Lá vai ela: a menina que você não vê:
a menina anda com sapatinhos azuis e, ao longo do dia, pensa em como eles incomodam. A menina-mulher. A menina que anda sempre com um livro na mão. O que ela lê neste exato momento. E outro na bolsa. E outro na porta do carro. E outro na outra porta do carro. Anda, enquanto sente saudades dos que deixou no móvel ao lado da cama quando foi dormir. E os outros muitos na nova estante que comprou.
Lá anda a menina que você não vê: vira esquinas e cruza ruas, passa em frente igrejas, propositalmente, pois sempre admirou os edifícios religiosos. A menina, menininha, passa em frente ao parque e vê infância, passa em beco escuro e lembra de uma tinta a óleo, passa em frente a banca e pensa em quanta revista inútil poderia ser usada para limpar-se vidros, passa no passeio estreito e nota as janelas detalhadas. E enquanto isso, o dia passa, a Terra gira e o tempo se afasta.
Por lá perambula a menina que você não vê: nas terras de longe, lá do outro lado do oceano, bem mais perto de onde você ficou. Anda para cima e para baixo, pisando incansavelmente em caminhos de grama. Pensava ela que as trilhas de terra eram resultados da guerra. E tocava paredes, esperando sentir o sentimento que um dia houve ali. Ah, a história! O que seria do mundo se não fosse a história? O mundo nem existiria, oras! Ou quem será que contaria a sua história?
A menina que anda, anda de tranças. Os cabelos sempre longos, soltos ao vento, e a alma trançada em postes de luz que foram instalados em becos. Como era sortuda, e deveria agradecer ao governo incompetente.
E agora, pensando eu, estava a menina a dar voltas e voltas sem chegar a lugar nenhum. E isso, sem sair do lugar. Porque isto tudo de agora só acontece aqui mesmo: em tela branca. Como era bom criar histórias para preencher lacunas do coração enquanto nota-se tijolos faltando em um muro pichado. Enquanto isso, tomava o caminho de volta para casa, saía de sua imaginação e voltava para sua mente, enquanto fechava a porta ao chegar.
9 de jul. de 2013
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