Estava a correr em campos de trigo ou a caminhar por entre ruelas da cidade de cimento?
Ela, que sempre adiava a vida; ela, que num momento de inspiracao tremia; ela, que percebia sem olhar - estava ela fazendo a coisa certa?
E, enquanto escrevia isso, perguntava-se o que era certo, sabendo que so ela mesma poderia responder a si.
E todos os dias chegavam assim: com aquele portao em cor desbotada que ela notava e perguntava-se por que, com as musicas que ficou de escutar, com os numeros que prometeu lembrar, com os inumeros papeis que colecionou e nunca deu a devida atencao, com bugingangas que se amontoavam em bolsas, com seu amor por chuveiros, por girassois que nunca viu nem ligou, por roupas que ela sabia que iria arrepender-se em comprar mas mesmo assim o fazia, com o pensamento no qual pensaria depois, com o anel no dedo que ela usava mais como fuga para distracao, com sua colecao de relogios de horas paradas, com seus suspiros soltos e guardados, com sua memoria fazendo-se valer, com a imagem que carimba o coracao, com o cheiro de comida barata, com passos rapidos e leves, com guarda-chuvas que nunca quis usar.
Essa era ela, ainda que nao se conhecesse. E por ai vagava, fosse campo ou rua em meio ao cimento - sendo cimento essa mesma.
13 de nov. de 2012
11 de nov. de 2012
Porque estava distraida
Porque estava distraida, flores nasceram, janelas ficaram com marcas da chuva, cimento rachou. E, enquanto isso, degraus ela subiu, ventos viu passar, cheiros vieram com ela esbarrar, livros segurou na mao firme mas suave. Usou as pernas para caminhar. Foi aonde nao havia pensado existir. Chegou ate la. Por la morou, e ficou, e nao se foi. Reparou nas persianas, aprendeu a mexer na maquina, reclamou da poeira das escadas e se perguntou para que existiam basculantes.
Porque estava distraida, nem viu carro passar. Andou pelo passeio cheio de neve, se equilibrando porque gostava de aventura. Na esquina havia um posto, nas ruas haviam casas abandonadas que poderiam ser chamadas, todas elas, de "dela". A distracao invadiu a loja de conveniencias, a fez questionar-se porque so vendiam bobagens, pulou a maquina de cafe porque pensou que era chato. Cafe so tomava para acordar e estudar. E nunca mais.
Distraida, deixou-o entrar. Distraida, deixou-se entrar. Distraida, sentou de costas mas permitiu, sem nem perceber, sua voz entrar nos seus ouvidos e ficar ali. Distraida. Ela sempre estava distraida, embora sempre prestasse atencao em voce, em nos dois.
Porque a distracao fazia parte do seu dia, e seus dias faziam sua vida, comeu hamburguer e batata frita e desligou-se da sua saude. Queria mais eh viver. As vezes corria, desejando ficar perdida. As vezes cansava e preferia ficar em casa tomando cappuccino, olhando da janela e, no meio daquela neve toda tao branca, ve-lo chegar - radiante, tao branco, como a luz do dia na noite, como a sua luz, como estrela guia, como cometa. Ela gostava de cometa. E o chamava, assim, de seu.
Porque estava distraida fez amigos que amou, guardou-os nas caixinhas decoradas que ficam em seu coracao, cuidou para nao empoeirar, encheu de beijos e pensamentos bons. Porque distraida sempre era, tentou ficar atenta, tentou gravar poema, tentou ate mesmo estudar. E viu que o que mais vale a pena, na vida, na vida inteirinha, eh a vida que ela leva. Vai ver por isso quis te levar nela.
Quando estava distraida, e porque sempre estivera, sempre esta. Estara. Quem sabe a sua espera, como naquela vez no supermercado. Quem sabe so porque valia um sorvete. Quem sabe so porque deixou-se amar. Quem sabe ... so porque estava distraida.
Porque estava distraida, nem viu carro passar. Andou pelo passeio cheio de neve, se equilibrando porque gostava de aventura. Na esquina havia um posto, nas ruas haviam casas abandonadas que poderiam ser chamadas, todas elas, de "dela". A distracao invadiu a loja de conveniencias, a fez questionar-se porque so vendiam bobagens, pulou a maquina de cafe porque pensou que era chato. Cafe so tomava para acordar e estudar. E nunca mais.
Distraida, deixou-o entrar. Distraida, deixou-se entrar. Distraida, sentou de costas mas permitiu, sem nem perceber, sua voz entrar nos seus ouvidos e ficar ali. Distraida. Ela sempre estava distraida, embora sempre prestasse atencao em voce, em nos dois.
Porque a distracao fazia parte do seu dia, e seus dias faziam sua vida, comeu hamburguer e batata frita e desligou-se da sua saude. Queria mais eh viver. As vezes corria, desejando ficar perdida. As vezes cansava e preferia ficar em casa tomando cappuccino, olhando da janela e, no meio daquela neve toda tao branca, ve-lo chegar - radiante, tao branco, como a luz do dia na noite, como a sua luz, como estrela guia, como cometa. Ela gostava de cometa. E o chamava, assim, de seu.
Porque estava distraida fez amigos que amou, guardou-os nas caixinhas decoradas que ficam em seu coracao, cuidou para nao empoeirar, encheu de beijos e pensamentos bons. Porque distraida sempre era, tentou ficar atenta, tentou gravar poema, tentou ate mesmo estudar. E viu que o que mais vale a pena, na vida, na vida inteirinha, eh a vida que ela leva. Vai ver por isso quis te levar nela.
Quando estava distraida, e porque sempre estivera, sempre esta. Estara. Quem sabe a sua espera, como naquela vez no supermercado. Quem sabe so porque valia um sorvete. Quem sabe so porque deixou-se amar. Quem sabe ... so porque estava distraida.
30 de out. de 2012
Hoje eu so quero
Eu estou cercada de gente idiota. Eu so quero um livro, um cafe com ingredientes que aumentem o colesterol, meu marcador de texto de cor fashion, meu rabo de cavalo alto, meu chinelo sem marca, meus quilos perdidos, minha inocencia de crianca, meu pensamento no sorvete que se aproxima, uma escada para a saida de emergencia, um chao coberto por carpete que me leva ao lugar em que estudo, e meu pensamento em voce.
E pode vir muito mais - do que eu quero.
E pode vir muito mais - do que eu quero.
27 de out. de 2012
O dia de Hoje
O dia de hoje eu dedico aqueles que sao. Simplesmente sao. Como no quote, como na escrita, como no livro de cabeceira, como na faculdade, como no primeiro beijo, como no date apos a aula, como nas maos dadas que a gente dava.
De algum modo o dia de hoje ja existia antes de nascer. De algum modo o dia de hoje sempre sera. Como as suas pessoas o sao.
Ao todo sao tres, contando eu. Mas, como o numero dois sou eu, vou contar ela e ele, e guarda-los no coracao.
Vida, obrigada pelo dia de hoje e pelas pessoas que fizerem-o ser o que eh.
De algum modo o dia de hoje ja existia antes de nascer. De algum modo o dia de hoje sempre sera. Como as suas pessoas o sao.
Ao todo sao tres, contando eu. Mas, como o numero dois sou eu, vou contar ela e ele, e guarda-los no coracao.
Vida, obrigada pelo dia de hoje e pelas pessoas que fizerem-o ser o que eh.
15 de set. de 2012
Abracos de rapunzel
Esta semana voce veio ao meu encontro. Foi com um ar doce de menina agradecida que olhei para o ceu pela janela aberta que um dia enfeitou os corredores por onde cortamos caminhos para nos encontrar.
A primeira, a segunda, a terceira vez - sendo que esta ultima, para mim, e' a que mais importa. Porque foi o que ficou. O que ficou de mais suave, com mais melodia, com o mais longo toque. O do seu abraco, envolto aos seus cabelos.
Como quem diz adeus, eu cheguei ate voce. Cortei matas, florestas, rios e praias do Rio de Janeiro, onde os surfistas passam e eu nao ligo a minima. Meus olhos estao voltados para dentro de mim, que e' onde mora voce. Que e' onde eu te decidi guardar. E, ao chegar, pulei em uma piscina e, por mais que tentassem me impedir de tocar na aura azul que envolve o ser humano, e quem sabe mais do que humano, que voce e', eu consegui. Voce veio ate mim e me deu o seu abraco. E eu me envolvi nele. E me entranhei em seus cabelos.
E entao me perdi, porque foi la que um dia eu me encontrei.
A primeira, a segunda, a terceira vez - sendo que esta ultima, para mim, e' a que mais importa. Porque foi o que ficou. O que ficou de mais suave, com mais melodia, com o mais longo toque. O do seu abraco, envolto aos seus cabelos.
Como quem diz adeus, eu cheguei ate voce. Cortei matas, florestas, rios e praias do Rio de Janeiro, onde os surfistas passam e eu nao ligo a minima. Meus olhos estao voltados para dentro de mim, que e' onde mora voce. Que e' onde eu te decidi guardar. E, ao chegar, pulei em uma piscina e, por mais que tentassem me impedir de tocar na aura azul que envolve o ser humano, e quem sabe mais do que humano, que voce e', eu consegui. Voce veio ate mim e me deu o seu abraco. E eu me envolvi nele. E me entranhei em seus cabelos.
E entao me perdi, porque foi la que um dia eu me encontrei.
10 de ago. de 2012
Pensamentos de uma semana
Finalmente chegou a semana que se parece com um dia. E ela já passou. Um dia na vida. Um dia na minha vida. Um dia na vida de quem sou. Sou eu agora.
Nas horas que formaram os dias que se tornaram essa semana que mais pareceu um dia na vida da gente, peguei muito ônibus e realmente olhei da janela. Olhei para notar. Ao passar por aqueles prédios feios do centro, pensei no que poderia haver ali dentro. Viajei sem sair do lugar, enquanto o ônibus andava. “Eu sempre gostei de andar de ônibus”, repetia eu mesma para mim enquanto as ruas chegavam.
Nesse dia, que na verdade foi uma semana, nunca visitei tanto médico. E até por um momento pensei que em uma vida eu até seria médica só para não ser tudo o que eles são. Mas eu não estava ali para dar lição, só mesmo para ignorar revistas em consultórios, reparar em como conversa a secretária, duvidar do gosto da decoração e ler meu livro que eu enfiei na bolsa e não tirei mais.
Sim, minha semana foi marcada por médicos, o que me fez sentir-se cuidada. Isso é um engano bom, um engano consolador. E eu meio que me acreditei.
Essa semana li muitas páginas que escreverão futuro. Esqueci, ou não lembrei, do que sempre invade a minha mente porque nunca deixou de habitar meu coração. Senti saudade do amigo, com o coração apertado. Mas depois passou, sem nunca sair daqui de dentro de mim. Falei com ele por vídeo, o que me fez reparar em como ele se parece com o Jim Morrison. Até na cor dos cabelos grandes e barba, castanhos de um jeito que eu sempre achei sem graça – agora, nem tanto.
Essa semana andei reparando tanto. Mas sem alma de artista. Assim, só por olhar. Não me preocupei com a cor descascando, com o azulejo quebrado que nunca combinou, com a pilastra que não deveria estar ali, e nem notei na arquitetura. Eu fui mais foi só olhando...
Essa semana deixei tudo que há em mim sair só para ver o que eu sou mesmo. Mas os livros, esses eu nunca os deixei. Ainda que os colocassem na estante, ou ao lado de minha cama, só para eu saber que estão ali. Às vezes, tudo o que a gente precisa é saber e mais nada. E mais nada porque qualquer outra coisa seria supérfluo.
Essa semana, que foi composta por médicos, foi tão sem graça que ficou leve. Vai ver eu me perdi, saí de mim mesma para ser outra. Médicos são números, são fatos e nunca reticências. Por isso o porquê dessa semana, desse texto sem poesia, tão obvio, simplista e sem graça. Todo nu.
4 de ago. de 2012
Em jogo de defesa e acusação
Me peguei te defendendo: defendendo os seus olhos, seu nariz e quase cheguei à sua boca. Te defendi em um dia de hoje, quando minha irmã falava que o outro, que também é esse, era mais bonito. E como poderia, logo eu, tomar partido? Não seria mais político – quem sabe ético – me manter neutra, guardar palavras e quem sabe concordar que sim? Concordar que dois? E que um mais um são dois e que assim são você e ele?
Você e ele.
Hoje me peguei te defendendo. Tive que viajar sobre cada detalhe do seu corpo, para me lembrar que existe você. Lembrar que existe o que já está aqui, pois eu nunca me esqueci. E fui lembrando com sorrisos – não só a cor dos olhos mas também o tom. E fui me apegando aos detalhes. E fui colocando carinho. E me peguei – sim, e me peguei. E então encontrei-me me policiando. E no fim concordei com minha irmã, que acha o outro mais bonito – o outro, que também e esse, pois escreveu palavras de amor no meu caderno chamado Vida – e concordei comigo também, que acho você. Tá bom? Sim, você já sabia? Já sabia, se não esqueceu...
E no fim me alertei, cruzei as pernas, disse a ela, à minha irmã, que não falasse de você e que não me obrigasse a te defender. E virei para frente, pois estava meio de lado.
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