Eram os sábados de manhã. E também as vésperas de sábado. E até o dia depois, que tinha resquícios sabáticos. Sábado era o sétimo dia, mas para mim era sempre o primeiro, ou, quem sabe, o último: qualquer uma dessas colocações o fariam único. Afinal, sete de sábado era também um número primo.
Dessa vez o céu está de um azul escuro, e eu já reparei, com esses meus olhos tão detalhistas a encarar o mundo, que no inverno o azul do céu se impregna mais de si: vívido, como se gritasse que está ali.
If today be sweet, dirijo meu carro cujas portas são depósitos de livros. Só hoje, sábado, comprei cinco. Estaciono num lugar feito só para mim naquele momento, numa sombra que surgiu nem sei de onde e, a passos largos, entro num cinema para assistir filme francês. Todo sábado que é meu é assim.
Se hoje é doce, gravo em um lugar qualquer (alma, coração, mente, caderno, diário ... não importa onde, mas sei que irei sempre lembrar) um senhor de cabelo branco, médico, cuja palestra assisti (eu adoro aprender): o que mais me chamou atenção, além de suas viagens e assertividade, era como falava dos livros. "Aquele livro que li" ou "este livro que estou lendo" e aí nos passava o nome. Aquilo para mim era a mais pura expressão de esperança no mundo. Era como um amor à vida. Era como nunca ter medo de acabar. Em seus, sei lá, oitenta anos, ele ainda lia livros como se não fosse morrer. Será que ficava ansioso para ler o máximo possível já que os dias estavam prestes a acabar? Aquilo sim era a doçura do mundo.
A doçura do mundo... ela apareceu me acenando ali na esquina. Estou sempre distraída com o detalhe dos sons da música no carro, ou observando o ângulo de um prédio se eu tivesse feito arquitetura, ou enxergando a poesia que quiseram apagar. Estou sempre distraída, mas às vezes paro e penso - ou melhor, sinto.
Fui ao supermercado e no caminho havia um vento frio tão meu - eu não poderia ter ficado mais feliz. Comprei sete pães de queijo que, pelas minhas contas, saíram a menos de 30 centavos cada um, e eu pensei como que a vida parecia um milagre incrível. Enquanto isso, no caixa, eu olhava para o outro lado da rua onde havia uma farmácia: ah, quanta possibilidade! Quanta poesia! (acho que estou muito sensível neste momento, como que aberta para o mundo dizer-me e para expressar-me a mim que sou).
O moço da livraria respondeu a minha mensagem hoje de manhã: Eichamann em Jerusalém tinha. O outro livro, não. Mas então eu fui em outro canto abençoado do mundo, as tais livrarias, e encontrei o livro que queria e mais quatro. Sim, hoje foram cinco.
Sábado é a doçura do mundo. É quando o gosto da vida sai doce parecendo salgado. É quando não há culpa e há entrega. É quando somos nós mesmos do nascer ao pôr do sol. É o dia em que se escolhe fazer o que quiser. É como alguém pegando na nossa mão nessa caminhada. É sempre de dia e, quando chega a noite, tudo se renova e se faz novo de novo.
A doçura do mundo.
If today be sweet...
24 de jun. de 2017
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário