência na cor azul marinho, e assume o papel que nos foi dado porque a curva é logo ali e chega logo.
Avista-se a passagem para a vida e esta não se pode deixar passar.
24 de abr. de 2015
20 de abr. de 2015
Todas as manhãs do mundo
O mundo começa com todas as manhãs. Todas as manhãs do mundo. E até as noites viram manhãs, que se tornaram noites.
O dia de cada um deveria começar como todas as manhãs do mundo: de um azul escancarado no céu. E que pudesse ficar cinza ao passar das horas, pois não me importo nem um pouquinho com esta coisa de céu nublado - pelo contrário, gosto e muito.
E que o sol fosse apenas um reflexo para dizer que existe. Está ali, mas bem longe. Pois machuca a minha pele e faz-me apertar os olhos, cerrando-os para proteger minhas vistas que são meus olhares e guardo para a leitura.
O mundo deveria ser formado por todas as manhãs do mundo. Porque são estas manhãs as chances da gente. São como se viessem e estendessem a mão. Como um braço que não se vê, não se sabe onde começa ou termina. Como um sopro de suspiro de acontecimentos surpreendentes e até mágicos - magia em seu sentido antropológico, quero dizer.
A vida de todo mundo deveria ser todas as manhãs do mundo. Onde só haveriam bilhetes de ternura pelos cantos e memórias transbordando o coração vazio. Todas as manhãs do mundo são como uma imensa janela aberta, são como as aulas de cinema que cursei durante 3 semestres na faculdade, são como as anotações espalhadas por folhas por aí, são como esperar por um ônibus que nunca chega porque se tem a sensação doce de espera, são como olhar apenas para observar, mas, no fundo, ver.
Todas as manhãs do mundo. E não seria suficiente para os dias da vida, que são formados por segundos e minutos, mas só são significativos pelas lembranças que se viveu. Um chá quente em uma tarde não tão fria em um país em que nada se entende da língua. Claro, era tão leste este negócio, onde fui me aventurar? Será que sou assim e ou simplesmente fui? Serei de novo?
Todas as manhãs do mundo deveriam se reunir para louvar a existência, que passa breve como uma folha que só dura até o outono. E valorizaríamos as coisas mais insignificantes pois estas, para mim, são as mais importantes. E eu faria da minha vida todas as manhãs do mundo, porque viveria a meu jeito e a meu ver. Com meu muito e pouco entendimento, minha ignorância e pré-pensamentos e, principalmente, a minha vontade de conhecer. Pois conhecer vem de conhecimento, e neste eu me invisto muito.
Minhas todas manhãs do mundo seriam como eu parada em uma rodovia, contando os carros que passam como se isso valesse alguma coisa. Na verdade, este era só parte do caminho. Preciso continuar a trilha, caminhando assim vou. Porque todas as manhãs do mundo são contadas em um ponteiro de relógio enquanto vejo o filme A Noviça Rebelde pela milésima vez, a pedido, primeiramente, da minha tão querida, culta e cuidadosa mãe.
Todas as manhãs do mundo seriam minhas, porque só eu as sei fazer assim, e sei viver e principalmente esquecer, e muitas vezes fico perdida ao começar de novo. E nestas horas somos como a lenda, e a gente nem sequer existiu neste sopro de vida que chamamos "existência".
Todas as manhãs do mundo para mim. E para você e para cada uma das pessoas que habitam a Terra, sejam elas do meu agrado ou não, porque na verdade sempre me interesse apenas pelas pessoas charmosas e, quanto ao resto, não os considero maus - apenas não os considero charmosos e por isso não me são atraentes. Não tenho tempo a perder, pois me sou muito preciosa já que não durarei para sempre. Enquanto isso, corro para pegá-la e vivê-la: a manhã do mundo.
O dia de cada um deveria começar como todas as manhãs do mundo: de um azul escancarado no céu. E que pudesse ficar cinza ao passar das horas, pois não me importo nem um pouquinho com esta coisa de céu nublado - pelo contrário, gosto e muito.
E que o sol fosse apenas um reflexo para dizer que existe. Está ali, mas bem longe. Pois machuca a minha pele e faz-me apertar os olhos, cerrando-os para proteger minhas vistas que são meus olhares e guardo para a leitura.
O mundo deveria ser formado por todas as manhãs do mundo. Porque são estas manhãs as chances da gente. São como se viessem e estendessem a mão. Como um braço que não se vê, não se sabe onde começa ou termina. Como um sopro de suspiro de acontecimentos surpreendentes e até mágicos - magia em seu sentido antropológico, quero dizer.
A vida de todo mundo deveria ser todas as manhãs do mundo. Onde só haveriam bilhetes de ternura pelos cantos e memórias transbordando o coração vazio. Todas as manhãs do mundo são como uma imensa janela aberta, são como as aulas de cinema que cursei durante 3 semestres na faculdade, são como as anotações espalhadas por folhas por aí, são como esperar por um ônibus que nunca chega porque se tem a sensação doce de espera, são como olhar apenas para observar, mas, no fundo, ver.
Todas as manhãs do mundo. E não seria suficiente para os dias da vida, que são formados por segundos e minutos, mas só são significativos pelas lembranças que se viveu. Um chá quente em uma tarde não tão fria em um país em que nada se entende da língua. Claro, era tão leste este negócio, onde fui me aventurar? Será que sou assim e ou simplesmente fui? Serei de novo?
Todas as manhãs do mundo deveriam se reunir para louvar a existência, que passa breve como uma folha que só dura até o outono. E valorizaríamos as coisas mais insignificantes pois estas, para mim, são as mais importantes. E eu faria da minha vida todas as manhãs do mundo, porque viveria a meu jeito e a meu ver. Com meu muito e pouco entendimento, minha ignorância e pré-pensamentos e, principalmente, a minha vontade de conhecer. Pois conhecer vem de conhecimento, e neste eu me invisto muito.
Minhas todas manhãs do mundo seriam como eu parada em uma rodovia, contando os carros que passam como se isso valesse alguma coisa. Na verdade, este era só parte do caminho. Preciso continuar a trilha, caminhando assim vou. Porque todas as manhãs do mundo são contadas em um ponteiro de relógio enquanto vejo o filme A Noviça Rebelde pela milésima vez, a pedido, primeiramente, da minha tão querida, culta e cuidadosa mãe.
Todas as manhãs do mundo seriam minhas, porque só eu as sei fazer assim, e sei viver e principalmente esquecer, e muitas vezes fico perdida ao começar de novo. E nestas horas somos como a lenda, e a gente nem sequer existiu neste sopro de vida que chamamos "existência".
Todas as manhãs do mundo para mim. E para você e para cada uma das pessoas que habitam a Terra, sejam elas do meu agrado ou não, porque na verdade sempre me interesse apenas pelas pessoas charmosas e, quanto ao resto, não os considero maus - apenas não os considero charmosos e por isso não me são atraentes. Não tenho tempo a perder, pois me sou muito preciosa já que não durarei para sempre. Enquanto isso, corro para pegá-la e vivê-la: a manhã do mundo.
19 de abr. de 2015
O sopro do coração
O sopro do coração segue sua própria intuição e vive sua própria história.
O sopro do coração é leve como os ventos do sul que levam para o norte. Mora ao lado do número 2. Se parece com um papel de presente. Reside em uma caixinha no canto do armário. Olha pela janela de forma tímida. Alegra-se com as folhas secas que caem das árvores e avisam da renovação que se dará em breve.
O sopro do coração percorre as estradas que levam para longe. Não há importância alguma se há casas abandonadas ao redor porque, embora triste, ela bem que gosta desses locais vazios repletos de memória. O sopro do coração escreve-se em um caderno espiral pesado, pois ele é recheado dos assuntos importantes. E, enquanto disso, repara-se no decorrer dos dias.
O sopro do coração é como a primeira avenida asfaltada da América, em Motown. E como todas as outras tantas coisas que ela sabe e guarda em segredo sobre os lugares preciosos em que pisou. Em alguns, ela até morou e viveu. E mais: ela existiu. E alimentou com um sopro do coração.
Sopros ao coração são os moletons no frio, a gastura de andar de meia pela casa, as manhãs de sábado cheias de futuro, as caminhadas pelas ruas desertas de Budapeste, a mania de fazer voz para os cães como se eles falassem, o brilho em seus olhos ainda que escuros, aventurar-se por um ônibus da ex-URSS, e o riso gratuito ao fim do dia.
O sopro do coração pesa como uma luva leve ao tocar em suas mãos. Direciona a escrita. Parece uma luz ao fim do túnel. Soa como um plano do governo para melhorar a qualidade de vida - e isto tudo tem um nome tão mais bonito: welfare state. Enquanto isso, o dia vem caindo e a noite sobe como uma luz em direção ao infinito azul escuro que instala-se antes do anoitecer.
Já pensou em quantos dedos na mão tem aquela menina? E porque se sentiria presa, motionless e tantas outras coisas mais, nessa definição de palavras? Para que uma janela tão alta ao seu lado em uma hora nada conveniente como essa?
O sopro do coração deixou meus cabelos, sempre castanhos, presos e a brigar com o vento. Desenhei algo para então colorir, mas apaguei. Escrevi então um bilhete e coloquei inspiração. Cozinhei algo pois só o faco para a minha sobrevivência. Busquei o talento na gaveta da cozinha enquanto grifava poesia nos livros empoeirados mas sempre cheios de ternura. Observei as pessoas lá embaixo e fui arremetida por um pensamento. Tentei cantar uma música em minha cabeça, mas eu nunca me lembro da letra, apenas dos sons. Mordi a tampa da caneta, notei como os meus lábios estavam secos, lembrei-me de como adoro espirrar, e de como sempre descuido da minha saúde.
O sopro do coração envolveu-me em um abraço. Deixou seu cheiro e seu recado. Me fez recordar quem sou e ainda incitou a dúvida, como em uma página em branco em um dos meus vários cadernos. O sopro do coração é imenso e toma conta de mim como a saudade que sinto o tempo inteiro da minha irmã. As horas passam mas se houver tempo de prestar atenção, com muita sensibilidade nestes dias ocos, sente-se o sopro do coração.
O sopro do coração faz-me quem verdadeiramente sou.
O sopro do coração é leve como os ventos do sul que levam para o norte. Mora ao lado do número 2. Se parece com um papel de presente. Reside em uma caixinha no canto do armário. Olha pela janela de forma tímida. Alegra-se com as folhas secas que caem das árvores e avisam da renovação que se dará em breve.
O sopro do coração percorre as estradas que levam para longe. Não há importância alguma se há casas abandonadas ao redor porque, embora triste, ela bem que gosta desses locais vazios repletos de memória. O sopro do coração escreve-se em um caderno espiral pesado, pois ele é recheado dos assuntos importantes. E, enquanto disso, repara-se no decorrer dos dias.
O sopro do coração é como a primeira avenida asfaltada da América, em Motown. E como todas as outras tantas coisas que ela sabe e guarda em segredo sobre os lugares preciosos em que pisou. Em alguns, ela até morou e viveu. E mais: ela existiu. E alimentou com um sopro do coração.
Sopros ao coração são os moletons no frio, a gastura de andar de meia pela casa, as manhãs de sábado cheias de futuro, as caminhadas pelas ruas desertas de Budapeste, a mania de fazer voz para os cães como se eles falassem, o brilho em seus olhos ainda que escuros, aventurar-se por um ônibus da ex-URSS, e o riso gratuito ao fim do dia.
O sopro do coração pesa como uma luva leve ao tocar em suas mãos. Direciona a escrita. Parece uma luz ao fim do túnel. Soa como um plano do governo para melhorar a qualidade de vida - e isto tudo tem um nome tão mais bonito: welfare state. Enquanto isso, o dia vem caindo e a noite sobe como uma luz em direção ao infinito azul escuro que instala-se antes do anoitecer.
Já pensou em quantos dedos na mão tem aquela menina? E porque se sentiria presa, motionless e tantas outras coisas mais, nessa definição de palavras? Para que uma janela tão alta ao seu lado em uma hora nada conveniente como essa?
O sopro do coração deixou meus cabelos, sempre castanhos, presos e a brigar com o vento. Desenhei algo para então colorir, mas apaguei. Escrevi então um bilhete e coloquei inspiração. Cozinhei algo pois só o faco para a minha sobrevivência. Busquei o talento na gaveta da cozinha enquanto grifava poesia nos livros empoeirados mas sempre cheios de ternura. Observei as pessoas lá embaixo e fui arremetida por um pensamento. Tentei cantar uma música em minha cabeça, mas eu nunca me lembro da letra, apenas dos sons. Mordi a tampa da caneta, notei como os meus lábios estavam secos, lembrei-me de como adoro espirrar, e de como sempre descuido da minha saúde.
O sopro do coração envolveu-me em um abraço. Deixou seu cheiro e seu recado. Me fez recordar quem sou e ainda incitou a dúvida, como em uma página em branco em um dos meus vários cadernos. O sopro do coração é imenso e toma conta de mim como a saudade que sinto o tempo inteiro da minha irmã. As horas passam mas se houver tempo de prestar atenção, com muita sensibilidade nestes dias ocos, sente-se o sopro do coração.
O sopro do coração faz-me quem verdadeiramente sou.
6 de abr. de 2015
20 poucos anos esta noite
20 poucos anos esta noite foi o tempo que minha mãe me deu você. Me deu você como um presente, e me deixou escolher seu nome com tanto capricho e carinho.
20 e poucos anos foi tudo o que durou uma presença vivida, dessas como de filme de cinema, em que a pessoa está de pé ao seu lado. Estende-se a mão e se encosta nela. Esta noite.
E virão muito mais noites em que eu, parada ao pedestal de uma ponte sob o vento frio cortando o rosto e mexendo os cabelos, me perguntarei como escolher uma jaqueta azul sem a sua presença ao meu lado. Até minha mão parece com a sua, e como assim você está tão longe neste momento e em todos os outros que virão?
20 e poucos anos esta noite fazem que conheci você. Que a deixei tomar conta e espaço, que dividi o meu olhar contido. E todos os sonhos me foram embora como um sopro denso e breve. E a linha do tempo continuou reta até perder-se de vista. Onde tudo já era vivido, sobrou-se muita coisa: sobraram umas folhas de caderno em branco ainda nada escritas, os lugares interessantes em que viveu apenas por eu contar-te, as noites gélidas e quentes com muito amor, a exatidão dos minutos, a receita de um bolo, a letra escrita e toda trabalhada, a minha análise sob os centímetros, os nomes de filme com significado que me tocariam o coração e, claro, uma presilha de cabelo castanho meio curto, assim como você.
Todas as manhãs do tempo, e você não me está aqui. E me estou sozinha. E nem te chamo porque se te amei um dia você nunca irá-se embora. Neste momento, estou fazendo um uso exacerbado dos pronomes pessoais e possessivos porque, sem saber direito o que são, embora sejam. E encontro-me despida. Daí o uso frequente sem consultar gramatica alguma. Enquanto isso, o sol é o sol e o céu é azul no fundo.
20 poucos anos esta noite e tantas histórias ainda para se viver e outras tantas mais para se contar. O mundo é tão pequeno até que se dê uma volta no pólo norte. Sabe aquelas coisas que não lhe contei ainda, e os segredos que ainda nem percebi e as multidões paradas no ponto de ônibus? Sabe aquela mistura de cartões postais, os quais eu esqueci o nome? E a borda da bandeira marrom? Lembra-se dos grandes poetas no meio da noite? Sairão todos da minha boca pelos quatro cantos vazios onde ecoam-se os ecos e nada mais.
Há tanta coisa para se falar, para se dizer, para se calar e se entender. Há ainda tanta vida para ser vivida, e só tivemos 20 poucos anos esta noite. E todas as coisas que eu gostaria de lhe perguntar porque sei que jamais irei saber eu mesma? E toda aquela coisa de cientistas que você me conta de um jeito cor de rosa-shocking? As portas que batem, ainda que de vidro? E sobra um barulho ensurdecedor.
Lembro-me ainda dos poucos anos, em que éramos nada mais do que pequenas, e como eramos grandes. O tempo levou tudo isso para um esconderijo que é como uma caixinha de mãe, onde moram todas as ternuras do mundo.
20 poucos anos esta noite e eu ainda tenho o que me lamuriar, e sair para comer hambúrguer, e prometer nunca mais comer tanto só para deliciosamente ter esta promessa quebrada, contar os degraus de uma escada que significa tanta coisa na vida da gente, e ha também os livros que não lemos juntas e agora iremos ler em momentos separados. As letras de um alfabeto nórdico chegarão sempre com atraso e eu irei me perder toda, e ha ainda os caminhos molhados pela chuva. São apenas 20 poucos anos esta noite e ha tanto vivido e muito mais a se viver. Ha os momentos de uma juventude e a certeza de não saber. O jardins da biblioteca que poderia ser nosso refúgio, e as bandeirolas que caem sobre o parapeito da janela. O mergulho no azul marinho e o sorriso mais sincero da esquina dos charmes.
Oh, como é breve o tempo em que se vive perto, porque vive-se muito junto-separado, onde cá é sempre sol e verão, e lá é sempre outrora um inverno. Era uma vez um verão em nossas vidas, e o cheiro era tão bom que parecia outono. Tínhamos apenas 20 poucos anos e éramos irmãs tão diferentes mas parecidas, quase gêmeas. E éramos da mesma família e tínhamos juntas o gosto musical que você passou para mim. E tudo soou tão breve.
20 e poucos anos foi tudo o que durou uma presença vivida, dessas como de filme de cinema, em que a pessoa está de pé ao seu lado. Estende-se a mão e se encosta nela. Esta noite.
E virão muito mais noites em que eu, parada ao pedestal de uma ponte sob o vento frio cortando o rosto e mexendo os cabelos, me perguntarei como escolher uma jaqueta azul sem a sua presença ao meu lado. Até minha mão parece com a sua, e como assim você está tão longe neste momento e em todos os outros que virão?
20 e poucos anos esta noite fazem que conheci você. Que a deixei tomar conta e espaço, que dividi o meu olhar contido. E todos os sonhos me foram embora como um sopro denso e breve. E a linha do tempo continuou reta até perder-se de vista. Onde tudo já era vivido, sobrou-se muita coisa: sobraram umas folhas de caderno em branco ainda nada escritas, os lugares interessantes em que viveu apenas por eu contar-te, as noites gélidas e quentes com muito amor, a exatidão dos minutos, a receita de um bolo, a letra escrita e toda trabalhada, a minha análise sob os centímetros, os nomes de filme com significado que me tocariam o coração e, claro, uma presilha de cabelo castanho meio curto, assim como você.
Todas as manhãs do tempo, e você não me está aqui. E me estou sozinha. E nem te chamo porque se te amei um dia você nunca irá-se embora. Neste momento, estou fazendo um uso exacerbado dos pronomes pessoais e possessivos porque, sem saber direito o que são, embora sejam. E encontro-me despida. Daí o uso frequente sem consultar gramatica alguma. Enquanto isso, o sol é o sol e o céu é azul no fundo.
20 poucos anos esta noite e tantas histórias ainda para se viver e outras tantas mais para se contar. O mundo é tão pequeno até que se dê uma volta no pólo norte. Sabe aquelas coisas que não lhe contei ainda, e os segredos que ainda nem percebi e as multidões paradas no ponto de ônibus? Sabe aquela mistura de cartões postais, os quais eu esqueci o nome? E a borda da bandeira marrom? Lembra-se dos grandes poetas no meio da noite? Sairão todos da minha boca pelos quatro cantos vazios onde ecoam-se os ecos e nada mais.
Há tanta coisa para se falar, para se dizer, para se calar e se entender. Há ainda tanta vida para ser vivida, e só tivemos 20 poucos anos esta noite. E todas as coisas que eu gostaria de lhe perguntar porque sei que jamais irei saber eu mesma? E toda aquela coisa de cientistas que você me conta de um jeito cor de rosa-shocking? As portas que batem, ainda que de vidro? E sobra um barulho ensurdecedor.
Lembro-me ainda dos poucos anos, em que éramos nada mais do que pequenas, e como eramos grandes. O tempo levou tudo isso para um esconderijo que é como uma caixinha de mãe, onde moram todas as ternuras do mundo.
20 poucos anos esta noite e eu ainda tenho o que me lamuriar, e sair para comer hambúrguer, e prometer nunca mais comer tanto só para deliciosamente ter esta promessa quebrada, contar os degraus de uma escada que significa tanta coisa na vida da gente, e ha também os livros que não lemos juntas e agora iremos ler em momentos separados. As letras de um alfabeto nórdico chegarão sempre com atraso e eu irei me perder toda, e ha ainda os caminhos molhados pela chuva. São apenas 20 poucos anos esta noite e ha tanto vivido e muito mais a se viver. Ha os momentos de uma juventude e a certeza de não saber. O jardins da biblioteca que poderia ser nosso refúgio, e as bandeirolas que caem sobre o parapeito da janela. O mergulho no azul marinho e o sorriso mais sincero da esquina dos charmes.
Oh, como é breve o tempo em que se vive perto, porque vive-se muito junto-separado, onde cá é sempre sol e verão, e lá é sempre outrora um inverno. Era uma vez um verão em nossas vidas, e o cheiro era tão bom que parecia outono. Tínhamos apenas 20 poucos anos e éramos irmãs tão diferentes mas parecidas, quase gêmeas. E éramos da mesma família e tínhamos juntas o gosto musical que você passou para mim. E tudo soou tão breve.
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