Algo errado não está certo: eu já saberia pela temperatura lá fora, pela neblina que embaça a janela do meu carro enquanto dirijo para lugar nenhum. Gosto mesmo é de ficar dirigindo, sem destino - estou me dissipando.
Alguma coisa errada não está certa, e isto sou eu quem estou falando. Falo quando não digo. Quando quero dizer, escrevo.
Algo errado não está certo e já havíamos chegado a essa conclusão no ano da copa do mundo - ele, o amigo, e eu. E o que tínhamos em comum. Sim, nós mesmos, se é o que você pensa. E o que tínhamos em comum era isso: você. Nós dois fomos um dia seus amigos...
Ei, algo errado não está certo: já dizia o meu coração, que não fala, mas assopra.
Algo, esse algo, e então escrevo na última folha do caderno, aquela escondida. Ultimamente, pago para ouvirem o assunto: é o que chamamos de "terapia" - só um bem entendido do assunto para te entender, ligar os pontos e me convencer.
Divago como se não houvesse amanhã porque, quando o amanhã chega, chamamo-o de hoje -- eu, definitivamente, não sei conjugar verbo e caminharei assim: sem dominar meu próprio idioma, que me domina e me obriga escrever.
Certo não é errado, mas o certo e o errado foram criados. Salva aquele que estuda antropologia e emprega o relativismo a seu favor: tudo é relativo, mas insisto: algo errado não está certo. E dessa vez não usei meu cérebro, do qual sempre faço uso, mas ouvi Eu. Eu, que moro aqui dentro de mim.
Eu, que sou. Enquanto o errado não é o certo.
Algo errado não está certo e a sensação é que apunhalaram a minha mão. Fecharam meus olhos para as belezas que restavam. Taparam a minha boca e perdi o som do seu nome. Meus ouvidos nunca mais vão ouvir a gentileza que é você...
Hey, você: algo errado não está certo.
9 de jul. de 2017
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