A posteridade nos julgará no dia em que ela for embora. E enquanto viver. E também no dia em que ela voltar, julgará.
A posteridade tem unhas e dentes. Tem olhos oblíquos. Tem traços familiares e descende de uma família. É posterior, mas nunca em cima, ainda que sobre - sobre a cabeça de todos nós.
A posteridade nos julgará e, neste dia, nos olharemos com vistas desconcertadas. Dá vontade de correr e sentar no sofá. Balançar os pés como uma criança sem sombras de dúvida. Ver o carro entrar na garagem.
O dia em que a posteridade nos julgará é agora. Está sendo neste momento. E foi também no momento anterior, e no posterior, e no seguinte. Parece que não tem tempo: dura o dia inteiro. Parece que não tem duração: mal acaba, já começou de novo.
A posteridade é como andar em círculos. É como nos pegar pelas mãos, mas nunca para guiar. É um entardecer frio de tão quente, e eu preferiria que fosse menos 20 graus. Eu estaria no lugar certo, e não haveria posteridade, nem anterioridade, nem invenção de palavra nenhuma, nem descrição das relações que os humanos deveriam ter, nem o modo como vivem os dias, nem os pensamentos que lhes passam pela cabeça: porque só haveria tempo para ser e viver.
Um dia a posteridade nos julgará, e eu a olharei de frente.
18 de abr. de 2017
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